Notícia

Jornal da Tarde

USP apresenta o 'salgadinho saudável'

Publicado em 25 março 2004

Por LUCIANA MIRANDA
Ele foi desenvolvido por cientistas da Faculdade de Saúde Pública, a partir do pulmão de boi. Suas duas versões são pobres em gordura (10% e 0%) e ricas em ferro. Eles são os vilões da dieta saudável e seduzem a maior parte das crianças. Se é quase impossível banir os salgadinhos dos hábitos alimentares infantis, por que não criar um tipo nutritivo, capaz de combater a anemia por deficiência de ferro? Foi com essa preocupação que urna equipe de cientistas da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSPUSP) desenvolveu um salgadinho pobre em gordura e rico em ferro. Foram dez anos de acertos e erros até a equipe chegar ao produto final. Um salgadinho com textura, sabor e odor semelhantes aos convencionais. Os 9 miligramas de ferro em cada 100 gramas de salgadinho são garantidos graças a uma matéria-prima descartada no abate de bovinos - o pulmão. Depois de processado sob os mesmos padrões sanitários da carne que vai para os açougues, o pulmão bovino é submetido a etapas que eliminam sua gordura. Em seguida, é transformado em farinha. O salgadinho fortificado contém 90% de milho e 10% de pulmão bovino. "O pulmão tem três vezes mais ferro do que o fígado bovino", diz o professor titular José Alfredo Gomes Áreas, coordenador do Grupo de Propriedades Funcionais de Ali-mentos da FSP-USP. O projeto da equipe é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), O teor de gordura do produto desenvolvido pelo grupo também é menor do que o dos salgadinhos que existem no mercado. Arêas explica que foram desenvolvidas duas versões: uma com 10% de gordura e outra com zero. Salgadinhos comuns contêm 23% de gordura saturada. O salgadinho que saiu do laboratório da faculdade foi testado com sucesso em Teresina (PI). A nutricionista Regilda dos Reis Araújo, professora da Universidade Federal do Piauí, mediu a incidência de anemia em 260 crianças de 2 anos e meio a 7, em duas creches. Metade das crianças recebeu porções de 30g do salgadinho, três vezes por semana, por dois meses. Entre as que comeram o salgadinho, a anemia caiu de 61,5% para 11,5%. Pelos cálculos da equipe da FSPUSP, o custo adicional na produção do salgadinho fortificado em comparação ao convencional é de apenas R$ 0,09 para cada pacote de 30 gramas. O próximo passo é encontrar uma indústria interessada em fabricar o salgadinho em larga escala e colocá-lo no mercado.