Notícia

Gazeta Mercantil

UNIVERSIDADE DARÁ CURSO EM CANAL FECHADO

Publicado em 29 maio 1996

Por POR PAULO TREVISANI JR. DE SÃO PAULO
A Universidade de Santo Amaro (Unisa) está pedindo dinheiro a fundo perdido para o Banco Mundial para ajudar a custear um projeto, orçado em US$ 7 milhões, de criação do que pode vir a ser a primeira rede de ensino superior à distância do País. O plano, deflagrado há um ano, consiste em firmar convênios com instituições de ensino de todo o mundo para transmissão de aulas, ao vivo ou em videoteipe, em um canal de televisão por assinatura. O cronograma da universidade prevê o início dessas aulas dentro de dois ou três anos. O reitor da Unisa, Sidney Storch Dutra, informou que a universidade dará certificados para quem fizer esses cursos, todos em nível de especialização, extensão ou pós-graduação. "A lei nos proíbe ter programa semelhante em nível de graduação", informa o reitor. Em seu entendimento, o artigo 207 da Constituição, que dá autonomia administrativa às universidades, abre espaço para a realização desse projeto. Um dos professores envolvidos no projeto é o médico Liberato Di Dio, vice-presidente da Organização Santamarense de Educação e Cultura, entidade civil mantenedora da Unisa. Professor há 56 anos, Di Dio entende que nem se deve tentar substituir totalmente a sala de aula pela televisão. "Esses telecursos podem ampliar conhecimentos somente para quem já tem uma base adquirida na sala de aula", diz o professor. A princípio, a maior parte das aulas deve ser ministrada pelos quadros da Unisa- uma universidade particular com 23 cursos nas áreas de Exatas, Humanas e Biológicas, com 6 mil alunos e 560 professores. Segundo Di Dio, a Universidade Santo Amaro tentará ter convênios com mestres dos centros -de excelência de instituições de diversos países - os quais poderão enriquecer a programação com suas aulas. A Unisa terá quatro horas por dia num canal de concessão da empresa de planos de saúde Golden Cross. O horário será ocupado, já a partir de novembro, com uma programação aberta, acessível a qualquer pessoa que tenha antena parabólica, mesmo sem assinatura. Esse espaço deve ser ocupado com educação genérica, programas que não representam um curso completo. Por exemplo, uma demonstração de determinada técnica cirúrgica, ou uma explanação sobre um conceito de gestão. O telespectador poderá fazer perguntas pela Internet. Os endereços serão mostrados na tela. Da mesma forma poderá participar quem tiver acesso à programação fechada (distribuída a assinantes com senha), e que só deve ir ao ar a partir de 1998. Dutra espera que até o final do ano o Banco Mundial tenha liberado o equivalente a 50% do custo do projeto. A outra metade corresponde aos gastos com instalações e aluguel do satélite - o que será coberto pela Golden Cross. As parcerias com universidades devem sair de graça para a Unisa - que terá uma receita proveniente das assinaturas. O reitor disse que esteve visitando as principais universidades dos Estados Unidos, no ano passado, e acredita que elas tenham interesse em participar desse projeto. A Unisa espera oferecer seu telecurso, inicialmente no Brasil, depois na América Latina e, finalmente, nas três Américas. A conclusão do projeto está prevista para daqui a sete anos. O primeiro convênio foi fechado com a escola de administração da Georgetown University, de Washington, Estados Unidos - e, como resultado disso, um grupo de professores daquela instituição estará em São Paulo, de 17 a 20 de junho e de 1º a 4 de julho, para dar um curso de R$ 4.625 por participante, no Centro de Convenções GAZETA MERCANTIL, sobre negócios internacionais. Um dos professores é Richard Frank, diretor executivo do Banco Mundial na área de Desenvolvimento do Setor Privado. Dutra informou que está para ser, fechado um contrato semelhante, com a faculdade de medicina da Universidade de Harvard - e devem surgir outros. São acordos de cooperação cultural, que não implicam troca de dinheiro. Tudo deve sair de graça para a Unisa. A instituição mantenedora da universidade de Santo Amaro (bairro da Zona Sul de São Paulo) publicou balanço este ano, acusando um resultado operacional negativo de R$ 5,7 milhões. Dutra atribui o prejuízo às ações filantrópicas da instituição, como o atendimento à população carente no hospital universitário. O hospital tem clínicas e ambulatórios médicos e odontológicos usados por moradores da vizinhança, uma das regiões de mais baixa renda da capital paulista.