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Unifesp estuda uso de planta da Mantiqueira como remédio contra inflamação e tumores

Publicado em 08 fevereiro 2015

Por Chico Pereira

Pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) identificaram composto bioativo de uma planta encontrada na região da Serra da Mantiqueira que tem propriedades anti-inflamatória, antimicrobiana, antiparasitária e antitumoral.

A planta foi identificada em Campos do Jordão a uma altitude de 1.628 metros.

A descoberta foi feita por pesquisadores do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da universidade.

O composto, denominado sakuranetina, foi identificado na planta Baccharis retusa DC., da família Asteraceae, a mesma do girassol (Helianthus annuus) e de diversas outras plantas medicinais.

O professor João Henrique Ghilardi Lago, coordenador do projeto, afirma que a atividade anti-inflamatória da sakuranetina é similar à da dexametasona, o principal corticoide usado atualmente no tratamento de processos alérgicos e inflamatórios graves.

Segundo o professor, a planta ocorre em abundância na Serra da Mantiqueira.

Início. O trabalho começou a ser desenvolvido em 2007 com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), com o objetivo de buscar compostos com atividade biológica em espécies vegetais de campos de altitude do Estado de São Paulo, um bioma pouco estudado.

“Após a aprovação do projeto, iniciamos as coletas de material vegetal, inicialmente aquelas pertencentes à família asteraceae, dentre as quais a Baccharis retusa, da qual foram isolados diversos flava-nóides e outros polifenólicos, que são compostos dotados de excelentes atividades biológicas”, contou o pesquisador.

O professor relata que o estudo ocorreu ao longo de quatro anos e mostrou que diversas plantas da região da Mantiqueira apresentam compostos com atividade biológica potencial, principalmente, antitumoral, anti-inflamatória e antimicrobiana.

“Esse aspecto é bastante importante, pois, com o reconhecimento do princípio ativo, em muitos casos, é possível preparar esse composto através de síntese química quando de uma utilização em larga escala. Isso é fundamental para evitar a destruição dos nossos biomas”, destaca Lago.

Ele cita como exemplo o caso da aspirina, cujo princípio ativo, o ácido acetilsalicílico, teve a sua estrutura baseada no ácido salicílico isolado das cascas do salgueiro.

Etapas. O professor relata que em uma próxima etapa da pesquisa, será determinar a atividade biológica “in vivo” (modelo animal, tais como em ratos ou camundongos) do composto ativo da planta encontrada na Mantiqueira.

“Isto significa verificar se os extratos e ou substâncias isoladas vão apresentar resposta positiva nos ensaios realizados para avaliar diversos potenciais, tais como antitumoral e anti-inflamatório, entre outros”, afirma o pesquisador.

Também será analisada a toxicidade dos compostos ativos encontrados na planta, explica o pesquisador.
“Isso é fundamental para saber se o extrato e ou a substância é tóxica na concentração na quaI mostrou atividade. O ensaio em humano é a última etapa do desenvolvimento de um fármaco (remédio) e deve ser feito em colaboração com indústrias farmacêuticas”, frisa o professor.

De acordo com o pesquisador, a estrutura da sakuranetina não é muito complexa e, portanto, passível de ser preparada em laboratório. “A utilização desse composto em escala industrial é possível.”

Pesquisa

Coleta foi feita em locais diversos
O professor João Lago relata que a coleta da planta foi realizada em vários locais de Campos do Jordão. O material era secado, extraído e analisado quimicamente. Em seguida, era retirado o composto ativo para a análises de atividade biológica. Para não danificar a planta, era feita extração de pequenas porções, segundo o pesquisador.