Por décadas, nenhum ranking de universidades alçou uma instituição brasileira ao rol das 100 melhores do mundo. Um termômetro do atraso do país não só diante dos mais desenvolvidos, mas também de outros emergentes que há tempos já figuram no topo. No dia 15 de março deste ano, a respeitada publicação inglesa Times Higher Education divulgou uma lista em que a Universidade de São Paulo (USP) surge entre as setenta mais bem avaliadas por uma junta de 17 000 professores e pesquisadores de 137 países. Ainda que precise ser vista com a cautela recomendada a todo bom medidor do ensino, a posição de destaque da universidade é um sinalizador de novos ares principalmente na área de pesquisa. Como outras instituições brasileiras, a USP passou anos circunscrita a seus próprios muros e à margem da efervescência acadêmica mundial. Pois o que mais explica a melhora da universidade agora é justamente a visibilidade internacional que vem conquistando sua produção científica, fruto da recente conexão com centenas de centros de relevo no mundo. "Os números deixam claro que a USP está seguindo a tendência mundial de globalização na produção de conhecimento", diz o inglês Phil Baty, coordenador do novo ranking.
Por dentro da USP
Maior universidade pública brasileira, com 89 000 alunos e 6 000 professores, a USP sempre foi a número um no país na formação de doutores, mas isso não se traduzia em relevância acadêmica. Eles produziam pouco e seu trabalho repercutia menos ainda. Isso está mudando gradativamente. Em 2001, cada pesquisador da USP publicava menos de dois artigos por ano em revistas estrangeiras de alto padrão. Hoje, são quatro por Ph.D., média semelhante à de boas universidades americanas e europeias. "O intenso contato com centros de nível tão elevado está inserindo nossos pesquisadores em um ambiente de alta competitividade e desafios constantes, ingredientes básicos para a busca da excelência", avalia o doutor em física Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Evidentemente, em uma universidade de tão grande porte nem todas as áreas oferecem o mesmo padrão. O próprio reitor João Grandino Rodas, que no ano passado decidiu injetar mais 150 milhões de reais em pesquisa, reconhece: "O novo ranking reflete a ambição por produzir conhecimento e inovação de alguns grupos dentro do Campus". Entre os mais destacados estão os centros de biotecnologia e bioenergia e as engenharias, entre elas a Escola Politécnica (Poli), campeã da USP em inovação, com 82 patentes já registradas.
Fronteiras abertas
Na última década, a USP se tornou mais produtiva e conectada com os grandes centros de produção de conhecimento no mundo
Texto Redação Veja