Instalado no prédio do InovaUSP, o "C4AI" é voltado a pesquisas com foco em recursos naturais, saúde, agronegócio, ambiente e setor financeiro
USP, IBM e Fapesp estão dando início hoje (13) às atividades do Centro de Inteligência Artificial (C4AI) do Brasil, dedicado ao desenvolvimento de estudos e à pesquisa de ponta em IA. O novo centro está abrigado no prédio do Centro de Pesquisa e Inovação InovaUSP, localizado na Cidade Universitária, em São Paulo.
Segundo a IBM, o C4AI terá foco inicial em cinco grandes desafios, relacionados à saúde, meio ambiente, cadeia de produção de alimentos, futuro do trabalho e esenvolvimento de tecnologias de processamento de linguagem natural em português.
O centro terá também uma segunda unidade para capacitar estudantes e profissionais, a ser instalado no Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação (ICMC), no campus da USP em São Carlos, a 230 km da capital paulista.
“Estamos criando um ecossistema que engloba os setores produtivo, acadêmico e de inovação para que o valor real da inteligência artificial aumente a experiência e habilidades dos talentos humanos, colocando a tecnologia a serviço de governos, cidadãos e negócios em diversos setores da economia", diz Tonny Martins, gerente geral da IBM Brasil.
"É a realização de um projeto estratégico da USP, que considera a área de inteligência artificial obrigatória para acompanhar e participar dos desenvolvimentos que dominarão, com suas múltiplas aplicações, a sociedade moderna. Que isso seja apenas o começo de grandes transformações”, comenta o pró-reitor de Pesquisa da universidade, Sylvio Canuto.
"A área de inteligência artificial é um infinito de possibilidades. Neste momento de intenso combate contra a covid, estamos tendo análises de milhares de moléculas, análises teóricas de potenciais vacinas, análises de centenas de milhões de dados, tudo com o apoio de IA, gerando mais efetividade e diminuindo o tempo para soluções corretas. A parceria com uma empresa como a IBM é um marco em uma área estratégica para o futuro", afirma o diretor científico da Fapesp, Luiz Eugênio Mello.
Os cinco desafios
• AgriBio - Essa linha de estudo irá focar em modelos de causa e efeito para cadeias de produção de agricultura, em especial a de pequenos produtores. O objetivo será utilizar modelos de correlação avançados para a tomada de decisão baseada na causa e efeito, abordando muitas fontes de preocupações, como desperdício de água e alimento.
• KEML (Knowledge-Enhanced Machine Learning) - Combinando aprendizado baseado em dados e raciocínio baseado em conhecimento, o Blue Amazônia Brain (BLAB), como o projeto está sendo chamado, pretende abordar perguntas complexas sobre a Amazônia Azul, vasta região do oceano Atlântico na costa brasileira rica em biodiversidade e recursos energéticos.
O BLAB trabalhará com sistemas de conversa compostos por argumentos, causas, explicações, raciocínios e planos sobre tarefas específicas, trazendo respostas às perguntas mais diversas sobre o ecossistema marinho, como “o que causou o aparecimento de manchas de óleo na costa nordeste do Brasil?".
• Modelamento de AVCs para melhorar diagnósticos, tratamento e reabilitação. Nesta frente de estudo, serão abordadas duas questões de grande importância: como integrar e selecionar recursos médicos relevantes (biomarcadores) de fontes heterogêneas e dinâmicas em grande escala e como interpretar decisões tomadas por algoritmos de aprendizado de máquina integrando inteligência humana e artificial.
A primeira fase do estudo terá duas frentes de pesquisa. Uma com o objetivo de melhorar o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação de pacientes de acidente vascular cerebral (AVC), com técnicas de análise de redes complexas em dados multimodais. E, a segunda, com foco em investigar formas de melhorar a escolha de protocolos de reabilitação em casos de AVC, “o que trará uma importante contribuição social”.
• IA em países emergentes: políticas públicas e o futuro do trabalho. Essa frente de estudo vai envolver diversas áreas de humanas da USP, como economia, história, sociologia e ciências sociais, para mapeamento, compreensão e abordagem do impacto da IA em economias como a do Brasil. Existe um consenso significativo de que, no campo da IA, os países emergentes estão atrasados em relação aos países pioneiros, em particular, os EUA e a China.
Inicialmente, o C4AI focará em pesquisas relacionadas às políticas públicas para a inteligência artificial e à coleta e análise de dados sobre impacto da IA nos empregos e no futuro do trabalho.
• PLN (Processamento de Linguagem Natural) de última geração para o português. O objetivo será habilitar o processamento de linguagem natural de alto nível para o português do Brasil, assim como já existe para outros idiomas, possibilitando sua melhor aplicação nas atuais demandas da sociedade, como aprimorar os serviços de atendimento ao cliente, o treinamento de assistentes virtuais e o monitoramento de redes sociais.
Comitês de acompanhamento
O Centro de Inteligência Artificial terá três comitês distintos para fomentar temas de interesse comum da sociedade, relacionados à ciência, indústria e sociedade:
• Um comitê científico internacional, que terá como função avaliar o progresso científico do centro;
• Um comitê de indústria e sociedade, com a participação de representantes de empresas, órgãos públicos e sociedade civil;
• Um comitê de diversidade e inclusão, cuja função será promover e aumentar a participação de mulheres, afrodescendentes e outros membros da sociedade para que haja participação mais inclusiva no setor de IA, tanto na academia quanto na indústria.