Usar lodo de esgoto como adubo para plantações pode contaminar o solo com hidrocarbonetos pesados, concluiu um estudo da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP). O lodo é composto por resíduos que ficam retidos nas estações de tratamentos de esgoto e uma de suas alternativas mais promissoras para que o material deixe de ser um problema ambiental de grande escala é o uso na agricultura, por ser rico em matéria orgânica, fósforo e nitrogênio.
O novo estudo da Embrapa Meio Ambiente mostrou que o uso de lodo de esgoto em uma cultura de milho pode resultar, a médio e longo prazo, em contaminação do solo com hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs). HPAs são compostos orgânicos insolúveis em água, formados por dois ou mais anéis benzênicos e constituídos exclusivamente por átomos de carbono e hidrogênio.
Os HPAs, de acordo com Lourival Costa Paraíba, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente que coordenou o estudo, são compostos químicos geralmente formados a partir da queima incompleta de material orgânico, cuja presença foi observada em amostras de lodos.
"Essas substâncias, poluentes orgânicos de grande persistência no meio ambiente, são nocivas a diversos organismos aquáticos e terrestres. Alguns deles são carcinogênicos ou mutagênicos", disse Paraíba à Agência Fapesp.
Segundo ele, os resultados do projeto são importantes porque fornecem subsídios e orientação para decisões técnicas e políticas no sentido de cultivar ou não plantas utilizando lodo de esgotos.
"Embora saibamos que o lodo tem vários nutrientes, ele também possui poluentes. O estudo mostrou que o seu uso deve ser feito com muito critério e muita pesquisa. E, principalmente, que a sociedade precisa saber quando estiver consumindo um produto cultivado com lodo de esgoto", afirmou.
De acordo com o estudo, os níveis de HPAs encontrados no milho não chegaram a afetar a segurança para o consumo. Mas os níveis encontrados no solo podem comprometê-lo a médio e longo prazo, com o uso contínuo do lodo.
"Além dos HPAs, certos lodos de esgoto podem contaminar cultivos agrícolas, solos, águas superficiais e subterrâneas com nitratos, metais pesados, patógenos, além de outros compostos orgânicos persistentes", acrescentou Paraíba, que é matemático e ingressou na Embrapa em 1989.
Do UOL Ciência e Saúde, com informações da Agência Fapesp