Segundo a psicóloga, o uso excessivo de telas afeta negativamente o desenvolvimento emocional da criança, tornando-a mais propensa a problemas de ansiedade e depressão.
Manaus (AM) – Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o Brasil é o terceiro país mais conectado à internet. Seja para trabalho, estudos ou lazer, a conectividade se tornou parte essencial do cotidiano de milhões de brasileiros.
Porém, esse acesso crescente traz consigo um conjunto de desafios que não podem ser ignorados, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes. O uso excessivo de aparelhos eletrônicos pode impactar negativamente a qualidade de vida dos pequenos, especialmente quando não há controle nem supervisão.
O Portal AM1 conversou com a psicóloga e psicopedagoga Andrea Freitas sobre as implicações que o uso excessivo de telas podem gerar. A psicopedagoga frisa que o uso de telas afeta negativamente o desenvolvimento emocional das crianças, tornando-as mais propensas a problemas de ansiedade e depressão.
“Tudo em excesso não faz bem. O uso excessivo das telas influencia no sono. A criança vai acordar irritada, o que pode dificultar o aprendizado na escola, na interação social com os colegas e família”, explica Andrea.
Além disso, de acordo com Andrea Freitas, o uso excessivo de telas ainda pode causar atrasos na linguagem, déficit de atenção, obesidade, problemas de visão, distúrbios do sono, aumento da ansiedade e depressão, isolamento social e até desenvolver um comportamento agressivo.
Andrea destaca que o recomendado para crianças de 0 a 2 anos é não terem acesso a dispositivos tecnológicos. E sugere que a partir de 2 anos até os 5 anos, o limite do uso de telas seja por no máximo 1 hora, sob a supervisão dos pais.
(Foto: Acervo Pessoal)
Em casos de bebês, segundo a especialista, o uso de telas é uma preocupação ainda maior. A exposição, especialmente nos primeiros meses de vida, pode ter consequências significativas para o desenvolvimento.
“Os primeiros anos de vida são um período crítico para o desenvolvimento cerebral, com conexões neurais sendo formadas a uma taxa extremamente rápida. A interação com o mundo real é crucial durante esse período. Bebês precisam de estímulos sensoriais apropriados, como toque, som e interação humana, para desenvolver habilidades motoras, cognitivas e sociais. O tempo de tela pode substituir essas interações essenciais, causando danos irreversíveis”, pontua.
Desenvolvimento cognitivo e acadêmico
Segundo a psicóloga, é comum que os próprios usuários não percebam os impactos negativos do uso excessivo da internet. No entanto, os sinais de alerta podem ser notados por aqueles ao seu redor, especialmente os pais.
“Os pais começam a notar que o filho está deixando de interagir com a família e os colegas. Aquele adolescente que normalmente quer socializar acaba não querendo mais estar junto com o grupo. Quer ficar isolado dentro de casa, passa muito tempo jogando na internet, começa a ter dificuldades com sono, alimentação e irritabilidade”, detalha.
Como abordar o problema
Quando esses prejuízos começam a aparecer, é essencial que os pais procurem ajuda. Mas como controlar o uso da internet dentro de casa de maneira eficaz e sensível? Andrea Freitas sugere uma abordagem delicada e acompanhada.
“Muitas vezes, o adolescente ou a criança não percebe sua dificuldade. Para eles, tudo parece normal. Os pais precisam observar toda a dinâmica familiar e muitas vezes modificar o ambiente para mudar o comportamento do outro”, recomenda.
Andrea Freitas ressalta a importância da supervisão enquanto as crianças estão em frente às telas. Sem isso, os pequenos acabam consumindo passivamente conteúdos, em vez de se envolverem em atividades criativas e interativas essenciais para o desenvolvimento cognitivo.
O exemplo dos pais
Um ponto crucial levantado por Freitas é o exemplo que os pais dão aos filhos. “Como pais, estamos dando um modelo, sendo exemplo para a criança? Estamos interagindo com nossos filhos? Convivemos com eles, conversamos, ou também ficamos muito tempo no celular ou no computador? Muitas famílias ficam juntas, mas cada um no seu celular, no seu mundo”, alerta a psicóloga.
O dilema das mães solo
Para muitas mães, especialmente as mães solo ou sem uma rede de apoio, a tecnologia surge como uma alternativa indispensável. É o caso de Janda dos Santos, de 34 anos, mãe solo de dois filhos pequenos. “Eu não tenho com quem deixar as crianças enquanto faço o trabalho de casa ou preciso de um momento de descanso. A televisão e o tablet acabam sendo meus aliados para conseguir dar conta de tudo”, relata Janda.
Janda afirma que sabe que o uso excessivo não é ideal, mas, às vezes, é a única solução que ela encontra para dar conta das responsabilidades do dia a dia. “Tento balancear, colocando limites e escolhendo conteúdos educativos, mas ainda é um desafio constante, pois às vezes não ficamos de olho o tempo todo”, evidencia a mãe.
Quem também vive o mesmo dilema é Patrícia Sena. Mãe de dois adolescentes de 12 e 15 anos, ela conta que trabalha o dia todo, e que acaba deixando os filhos “livres” para usar celular por bastante tempo.
“Eu tento não deixar eles ficarem com os celulares durante a noite, para não atrapalhar o sono, pois precisam acordar cedo para estudar no dia seguinte. Mas tive bastante problema, principalmente, com o meu filho de 15 anos. Uma vez acordei de madrugada e ele estava jogando no celular. Depois disso, procurei colocá-los em atividades como o jiu-jítsu para deixá-los ocupados com outras atividades”, conta Patrícia.
Excesso de telas entre jovens pode causar dores
Um estudo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e publicado na revista científica Healthcare mostra que o uso prolongado de telas é um dos fatores de risco para a saúde da coluna. Entre os fatores de risco está o uso de telas por mais de três horas por dia, a pouca distância entre o equipamento eletrônico e os olhos, a utilização na posição deitada de prono (de barriga para baixo) e na posição sentada.
Acesso à internet no Amazonas
Em 2022, segundo dados do IBGE, divulgados no final do ano passado, 79,3% da população usou internet no Amazonas. O número é menor que a média nacional, que foi de 87,2%. Com isso, o Amazonas foi a antepenúltima posição, em nível nacional, ficando atrás apenas do Acre e do Maranhão. Embora tenha evoluído, o estado não conseguiu acompanhar o crescimento do uso da internet no mesmo nível que outras unidades da federação. Em 2016, 54,4% acessaram internet e, em 2022, passou para 79,3%.
Os principais motivos apontados para o não uso da internet, em 2022, foram que o acesso à internet ou ao equipamento eletrônico eram considerados caros, que o serviço de acesso à internet não estava disponível nos locais que costumavam frequentar, falta de necessidade, falta de tempo, não sabiam utilizar a internet, preocupação com privacidade ou segurança.