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Gazeta Mercantil

Universidade vende serviços e eleva a receita (1 notícias)

Publicado em 18 de maio de 1999

Por Eduardo Geraque - de São Paulo
Centros especializados das principais universidades públicas da Grande São Paulo e institutos de pesquisas importantes como o IPT, órgão ligado ao governo estadual, já estão conseguindo garantir o equivalente a 32% do seu orçamento anual com a prestação de serviços às empresas da iniciativa privada. A um mês de seu centenário, o IPT, que em 1998 trabalhou com o orçamento de R$ 77 milhões, registrou a entrada de R$ 24,5 milhões via serviços prestados ou outros tipos de contratos formados com as empresas do setor privado. Mais R$ 10,5 milhões foram obtidos por intermédio de serviços prestados a entidades públicas. Além do IPT, instituição que está mais adiantada nesse novo caminho de aumentar as parcerias com a iniciativa privada, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Universidade de São Paulo (USP) estão fechando acordo similares com mais freqüência que na primeira metade da década. Em todos eles, o principal objetivo é transferir conhecimento e tecnologia para fora dos muros das instituições públicas de pesquisa. "Essa é a única saída para a universidade continuar gratuita" afirma Turíbio de Barros, coordenador do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte (Cemafe), que é ligada à Unifesp. Segundo ele, por intermédio das dezenas de parcerias com empresas do setor como Rhodia, Gatorade, Penalty e Umbro, o Cemafe garante hoje 60% da sua receita anual. "A empresa ganha porque tem acesso, nessas parcerias, às cabeças pensantes que estão na universidade. Do outro lado, as instituições públicas ganham com a sua autonomia" explica Barros. "Aumentar esses acordos é de fundamental importância para a sobrevivência da universidade" diz o professor. Conforme comenta Barros, essa visão de que as empresas são bem-vindas no meio acadêmico tem se fortalecido apenas nos últimos anos. "Até pouco tempo atrás esses contratos eram inadmissíveis" lembra. No IPT, a filosofia empregada pelas diretorias que passaram pelo instituto nos anos 90 também foi a de priorizar os contatos com as empresas do setor privado. Na visão do atual diretor-técnico do IPT, Vicente Mazarela, é preciso "pensar no mais importante no momento, mas também ter um olho no futuro". O diretor do instituto também confirma que a mudança em relação às empresas privadas teve um maior impulso nos últimos três anos. "Nos anos 80, o estado era o grande propulsor da economia. Agora, ele mesmo já declarou-se falido e admite que terá apenas mais um papel regulador nas diversas atividades produtivas" analisa Mazarela. Com o crescimento dos processos de privatização, afirma o diretor do IPT, o principal cliente agora para o órgão que ele dirige é a empresa privada. "O governo deixou de investir" garante. Entre a gama de serviços que o instituto oferece à comunidade estão a pesquisa e desenvolvimento de produtos, ensaios, a montagem de lotes experimentais e estudos de viabilidade. "A diversidade é muito grande. Temos oito divisões e cinco centros técnicos" diz Mazarela. Os dois novos projetos que o IPT desenvolveu em conjunto com o Sebrae e outras entidades setoriais, estão há dois "meses em andamento. Um dos projetos, o Progex, pretende incentivar a indústria brasileira a exportar seus produtos. O outro programa recém-criado, o Prumo (Projeto de unidades móveis) tem em seu objetivo auxiliar as micro e pequenas empresas do setor de transformação de plástico. Conforme informa o diretor-técnico do IPT, o programa consiste em, após um diagnóstico prévio das empresas catalogadas pelo Instituto Nacional de Plásticos, colocar uma equipe do IPT, no período máximo de três dias, dentro da empresa para resolver os problemas encontrados. "Por um lado os resultados das empresas que já foram atendidas são muito positivos. Por outro é ruim, porque temos quase 3.500 empresas inscritas e nossa capacidade de atendimento é de apenas 240 empresas por ano" avalia Mazarela. O Prumo está direcionado para as empresas que contam com até 100 funcionários. O custo do auxilio tecnológico para cada uma delas é de R$ 900,00. "O Sebrae cobre os outros R$ 2.000,00", revela o diretor técnico do IPT. Segundo ele, caso médias e grandes empresas também queiram participar do Prumo, elas terão que cobrir todo o custo da operação. Do lado do IPT, as despesas com equipamento e pessoal são provenientes da Fapesp, a Fundação de Apoio e Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo. "Temos outros setores já alinhados para programas semelhantes" revela o dirigente do IPT. Segundo ele, outros projetos devem surgir ainda na área de couros e calçados, cerâmica, tratamentos de superfície, borracha e fundição. Dentro do Progex, em conjunto também com o Sebrae com as associações setoriais, devem ser criados nos próximos meses consórcios de exportação. "Estamos criando um grupo na área de rochas ornamentais - mármores e granitos - e outro em embalagens flexíveis", explica o diretor do IPT. A Universidade de São Paulo, apesar de algumas parcerias com o setor privado, ainda não teve um crescimento importante da receita derivada de serviços prestados às empresas privadas. Um dos serviços mais antigos criados pela USP, o Disque Tecnologia, custa para o Sebrae - a entidade paga por todo o serviço - R$ 144 mil. "Apesar dessa quantia, o Disque Tecnologia ainda não se auto-sustenta", garante o coordenador do serviço Luiz Fernando de Gouveia Buffolo. "Essa verba é usada apenas para a remuneração dos consultores", atesta Buffolo. A idéia desse projeto, que existe desde 1991 e atende 15 ligações por dia - o serviço já registra mais de 15 mil atendimentos - é funcionar como um pronto-socorro tecnológico, explica o seu coordenador. "Das ligações, 70% dos problemas são resolvidos pelos consultores. Dos 30% restantes, apenas 1% é transformado em projetos tecnológicos efetivamente", completa Gouveia Buffolo. O coordenador do Disque Tecnologia da USP explica que a demanda tecnológica do setor empresarial muitas vezes não é muito sofisticada, como se poderia imaginar. "Quando abrimos o embrulho, pensamos em achar um forno de microondas de última geração, mas vemos um forno à lenha", ilustra o responsável pelo serviço da USP. Para as médias e grandes empresas, a Universidade de São Paulo oferece parcerias via projetos financiados a fundo perdido pela Fapesp e pelo Governo Federal.