O uso irregular de pesticidas por produtores na fronteira agrícola amazônica aumenta o impacto negativo das substâncias sobre espécies aquáticas, como peixes.
Pequenos produtores usam pesticidas em doses superiores às recomendas e, em alguns casos, de maneira inadequada.
Os grandes produtores de soja e cana seguem mais as recomendações agronômicas e até mesmo substituem compostos mais tóxicos para a saúde humana por outros menos danosos.
Os dados constam do levantamento realizado por pesquisadores da Escola de Artes, Ciência e Humanidades da USP em parceria com colegas do Instituto de Ciência Biológica da Universidade Federal do Amazonas, do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade de Medicina Veterinária de Viena, na Áustria, e do Instituto Alterra, da Holanda.
"Observamos que os pequenos produtores na fronteira agrícola amazônica fazem uso grosseiro e descontrolado de pesticidas e, apesar de alguns grandes produtores da região seguirem as recomendações técnicas e terem substituído voluntariamente defensivos tóxicos por outros menos danosos, a "pegada ecológica" desses compostos aumentou ao longo do tempo", afirma o professor e pesquisador da USP Luís César Schiesari, referindo-se ao impacto ecológico do uso inadequado de pesticida.
De acordo com reportagem da Agência Fapesp, os dados de aplicação de pesticidas, fornecidos pelos próprios produtores, revelam que 96% dos pequenos agricultores aplicam as substâncias em suas lavouras em dose e frequência maiores do que a recomendação técnica.
Já os grandes produtores seguem mais de perto as recomendações técnicas e até mesmo diminuíram o uso de compostos mais danosos à saúde humana e ao meio ambiente, conforme a classificação de risco toxicológico e ambiental adotada pelos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente.
"Constatamos que o aumento da dose e da diversidade de pesticidas utilizados pelos grandes produtores causou uma queda no risco para os mamíferos que habitam esses ambientes", contou Schiesari.
"Em contrapartida, o risco para os organismos aquáticos aumentou até 135 vezes, conforme verificamos por meio de cálculos baseados em dados de toxicidade dos pesticidas utilizados para algas, peixes e zooplâncton", afirma.