O secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo e ex-líder do governo na Câmara, José Aníbal, vai trabalhar para melhorar empresas e trazer investimentos para São Paulo.
A pesquisa desenvolvida pelas universidades públicas deverá servir, a partir deste ano, ao setor produtivo. Mais propriamente, às pequenas e médias empresas, visando torná-las competitivas, capazes de enfrentar o mercado interno e o externo. As grandes empresas estão mais bem aparelhadas nesse sentido, pois dispõem de grau razoável de informação. "São capazes de buscar seus próprios caminhos", afirma o secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo e ex-deputado federal José Aníbal.
Uma ponte entre a universidade e o setor produtivo será estendida pela Secretaria, que, segundo seu titular, traduz-se num de seus grandes projetos. Embora ainda não tenha forma definida - "o modo de operar não desenvolvemos porque estamos primeiro identificando a situação" - o secretário aposta no seu sucesso.
José Aníbal, ex-líder do governo na Câmara dos Deputados, está há dois meses à frente da Secretaria e diz que pretende trabalhar sobre metas já traçadas, visando a "uma ação forte, voltada para a atração de novos investimentos para São Paulo". O secretário vai atuar em três frentes: o escoamento da pesquisa da universidade para o setor produtivo; atração de investimentos para São Paulo; e mercado, propondo uma nova política de exportação para o Estado. Ele faz um alerta: "Não tenho a intenção de abandonar a pesquisa básica, que é fundamental, mas precisamos acoplar mais ciência e pesquisa ao processo produtivo que, ao final, resultará em produtos de melhor qualidade e preço".
Trata-se de um procedimento que poderá gerar receita, já que a universidade venderá serviços. "'Incorporar tecnologia e prestação de serviços, como já ocorre na Universidade de Brasília, são operações que compõem porcentual expressivo do orçamento da instituição", observa Aníbal.
Para o secretário, de 2% a 3% são considerados números "extraordinários" quando se pensa em resultados financeiros oriundos dessa fonte. "Diretamente sempre será pouco, mas o efeito multiplicador (incluindo parcerias) é que será grande", avalia.
A Secretaria da Ciência e Tecnologia, IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) decidiram cobrar por serviços prestados em projetos conjuntos, depois de atendidas as 300 primeiras empresas.
Segundo o secretário, a privatização da universidade não se mostra interessante no momento. Mas não está descartada a urgência de a universidade gerar receita para arcar com algumas de suas despesas, como com os inativos, por exemplo. "Já estamos conversando com a USP sobre inativos, despesas com o Hospital Universitário, lei Kandir etc", observa. A USP consome anualmente um novecentos avôs do Produto Interno Bruto (PIB), algo em torno de R$ 900 milhões, e gasta cerca de 29% com inativos. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas exibe uma relação professor - aluno que Aníbal chama de "banda larga", ou seja, "faltam muitos professores que a USP não tem condições de contratar e, por isso, está segurando as aposentadorias", diz ele.
As universidades públicas são autônomas na gestão de aposentadorias, pois são as únicas instituições públicas a arcar com tal ônus. Por isso, hoje, necessitam buscar um novo modelo para resolver a questão dos custos. "O sistema de aposentadorias deverá sofrer modificações para que não mais represente um peso."
As conversas entre a USP e a Secretaria buscam alternativas, mas algumas situações estão definidas. Descarta-se a possibilidade de manter o salário integral do docente, quando se aposenta. "Em nenhum lugar do mundo é assim", justifica Aníbal, e acrescenta: "São 18 milhões de brasileiros no INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) sem aposentadoria integral, que no setor público federal já acabou". Hoje, os docentes aposentam-se com teto salarial de R$ 1.200,00 que chega a no máximo R$ 1.100.00.
Para bem informar sobre suas metas, o secretário reuniu, em entrevista coletiva, representantes das três universidades paulistas públicas e gratuitas - USP, Unesp e Unicamp - e das seguintes instituições de pesquisa: fundação Paula Souza, IPT e Fapesp.
Lembrou que São Paulo tem "mercado, recursos humanos e governo sério" para atender a seus objetivos. Mas um dos problemas a serem enfrentados é a falta de cultura de aproximação entre centros de pesquisa e o setor produtivo: a Secretaria pretende estabelecer a sintonia. José Aníbal diz ter "consciência" disso e recomenda: "A universidade deve se expor mais, tornando-se um recurso para o setor produtivo que dela deverá socorrer-se".
Exemplifica com fato ocorrido durante uma palestra sua no campus da Unesp, em Bauru. Ao terminar a exposição, o secretário ouviu de um prefeito da região reclamações sobre a dificuldade em livrar-se de raspas de couro, excedente de produção em seu município. Imediatamente levantou-se o chefe do Departamento de Química da Unesp indicando a solução possível. "Aquela prefeitura fica a poucos quilômetros do campus da Unesp, mas o prefeito não suspeitava de que ali estivesse o que procurava."
O setor produtivo não conhece o potencial da universidade, nem o dos institutos de pesquisa. "São informações indisponíveis nas empresas", diz o secretário. Para ele, mesmo os que conhecem a universidade não se sentem seguros sobre se serão atendidos adequadamente. "A instituição está muito distante, pois não há tradição nisso. Precisamos multiplicar ações no sentido de fortalecer a própria imagem da universidade", entende Aníbal. A Secretaria atuará por cadeias produtivas e deverá agir logo junto ao setor calçadista em Jaú, Birigüi e Franca, com o objetivo de fortalecer as exportações.
Há a preocupação de aproveitar a desvalorização do câmbio (que aumenta a oportunidade de exportação) e transformá-la em política consistente. O Programa Exporta São Paulo, desenvolvido pela Secretaria, Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Ciesp (Centro das Indústrias), Sebrae e instituições financeiras, já contempla essa causa.
Ampliar investimentos através de empresas aqui instaladas e buscar soluções para as que, por problemas operacionais, tentarem deixar o Estado são outras metas da Secretaria.
"Ajudaremos na resolução de problemas, pois nossa idéia é fazer com que se mantenham aqui e vivas", anuncia o secretário. Manter empresas pequenas e médias instaladas e "vivas" (produzindo) significa promover a incorporação tecnológica. Na visão do secretário, essa é a condição fundamental para se integrarem, tornando-se competitivas.
Segundo Aníbal, a sua pasta vem desenvolvendo ações no sentido de obter créditos e, para isso, credenciou agências da Nossa Caixa/ Nosso Banco junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para definir linhas de operação. O Banco do Brasil também mostrou-se interessado em ação direcionada a cadeias produtivas, como calçados, plásticos, cerâmicas e têxteis.
A vinda dos investimentos não preocupa o secretário porque, para ele, o ambiente é propício. "São Paulo atrai investimentos, pois o governo tem intenção de disputar mercados", diz. José Aníbal agrega-se à tese recorrente de que a vocação futura de São Paulo, Capital, é a da prestação de serviços de alto nível, por ter pessoal altamente especializado e tecnologia disponível. Promete, para este ano, a extensão da área química da Escola Politécnica para o ABC paulista, com apoio da iniciativa privada e ANP (Agência Nacional de Petróleo), para ali consolidar um pólo petroquímico. Para a zona leste da cidade está prevista ação semelhante. O esforço demonstrado pelo secretário baseia-se, antes de tudo, no parecer de que "o Brasil é o único dos países emergentes em condições de produzir tecnologia. Os demais estão em situação de apenas incorporar".
Notícia
Jornal da USP