Pesquisadores do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP mapearam, pelo menos, 2 mil sítios arqueológicos indígenas no Estado de São Paulo.
No interior, a região de Piracicaba, que atualmente tem cerca de 90 destes locais, é considerada uma área com alto potencial para a descoberta de novas evidências da presença dos povos originários ao longo da história.
A pesquisa deu origem a um mapa interativo no qual o usuário pode ter uma visão espacial das diversas áreas ocupadas pelos indígenas no território paulista; clique aqui para acessar.
As áreas foram mapeadas a partir das diversas manifestações culturais que os indígenas deixaram na região. Essas manifestações, por sua vez, são alvo dos estudos dos pesquisadores do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas em Evolução, Cultura e Meio Ambiente (Levoc) do MAE.
Em outras palavras, os pesquisadores do Levoc estudam sítios arqueológicos indígenas identificados por meio de artefatos que foram encontrados na região. Um dos integrantes do grupo é a historiadora formada pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) Letícia Cristina Côrrea, mestre e doutora em arqueologia pela USP.
Ela pesquisa sítios arqueológicos líticos, ou seja: os objetos históricos que ela estuda são feitas de pedra lascada.
"Essas manifestações culturais indígenas, na verdade, são as maneiras que a gente tem de identificar esses grupos indígenas pelo registro arqueológico. Então, são ferramentas de pedra lascada, que são os artefatos líticos e os artefatos cerâmicos, que aí tem a tradição tupi-guarani, Kaingangs, entre outros", diz Letícia.
Os detalhes de como o mapa foi elaborado, como utilizá-lo, a importância de sua disponibilização online, bem como o porquê a região de Piracicaba ser considerada promissora pela pesquisadora estão logo abaixo nesta reportagem, dividida em 6️⃣ tópicos.
Nesta matéria, você vai ver:
- O que é um sítio arqueológico?
- Da planilha para o mapa
- Como ler o mapa?
- 'Hotspot' em Piracicaba
- Da arqueologia para a internet
- Mapa 'sem fronteiras'
O que é um sítio arqueológico?
Um sítio arqueológico é um local onde foram encontrados vestígios de ocupação humana, seja ela antiga ou não. Para ser categorizado como sítio arqueológico, é preciso comprovar que aquele local tem importância científica para a compreensão da história da humanidade.
Os vestígios encontrados em um sítio arqueológico possibilitam que os arqueólogos — os profissionais que estudam esses sítios e investigam culturas e civilizações antigas por meio dos "rastros" deixados por uma sociedade — identifiquem quais grupos culturais ocuparam aquele lugar.
Um exemplo para facilitar a visualização são as pirâmides do Egito. Também é importante destacar que um mesmo sítio arqueológico pode ter sido ocupado por mais de um grupo cultural ao longo do tempo.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), existem pelo menos 20 mil sítios arqueológicos em todo o Brasil.
Mas, atenção: eles não são, necessariamente, locais turísticos. Sítios arqueológicos, como explica a historiadora Letícia, são bens da União. Se eles não estiverem dentro de um parque ou ter se tornado um local próprio para receber turistas, a visitação é proibida, até porque a maioria deles está em áreas privadas.
"Se as pessoas vão nesses locais e pegam material arqueológico para levar para casa, elas só atrapalham a pesquisa, o trabalho do arqueólogo. Então, que fique claro que, embora a gente tenha feito esse mapeamento, em nenhum momento a gente passa a referência de onde está o sítio arqueológico", alerta a pesquisadora.
Da planilha para o mapa
O mapa interativo lançado pelo Levoc é um dos resultados obtidos pelo projeto temático "A ocupação humana do Sudeste da América do Sul ao longo do Holoceno: uma abordagem interdisciplinar, multiescalar e diacrônica", financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
De acordo com a USP, o objetivo do projeto é analisar os processos relacionados à ocupação, sucessão e convivência dos primeiros grupos humanos que chegaram às Américas, mais especificamente, no sudeste brasileiro, região que abrange os territórios do Estado de São Paulo e Paraná, desde 11 mil anos atrás.
Sua primeira versão, que abrange o Estado de São Paulo, foi baseada em um levantamento feito a partir de teses, artigos, relatórios e informações coletadas no Iphan e na biblioteca do MAE.
O mapa interativo também é resultado da colaboração entre os pesquisadores, já que foi a partir dos dados levantados pelas pesquisas de cada um dos integrantes do projeto da USP o mapeamento estadual foi feito.
"Tudo começou com uma grande tabela no Excel, uma planilha, um compilado de banco de dados", conta Letícia. "Eles [outros integrantes do grupo] desenvolveram o site lá no domínio da USP e transformaram essa tabela neste site que todo mundo pode acessar".
Como o banco de dados foi transformado em um mapa? Os pesquisadores utilizaram coordenadas de localização disponíveis em aparelhos de GPS para indicar o local do sítio arqueológico registrado. Nos mais antigos, onde a localização não é precisa, o grupo de pesquisa optou por fornecer as coordenadas do centro do município onde ele está localizado.
Como ler o mapa?
Cada símbolo do mapa representa um grupo indígena específico, e em conjunto, esses símbolos mostram a dispersão dos sítios arqueológicos e das diferentes culturas indígenas em todo o Estado de São Paulo.
Em outras palavras: os triângulos pretos, por exemplo, indicam que naquele local foram encontrados vestígios de determinada cultura indígena. Já os vermelhos, indicam que os registros ali pertencem à outro grupo, e assim sucessivamente.
Por Bárbara Marques
Piracicaba e Região - EPTV