O diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, recebeu, no dia 21 de fevereiro, a medalha "Armando de Salles Oliveira", da Universidade de São Paulo (USP).
A medalha, instituída em 2008, é a mais alta honraria concedida pela USP e tem a finalidade de homenagear pessoas, entidades e organizações - nacionais ou estrangeiras - que contribuíram de modo excepcional e decisivo para a valorização institucional, cultural, social e acadêmica da universidade paulista.
A condecoração leva o nome do governador do Estado de São Paulo que assinou, em 1934, o decreto de criação da USP. "A USP, em nome de todos os seus dirigentes, se sente honrada em conceder esta medalha ao professor Carlos Henrique de Brito Cruz", disse João Grandino Rodas, reitor da USP, durante a cerimônia de entrega da honraria, realizada na Reitoria da universidade.
Brito Cruz foi saudado, em nome do Conselho Universitário da USP, pelo professor Sérgio França Adorno de Abreu, diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Abreu destacou a trajetória acadêmica, científica e de gestão da ciência, tecnologia e inovação de Brito Cruz, "que tem interpretado com sabedoria e sagacidade os desígnios da FAPESP".
"O professor Brito Cruz tem sido sensível às demandas da comunidade científica. Sob sua liderança, foram criados e expandidos inúmeros projetos na FAPESP. Ademais, tem sido decisiva sua visão estratégica de geração de conhecimento por meio de redes - uma das razões da intensificação de programas de cooperação tecnocientífica de instituições de ensino superior e de pesquisa do Estado de São Paulo com as de inúmeros países", avaliou.
De acordo com Abreu, é comum os pesquisadores da área de ciências sociais ou humanidades se sentirem preteridos nos programas de investimento das agências de fomento e mesmo das universidades. Na FAPESP e na USP, no entanto, na avaliação dele, esse sentimento não tem encontrado guarida.
"As diretorias científicas têm buscado compreender e lidar com a singularidade dos campos científicos. Sob a liderança do professor Brito Cruz, isso não tem sido diferente, mas certamente tem havido uma diferença nos últimos anos. Ao nos tratar como cientistas sociais e cidadãos de primeira classe, também nos têm exigido respostas à altura, como maior empenho na divulgação e circulação internacional dos resultados de estudos das ciências sociais e humanidades", destacou.
A cerimônia contou com a presença de Celso Lafer, presidente, José Arana Varela, diretor presidente do Conselho Técnico-Administrativo, e Joaquim José de Camargo Engler, diretor administrativo da FAPESP. Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), os reitores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Carlos Américo Pacheco, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Ana Maria Marques Cintra, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Júlio Cezar Durigan, o coordenador da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), Carlos Vogt; e o assessor de assuntos estratégicos do governador do Estado de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, entre outras autoridades, estiveram presentes.
Ciência em São Paulo
Em seu discurso, Brito Cruz disse que se sente honrado com a homenagem recebida da USP, que, de acordo com ele, é um modelo para as demais instituições de ensino superior no país e uma das responsáveis pelo fato de o Estado de São Paulo ter um empreendimento científico respeitado e competitivo mundialmente.
"Os cientistas do Estado de São Paulo não fazem só metade da ciência produzida no Brasil, como também produzem mais ciência do que seus colegas da Argentina, México e de qualquer outro país da América Latina. E boa parte da responsabilidade disso é da USP, que é uma das organizações de pesquisa mais tradicionais do Estado", disse Brito Cruz.
Na avaliação de Brito Cruz, um dos principais desafios atuais para o desenvolvimento científico e tecnológico do Estado de São Paulo é não só aumentar a quantidade, mas a qualidade da ciência produzida no território paulista, de modo a elevar seus impactos intelectual, social e econômico.
"Esses três impactos precisam ser objeto do nosso interesse e atenção, e toda vez que for possível haver impacto social de uma determinada atividade científica que isso seja extraído da forma mais eficaz", indicou.
Mas o único valor da descoberta científica não está em seu impacto social e econômico, ponderou.
"Há descobertas científicas em áreas como a astronomia, filosofia grega e a literatura, cujo impacto é fazer a humanidade ser mais sábia. E há um outro conjunto de atividades científicas que poderão trazer benefícios para a saúde, a conservação da natureza e o desenvolvimento industrial", comparou.
Por isso, segundo ele, é importante o esforço para valorizar de maneira equilibrada o grande leque de atividades científicas.
"Queremos que as pessoas no Estado de São Paulo sejam participantes da aventura da humanidade de fazer descobertas sobre a natureza, sobre o homem e sobre o Universo, e que, quando essas descobertas puderem ter impacto social e econômico, que isso também possa ser realizado", disse Brito Cruz.
Biografia
Brito Cruz é professor no Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Graduou-se em engenharia eletrônica pelo ITA, em 1978. Obteve os títulos de Mestre em Ciências (1980) e Doutor em Ciências (1983) no Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp.
Foi pesquisador convidado do Istituto Italo Latino Americano na Universitá degli Studi, em Roma (Itália), visitante residente nos Laboratórios Bell da AT&T, em Holmdel (EUA), e professor visitante na Université Pierre et Marie Curie, em Paris (França).
Sua área de pesquisa é o estudo de fenômenos ultrarrápidos com lasers de pulsos ultracurtos, com ênfase no estudo de processos eletrônicos em escala de tempo de femtossegundos (correspondente a um milionésimo de um bilionésimo de segundo) em materiais opticamente não lineares voltados a aplicações em comunicações ópticas (capazes de transportar informação na forma de luz).
Brito Cruz foi diretor do Instituto de Física Gleb Wataghin (1991 a 1994 e 1998 a 2002) e pró-reitor de Pesquisa da Unicamp (1994 a 1998). Foi reitor da Unicamp de abril de 2002 a abril de 2005 e presidente da FAPESP de 1996 a 2002. É membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 2000.
Em 2010, integrou um comitê internacional independente de 12 especialistas que revisou os procedimentos e processos do Painel Intergovernamental de Ciências Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
É diretor científico da FAPESP desde abril de 2005.
Foi vice-presidente da Sociedade Brasileira de Física, membro do comitê consultivo internacional da Optical Society of América, coordenador de vários eventos promovidos pelo International Center for Theoretical Physics (ICTP) em Trieste (Itália) e membro do International Advisory Comittee da Optical Society of America.
Em 2000, foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Recebeu, entre outros, o Prêmio de Ciência e Cultura da Fundação Conrado Wessel, em 2004.
Fonte: Agência FAPESP