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Universidade de Edimburgo abre escritório em São Paulo

Publicado em 24 abril 2013

Por Marcos Jorge

A Universidade de Edimburgo, na Escócia, abrirá um escritório no Brasil com o intuito de se aproximar das instituições de ensino latino-americanas. Apontada como sexta melhor universidade da Europa segundo o Times Higher Education Ranking, a instituição segue os passos de outra gigante do ensino superior, a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. 

E com a projeção da América Latina diante dessas universidades consagradas, o Brasil desponta como um pólo de atração dessas instituições: enquanto os escoceses se estabelecem em São Paulo, a universidade norte-americana escolheu o Rio de Janeiro como destino de sua filial.

"Escolhemos São Paulo como sede por questões práticas, de logística e pelo potencial de mercado que tem a cidade e o Brasil", explica Dalinda Perez, responsável pela coordenação do escritório. "A nossa função vai ser criar vínculos com instituições da América Latina na forma de convênios, colaborações com universidades, órgãos que forneçam bolsas, tudo para dar oportunidades aos estudantes e pesquisadores".

O brasileiro Antonio Ioris, professor de Sociedade e Meio Ambiente do Instituto de Geografia da Universidade de Edimburgo, participou ativamente da abertura do escritório em São Paulo. Segundo ele, a importância estratégica da América Latina no cenário mundial foi um fator determinante para a escolha da cidade como local do escritório escocês.

"A academia britânica como um todo tem muito pouca presença na América Latina. Historicamente, há muito mais presença nas ex-colônias britânicas. Portanto, há um campo imenso a se explorar e a abertura de um escritório serve como uma base física para facilitar essa colaboração", explica o professor. Além do argumento histórico, a pesada burocracia brasileira também tem sido apontada como um obstáculo para esta aproximação.

No caso específico do Brasil, o professor destaca também uma questão cultural. "Historicamente havia pouco estímulo, mas há também uma falta de hábito dos pesquisadores brasileiros em trabalhar internacionalmente. A cooperação internacional toma tempo, exige dedicação, é preciso confiar no parceiro estrangeiro. Não é fácil. E relacionado a isso existe uma baixa e vergonhosa participação dos acadêmicos brasileiros nas publicações internacionais. É uma pena porque tem muita pesquisa boa no Brasil", afirma.

A universidade que já teve em seus quadros nove prêmios Nobel pode ser considerada, de fato, uma instituição internacional. Seu primeiro escritório fora da Europa foi criado há dez anos, na China, enquanto na Índia uma segunda filial foi aberta dois anos atrás. Outro número que impressiona diz respeito ao seu corpo discente: um terço dos seus 31 mil alunos é formado por estrangeiros.

Apesar da intensa persença internacional, a representatividade de estudantes latino-americanos ainda é bastante modesta. Dos cerca de 10 mil alunos estrangeiros, apenas 233 pertencem à região, sendo 28 deles do Brasil, o que representa menos de 0,3% destes intercambistas.

"Agora há uma pressão no governo e nas universidades para que os brasileiros publiquem e se exponham mais para o resto do mundo. Nesse processo, o nosso escritório no Brasil pode cumprir um papel extraordinário", afirma Ioris, que considera o programa federal Ciências sem Fronteiras como um fator importante, mas não determinante para a abertura do escritório.

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No Brasil, a instituição escocesa já tem acordos estabelecidos algumas instituições, como Fapesp, CNPq, USP, Unicamp, entre outros. A Unesp também faz parte da lista de parceiros com um acordo na área de Geociências, sob a coordenação do professor Dimas Dias Brito, do IGCE, em Rio Claro. 

"A Unesp, com o apoio da Petrobras, lidera um estudo sobre as rochas carbonáticas microbianas do Brasil que brevemente dará origem a uma publicação do livro Atlas dos Microbialitos do Brasil. Neste projeto, contamos com a colaboração da colega Rachel Wood, da escola de Geologia da Universidade de Edinburgo. Tal universidade é famosa por ser considerada o berço do pensamento geológico moderno", explica o professor Brito, que também destaca planos de enviar pesquisadores da Unesp para Edinburgo e vice-versa, em 2014.

Na tentativa de aumentar a presença de alunos da América Latina na instituição, outras atitudes estão sendo tomadas. Uma série de palestras foi organizada no Brasil, Chile e México durante o mês de março e um programa oferecerá 12 bolsas de estudo integrais de um ano, voltadas exclusivamente para estudantes latino-americanos de qualquer área do conhecimento. Além disso, ainda neste ano a Universidade de Edimburgo abrirá em seu campus um Centro de Estudos Latino-Americanos, que pretende coordenar e publicar uma série de estudos referentes à região.