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A Gazeta (MG)

Uso de fertilizantes precisa ser padronizado (1 notícias)

Publicado em 30 de junho de 2009

Em alguns países, o uso de fertilizantes deve ser reduzido, por conta da poluição. Em outros, precisa ser aumentado, para repor os nutrientes perdidos. Cientistas discutem o paradoxo agrícola e a importância do Brasil no contexto.

As áreas utilizadas para cultivo agrícola em todo o mundo contêm fertilizantes demais - ou de menos. E os dois extremos implicam elevados custos tanto para o ambiente como para o próprio homem.

Os fertilizantes sintéticos aumentaram enormemente a produção de alimentos, mas o custo da poluição gerada pelo uso desenfreado tem sido cada vez maior - como a criação de zonas mortas, impraticáveis para o cultivo, em áreas costeiras no Golfo do México e em outros locais. De outro lado, muitas áreas precisam de um uso mais intensivo desses reforços químicos, para repor os nutrientes perdidos por conta da agricultura.

A situação paradoxal é destaque em um artigo publicado na edição desta sexta-feira (19/6) da revista Science, escrito por um grupo internacional de pesquisadores, entre eles o professor Luiz Antonio Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo, um dos coordenadores da área de biologia da FAPESP.

Os pesquisadores analisaram o cultivo de milho em três diferentes países e contextos: Quênia, China e Estados Unidos. Nas pequenas plantações no país africano, solos antes férteis estão se empobrecendo à medida que os cultivos removem mais nutrientes do que os adicionados pelos esforços de fertilização.

No país mais populoso do planeta, campos são fertilizados de modo mais intenso do que em qualquer outro cenário, atual ou anterior, que tem levado o excesso de fertilizantes para o ambiente, degradando a qualidade da água e do ar, em grande problema ambiental.

O terceiro contexto analisado está no meio-oeste dos Estados Unidos, no qual a quantia de fertilizante empregada na agricultura de milho (em rodízio com a soja) era elevada, mas tem sido reduzida desde a década de 1990.

Os impactos negativos ao ambiente da utilização desenfreada de fertilizantes químicos têm levado muitos especialistas a defender uma drástica redução nesse uso, mas os autores do novo estudo apontam o problema de se adotar uma medida como essa, única, para todos os contextos agrícolas.

Enquanto algumas regiões usam fertilizantes demais, com sérios impactos ambientais, em outras, como na África subsaariana, onde mais de 250 milhões de pessoas estão insuficientemente nutridas, as quantidades adicionadas de nitrogênio, fósforo e de outros produtos são insuficientes para manter a fertilidade mínima do solo.

Na China, onde a fabricação de fertilizantes é subsidiada pelo governo, a produtividade média por hectare aumentou 98% entre 1977 e 2005. O motivo é o uso de reforços como o nitrogênio, cujo uso cresceu 271% no período. "As adições de nutrientes superou em muito as verificadas nos Estados Unidos e no oeste da Europa e grande parte da fertilização excessiva se perde no ambiente, degradando tanto a qualidade do ar como da água", destacam os autores.

O artigo aponta que agricultores no norte da China usam em média 588 quilos de fertilizantes à base de nitrogênio por hectare cultivado, resultando em uma liberação de 227 gramas de excesso do elemento químico no ambiente. Segundo os pesquisadores, o uso poderia ser cortado pela metade sem perda na produtividade.