Pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) identificaram composto bioativo de uma planta encontrada na região da Serra da Mantiqueira que tem propriedades anti-inflamatória, antimicrobiana, antiparasitária e antitumoral.
A planta foi identificada em Campos do Jordão a uma altitude de 1.628 metros.
A descoberta foi feita por pesquisadores do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da universidade.
O composto, denominado sakuranetina, foi identificado na planta Baccharis retusa DC., da família Asteraceae, a mesma do girassol (Helianthus annuus) e de diversas outras plantas medicinais.
O professor João Henrique Ghilardi Lago, coordenador do projeto, afirma que a atividade anti-inflamatória da sakuranetina é similar à da dexametasona, o principal corticoide usado atualmente no tratamento de processos alérgicos e inflamatórios graves.
Segundo o professor, a planta ocorre em abundância na Serra da Mantiqueira.
Início. O trabalho começou a ser desenvolvido em 2007 com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), com o objetivo de buscar compostos com atividade biológica em espécies vegetais de campos de altitude do Estado de São Paulo, um bioma pouco estudado.
“Após a aprovação do projeto, iniciamos as coletas de material vegetal, inicialmente aquelas pertencentes à família asteraceae, dentre as quais a Baccharis retusa, da qual foram isolados diversos flava-nóides e outros polifenólicos, que são compostos dotados de excelentes atividades biológicas”, contou o pesquisador.
O professor relata que o estudo ocorreu ao longo de quatro anos e mostrou que diversas plantas da região da Mantiqueira apresentam compostos com atividade biológica potencial, principalmente, antitumoral, anti-inflamatória e antimicrobiana.
“Esse aspecto é bastante importante, pois, com o reconhecimento do princípio ativo, em muitos casos, é possível preparar esse composto através de síntese química quando de uma utilização em larga escala. Isso é fundamental para evitar a destruição dos nossos biomas”, destaca Lago.
Ele cita como exemplo o caso da aspirina, cujo princípio ativo, o ácido acetilsalicílico, teve a sua estrutura baseada no ácido salicílico isolado das cascas do salgueiro.
Etapas. O professor relata que em uma próxima etapa da pesquisa, será determinar a atividade biológica “in vivo” (modelo animal, tais como em ratos ou camundongos) do composto ativo da planta encontrada na Mantiqueira.
“Isto significa verificar se os extratos e ou substâncias isoladas vão apresentar resposta positiva nos ensaios realizados para avaliar diversos potenciais, tais como antitumoral e anti-inflamatório, entre outros”, afirma o pesquisador.
Também será analisada a toxicidade dos compostos ativos encontrados na planta, explica o pesquisador.
“Isso é fundamental para saber se o extrato e ou a substância é tóxica na concentração na quaI mostrou atividade. O ensaio em humano é a última etapa do desenvolvimento de um fármaco (remédio) e deve ser feito em colaboração com indústrias farmacêuticas”, frisa o professor.
De acordo com o pesquisador, a estrutura da sakuranetina não é muito complexa e, portanto, passível de ser preparada em laboratório. “A utilização desse composto em escala industrial é possível.”
Pesquisa
Coleta foi feita em locais diversos
O professor João Lago relata que a coleta da planta foi realizada em vários locais de Campos do Jordão. O material era secado, extraído e analisado quimicamente. Em seguida, era retirado o composto ativo para a análises de atividade biológica. Para não danificar a planta, era feita extração de pequenas porções, segundo o pesquisador.