Meninas são as mais impactadas pelo problema. Sessões de três horas em frente às telas podem levar a dores nas costas, segundo pesquisadores de Bauru, em São Paulo.
Uma pesquisa realizada em Bauru, no interior de São Paulo, constatou que o aumento do tempo em frente às telas dos celulares é um dos fatores de risco que podem causar impactos negativos nas colunas dos adolescentes. O pouco distanciamento entre o dispositivo e os olhos, bem como o uso deles em determinadas posições, também interfere diretamente na saúde da coluna.
O estudo financiado pela Fapesp ganhou destaque na edição de janeiro do periódico científico Healthcare. Ele buscou analisar uma consequência específica: a dor no meio das costas, também chamada em inglês de thoracic back pain ou TSP.
Em linhas gerais, o artigo pontuou que o aumento exponencial do contato com celulares e tablets – seja para fins educacionais ou de lazer – já tem se refletido fisicamente nos adolescentes.
Apesar de os jovens terem sido o foco do estudo, a TSP também é comum em outros grupos etários. Para se ter uma ideia, a condição afeta entre 15% e 35% dos adultos, enquanto o índice é de 13% a 35% na categoria de crianças e adolescentes.
As conclusões foram obtidas a partir de um estudo longitudinal realizado entre 2017 e 2018. Neste período, pesquisadores selecionaram aleatoriamente 1.628 alunos matriculados no Ensino Médio, de ambos os sexos, com idades entre 14 e 18 anos. Os adolescentes escolhidos responderam a um questionário entre março e junho de 2017. Meses depois, já em 2018, 1.393 alunos foram reavaliados.
Os resultados indicaram prevalência de TSP em 38,4% dos adolescentes – o que sugere que todos os incluídos nesta parcela apontaram a existência da dor em 2017 e mantiveram a mesma queixa em 2018. Já a incidência, termo utilizado para se referir a novos casos, foi de 10,1%. O número de meninas com a reclamação se sobressaiu ao de meninos.
Além do uso prolongado dos dispositivos, existem outras práticas que podem acarretar na dor, como é o caso de quem usa o celular na posição deitada, de barriga para baixo, ou mesmo na posição sentada.
Alguns fatores de risco também devem influenciar neste cenário, como aspectos físicos, fisiológicos, psicológicos e comportamentais. A exemplo disso, é possível mencionar o sedentarismo e a saúde mental, pontos que influenciam na saúde da coluna vertebral. A pandemia de Covid-19 também entra nas considerações, visto que alterou alguns hábitos, como o tempo gasto em frente às telas.
O agravante é que, muito além do incômodo da dor, a TSP tende a influenciar no rendimento de adolescentes, tornando-os menos ativos e com mais problemas psicossociais. O pesquisador Alberto de Vitta, da Unicamp, comenta que este trabalho “pode ser utilizado para implementar programas de educação em saúde nos diversos níveis escolares, visando capacitar estudantes, professores, funcionários e pais”.
Por Isabele Scavassa, para o TechTudo