Mais de dez novas espécies de crustáceos foram identificadas no Litoral Norte de São Paulo por pesquisadores da Universidade de Taubaté. Resultado de um ano e meio de coletas mensais na Ilha da Vitória, vinculada ao município de Ilhabela, o diagnóstico apontou a existência de nove caranguejos e dois camarões ainda desconhecidos nas águas paulistas.
A pesquisa, coordenada pelo prof. Dr. Valter José Cobo, faz parte de um grande projeto desenvolvido pelo NEBECC (Núcleo de Estudos em Biologia, Ecologia e Cultivo de Crustáceos), da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, que repassa à UNITAU parte dos recursos oferecidos pelo Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo, denominado Biota-Fapesp.
Por se tratar de um ambiente que se destaca pela diversidade de praias, cujas diferenças podem ser notadas até mesmo pela população, a região estudada pelos pesquisadores da Universidade de Taubaté se mostrou propícia para a observação das variações entre os organismos. Por isso mesmo, num primeiro momento, o esforço se concentrou em mensurar as espécies concentradas na costa continental do Litoral Norte. Na segunda fase, desenvolvida atualmente, esse tipo de trabalho é feito nas ilhas. Os pesquisadores acreditam que esses locais são diferentes do ambiente continental e o levantamento em ambos os espaços contribui para futuras comparações.
"Cada ambiente diferente tem possibilidade de abrigar organismos distintos. E é isso que queremos medir. Pesquisamos a diferença para poder compará-los", explicou Cobo.
RESULTADOS
Parte dos resultados obtidos até agora foram publicados na Revista Brasileira de Zoologia, importante periódico da área. O prof. Cobo atribui a incidência identificada de caranguejos nunca encontrados no Estado de São Paulo a diversos fatores: o primeiro deles, seria o resultado de um registro tardio, ou seja, os organismos já deveriam estar na região há algum tempo, mas não haviam sido notados. Depois, as espécies que habitam regiões geograficamente acima do litoral paulista, como a de Cabo Frio, no norte do Rio de Janeiro, podem ter migrado em um período em que a temperatura da água estivesse menor e a tolerância dos crustáceos, maior do que o normal.
"Entretanto, ainda não temos condições de dizer se elas já se estabeleceram. Somente o estudo contínuo desse tipo de situação é que vai nos permitir entender se isso já ocorreu ou se é apenas uma passagem ocasional", destacou o professor.
Além disso, uma observação importante é que a região de Ilhabela está em frente ao porto de São Sebastião, e algumas espécies podem ter ultrapassado a barreira entre Estados dentro dos tanques dos navios cargueiros. Já as duas espécies de camarão identificadas - camarão palhaço e camarão pintado -, levantam uma quarta hipótese: "Elas podem ter sido despejadas no mar como resultado de aquarismo. Muitas vezes, uma pessoa tem um aquário, compra os crustáceos - principalmente o palhaço, que é visivelmente bonito -, mas desiste e joga na água", destacou o coordenador da pesquisa.
COLETA
A coleta de materiais para análise é realizada uma vez ao mês, sempre por dois pesquisadores que fazem dois mergulhos de uma hora cada. Esse procedimento é feito desde junho de 2005 e a previsão é que se estenda até julho deste ano.
A quantidade de espécies coletadas por mês varia de 10 a 40. Dessa
amostragem, é elaborada uma lista, utilizada como referencial para os
pesquisadores: eles partem da hipótese de que o número de crustáceos
encontrados na costa seja diferente do identificado na ilha.
"Algumas espécies são mais abundantes no continente e algumas
mais abundantes na ilha. As investigações são feitas com
base na coleta do ano todo, porque entendemos que a variação do
clima é bastante importante. E como queremos resultados quantitativos,
um dos elementos que estudamos é a abundancia, isto é, a quantidade
de cada espécie. Isso, nós sabemos, sofre uma influência
grande do clima e a principal referência que temos sobre as mudanças
climáticas é o ciclo anual", apontou Valter Cobo.
Nessa pesquisa, o fomento do Biota-Fapesp é destinado ao método
de captura, que depende de barco e equipamentos específicos. Fazem parte
da equipe cinco alunos da UNITAU, dos cursos de Graduação em Biologia,
Especialização em Biologia Marinha e Mestrado em Ciências
Ambientais.
Fonte: Unitau