Iniciativa pioneira vai promover a prevenção de doenças mentais em adultos a partir de ações dirigidas à infância e à adolescência. Trata-se da criação do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes, coordenado pelo professor Eurípedes Constantino Miguel, da Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP.
A instituição surge para atender ao objetivo do desenvolvimento de estudos com destaque na detecção precoce e no tratamento de crianças e adolescentes com risco para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, como o do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), de conduta, de ansiedade, obsessivo-compulsivo, do humor bipolar, de aprendizagem e autismo, entre outros.
De acordo com o professor, a ideia é detectá-los e tratá-los antes que se manifestem, o que traz nova abordagem para a área: a psiquiatria do desenvolvimento. “Várias pesquisas apontam que a origem de grande parte dos transtornos mentais que aparecem na idade adulta está na infância”. Além do Instituto de Psiquiatria (IPq) da FMUSP, também estão envolvidas as Universidades Federais: de São Paulo (Unifesp), do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Bahia (UFBA), de Pernambuco (UFPE), do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Presbiteriana Mackenzie, a Federal de Santa Maria, a Universidade Metodista (Rio Grande do Sul), e a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
Importantes centros de pesquisa internacionais completam o perfil, como as universidades de Yale, Harvard, Duke, de Nova York; do Texas, John Hopkins; da Califórnia em San Diego (UCSD); da Califórnia em Los Angeles (UCLA); e o Instituto de Psiquiatria de Londres, que irão colaborar com os pesquisadores brasileiros. Serão desenvolvidos 16 projetos de pesquisa, envolvendo 70 pesquisadores.
O instituto, cuja sede funcionará na Faculdade de Medicina da USP, tem cerca de R$ 7 milhões, sendo 50% provenientes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e 50% da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A iniciativa integra o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), que reúne 101 institutos nacionais e que visam ao desenvolvimento de tecnologia e pesquisa de ponta em várias áreas do conhecimento.
Treinamento e ioga – Entre as ações pioneiras da nova instituição está o uso de intervenções já bem estabelecidas, como a terapia cognitivo-comportamental, com ênfase no treinamento de pais. O projeto também prevê a investigação de terapias alternativas e não-invasivas, como a Kundalini Yoga. “Há estudos sugerindo a eficácia dessa técnica no tratamento de transtornos mentais. Pelo seu caráter não-invasivo, acreditamos que valeria a pena testá-la utilizando métodos adequados”, afirma Miguel.
Outro destaque será um estudo de corte (acompanhamento), que analisará 600 novas crianças por ano. Terá início com a investigação de gestantes na décima semana de gravidez e seguirá até depois do nascimento da criança. Estas serão acompanhadas com avaliações sucessivas que procurarão descrever características clínicas que possam ser antecipadas para um futuro desenvolvimento de transtornos psiquiátricos.
“Acreditamos que este estudo poderá identificar fatores que conferem risco para o desenvolvimento desses transtornos. De posse, por exemplo, das informações genéticas, será possível desenvolver intervenções ambientais específicas para aquelas pessoas que possuem risco aumentado, de modo a reduzir as chances de expressão da doença”, informa o pesquisador.
Saúde em rede
O Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes será ligado à Rede Nacional de Telemedicina (Rede Nutes). A ideia é criar vários pontos de acesso a Web para a realização de educação a distância e formação continuada para os novos psiquiatras sob o paradigma da Psiquiatria do Desenvolvimento. Existem 900 pontos distribuídos pelo Brasil e a previsão de que cheguem a 9 mil em cerca de dois anos.
Outro destaque é a implantação de um prontuário médico eletrônico em colaboração com a Universidade Duke. Com a adaptação do prontuário para a realidade brasileira, será criado um banco de dados nacional sobre transtornos mentais, a fim de facilitar a implantação de políticas públicas, bem como a comparação entre os diversos tipos de tratamento, entre outras possibilidades.