Pesquisadores da Universidade de São Paulo, em parceria com o Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), estão desenvolvendo soluções para o armazenamento de energia solar e também para a captura e injeção de dióxido de carbono (CO2) nas profundezas do pré-sal durante a extração de gás natural.
Esses projetos são viabilizados pela criação de dois novos laboratórios específicos de Separação Supersônica e de Simulação Solar -, ambos instalados no Sisea – Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos e Renováveis da Escola Politécnica da USP. Com investimentos de R$ 2 milhões, eles foram financiados pela parceria entre a Shell e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), financiadoras do RCGI.
No Laboratório de Separação Supersônica, uma equipe de mais de dez pesquisadores desenvolveu um dispositivo para a separação do dióxido de carbono presente no gás natural. “No pré-sal, o CO2 fica misturado com o gás natural. É necessário separá-los antes de virem à superfície. O dióxido de carbono é um ‘peso morto’ nesse processo; não coopera em nada do ponto de vista energético”, explica José Roberto Simões Moreira, professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do Sisea.
Simões explica que já existem várias técnicas consagradas para a separação de CO2 do gás natural, mas apresentam um ponto desfavorável importante. “Elas geralmente precisam de altas taxas de compressão e, com isso, geram uma demanda energética muito alta nas máquinas compressoras. Além disso, as tecnologias de separação convencionais exigem investimentos elevados. A separação supersônica não chega a ser totalmente passiva do uso de energia, mas demanda muito menos energia e o custo é uma fração dos sistemas atuais”, diz.
Além de cálculos, simulações e testes, os pesquisadores do RCGI desenvolveram um dispositivo – já patenteado – para que a separação supersônica seja realizada e o CO2, reinjetado no subsolo marinho. “Nosso equipamento acelera a mistura de gases em velocidades em escala sônica ou supersônica. Com essa aceleração, a temperatura da mistura gasosa cai ao ponto de ocorrer uma mudança de fase: o CO2 se torna líquido ou sólido e o gás natural continua em seu estado gasoso, o que permite separá-los com maior facilidade”, explica.
Simões conta que embora a técnica supersônica seja utilizada para outros propósitos há muitos anos, seu uso para a separação de gases é recente. “A nossa inovação está no dispositivo que desenvolvemos e estamos testando no laboratório”, diz.
ENERGIA SOLAR – Outro projeto em andamento tem por objetivo o armazenamento químico da energia solar. “Um dos problemas da energia elétrica fotovoltaica é como armazená-la para o seu uso nos horários em que não há incidência solar. A solução mais comum é o uso de baterias elétricas, mas também é possível obter o armazenamento químico, por meio de reações químicas, como as que estamos estudando”, diz Simões, que também coordena o projeto de Simulação Solar.
Nesse novo laboratório os pesquisadores estão desenvolvendo um simulador solar com o uso de lâmpadas de xenônio – cuja luminosidade incide sobre uma superfície em formato de parábola e é refletida em um ponto focal onde está instalado um reator termoquímico.
“O objetivo é fazer uma superfície parabolóide que concentre os raios solares em um determinado ponto. Com isso é possível alcançar temperaturas muito elevadas, a cerca de 1000 °C, e promover reações termoquímicas que produzem combustíveis solares, sobretudo monóxido de carbono e gás hidrogênio, também chamado de gás de síntese”, afirma.
Após os testes com lâmpadas de xenônio, o projeto prevê a construção de um equipamento fora do laboratório, que atue com a incidência de luz solar.
De acordo com Simões, a produção e o armazenamento dos gases combustíveis poderão ser bastante competitivos para fins industriais e comerciais. “Para residências, essa tecnologia não seria muito adequada por causa de tamanho e custos operacionais”, diz.
O Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI) é um Centro de Pesquisa em Engenharia, criado em 2015, com financiamento da Fapesp e da Shell. As pesquisas do RCGI são focadas em inovações que possibilitem ao Brasil atingir os compromissos assumidos no Acordo de Paris, no âmbito das NDCs – Nationally Determined Contributions. Os projetos de pesquisa – 19, no total – estão ancorados em cinco programas: NBS (Nature Based Solutions); CCU (Carbon Capture and Utilization); BECCS (Bioenergy with Carbon Capture and Storage); GHG (Greenhouse Gases) e Advocacy. Atualmente, o centro conta com cerca de 400 pesquisadores.
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