Um estudo realizado por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos analisou as alterações evolutivas nas asas de mosquitos e comprovou que a urbanização gerou mudanças na constituição desses membros.
O estudo concluiu que as modificações, introduzidas pelo homem no meio ambiente, exercem uma pressão sobre os mosquitos e, naturalmente, selecionam características que os tornam mais aptos às condições de tais localidades.
Os mais de 800 mosquitos analisados são Aedes aegypti e Anopheles cruzii, responsáveis pela transmissão de dengue, zika, febre amarela, chikungunya e malária. Os insetos foram coletados para o estudo em regiões com graus diferentes de urbanização na cidade de São Paulo.
Mais de 300 espécimes de Aedes aegypti foram capturados em 11 localidades de SP e 500 espécimes de Anopheles cruzii em outros três ambientes distintos.
As principais “novidades” que podem ser observadas nas asas dos mosquitos analisados se referem ao tamanho e ao formato delas, que pode variar entre uma mesma espécie, entre populações da mesma espécie ou até entre diferentes espécies.
“O que pode existir é variação na distribuição dos 18 pontos característicos das veias das asas dos mosquitos que servem para definir tanto espécies diferentes como variedades dentro de uma mesma espécie”, explica Mauro Toledo Marrelli, professor associado na Faculdade de Saúde Pública da USP e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.
Observar essas alterações e acompanhar o mapeamento genético dos mosquitos é uma forma de esclarecer se essas mudanças podem levar à microevolução e originar o surgimento de novas espécies.
“A variação nas asas não levará à resistência a inseticidas, mas pode originar novas espécies ou variedades da mesma espécie, que poderão ser resistentes a inseticidas”, conta Mauro Toledo Marrelli.
O professor ainda ressalta que fenômenos como esses podem ocorrer em qualquer ambiente, mas, no caso analisado, foi a urbanização que afetou o desenvolvimento desses insetos.
Ainda dentro da mesma abordagem, os pesquisadores continuam estudando outras espécies de mosquitos na cidade de São Paulo, que atuam como transmissores das doenças citadas.