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UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

Unicamp recebe imagens do mais avançado satélite meteorológico geoestacionário (1 notícias)

Publicado em 12 de dezembro de 2018

As gerações mais antigas devem se lembrar de que há algumas décadas a previsão do tempo transmitida em geral pelas rádios não era levada a sério pela população. O comentário galhofeiro e generalizado era de que se podia esperar o contrário do anunciado nos boletins meteorológicos. O tempo passou e as previsões foram melhorando e adquiriram credibilidade em São Paulo, a partir da década de 1960, com Narciso Vernizzi, o conhecido Homem do Tempo, que em boletins diários na rádio Jovem Pan anunciava as previsões meteorológicas. As previsões resultavam de análises e interpretações de dados como direção e velocidade dos ventos, pressão atmosférica, temperatura obtidos em todos os principais aeroportos brasileiros e até de países como Argentina, Uruguai e Chile. O trabalho exigia dedicação diuturna e acuidade na interpretação e mesmo assim os resultados podiam ser afetados por eventos imprevisíveis. Depois vieram os satélites geoestacionários que passaram a fornecer outras informações como índices pluviométricos, umidade do ar e imagens que permitem entre outras coisas acompanhar a movimentação das nuvens. Embora incertezas persistam, o continuo aperfeiçoamentos dos satélites geoestacionários levam a previsões cada vez mais precisas. Os dados recebidos dos satélites são analisados e traduzidos para o público por meteorologista. Na televisão em geral eles são transmitidos por uma charmosa “moça do tempo”. Hoje, passeios, encontros e até viagens são programadas em função da meteorologia.

O Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, um dos mais importantes centros brasileiros de pesquisas cientificas voltadas à agricultura, que oferece diariamente à comunidade a previsão do tempo, com vistas a gerar informações mais precisas, recebeu em outubro antena para a recepção de imagens do satélite meteorológico geoestacionário GOES-16, o mais avançado desenvolvido pela NOAA (National Oceanic & Atmospheric Administration). Essa antena, de duas toneladas, 4,5 m de diâmetro e custo de 257 mil dólares, adquirida com recursos da Finep - Financiadora de Inovação e Pesquisa, que entrou em operação em novembro, permitirá que o Cepagri receba imagens a cada quinze minutos com informações da superfície, atmosfera, ventos, raios e dados solares com melhor detalhamento. Em decorrência, a previsão do tempo poderá ser realizada com maior precisão e pesquisadores encontrarão condições de realizar monitoramentos e estudos mais apurados voltados tanto para a agricultura - solo, plantação e previsão de safra - quanto para o meio ambiente - florestas e corpos d’água – que poderão mais efetivamente contribuir para o desencadeamento de ações que visem a redução de perdas e danos. Na última sexta-feira (07), o reitor Marcelo Knobel e a coordenadora geral da Universidade, Teresa Atvars, estiveram no Cepagri para conhecer o novo equipamento.

Novo equipamento permitirá que o Cepagri receba imagens a cada quinze minutos com melhor detalhamento.

A diretora do Cepagri, engenheira cartógrafa Renata Ribeiro do Valle Gonçalves, lembra que o centro vem trabalhando com imagens desde 1985 e o primeiro equipamento adquirido chamava-se UAI e os sinais eram recebidos via telefone. Em 1994 foi adquirido o sistema NOAA que permitia a recepção de três a quatro imagens-dia, e que vinha sendo usado até a chegada da nova antena. Mas, em 2014 o centro já tinha promovido outra atualização com o acréscimo do satélite METOP e a partir daí passou a utilizar dois satélites com as mesmas características que possibilitavam a obtenção também de imagens noturnas.

A pesquisadora explica que existem diversos satélites destinados a estudos meteorológicos, ambientais e urbanos. O que os distinguem é a resolução de imagens. Nos estudos meteorológicos as áreas cobertas são muito grandes, mas o detalhamento pequeno, contrariamente do que ocorre nas abordagens urbanas e ambientais em que a área focada é menor mas o detalhamento maior. O desafio é trabalhar com uma imagem que abrange uma área maior, com menos detalhamento, e utiliza-la para estudos agrícolas e ambientais. Nessa linha o Cepagri vem atuando, há 30 anos, desde a década de 1980.

Com o lançamento do satélite GOES-16 a abordagem meteorológica foi reposicionada porque as imagens enviadas são de alta resolução temporal e espacial. Temporal porque chegam a cada 15 minutos ou a cada cinco minutos em eventos extremos, enquanto antes os intervalos eram de uma hora ou no mínimo de 30 minutos. Espacial porque oferece imagens de melhor resolução. A propósito, o engenheiro da computação Bruno Veloso, que no Cepagri atua como técnico de informática encarregado da montagem da infraestrutura e processamentos computacionais, explica que cada pixel, que representa um ponto na imagem, que antes abarcava quatro km agora pode representar de mil a 500 m.

Pesquisadores encontrarão condições de realizar monitoramentos e estudos mais apurados voltados para a agricultura.

Para receber os sinais desse novo satélite houve necessidade de nova antena porque além das mudanças nas resoluções temporal e espacial a quantidade de informações passou a ser muito maior. Renata explica: “Os satélites anteriores nos forneciam imagens correspondentes às regiões do visível e do infravermelho. Agora, além disso, passamos a receber produtos diferenciados como quantidade de precipitação na época das chuvas; correntes de convecção, que permitem estabelecer o deslocamento das massas de ar; índice de vegetação; picos de queimada; quantidade de particulados, que corresponde à poeira disseminada na atmosfera na época das secas; comportamento dos vulcões. E ainda dois dados novos: a detecção de raios a cada 20 segundos, antes realizada com equipamentos terrestres, e a recepção de imagens solares. Trata-se de um diferencial gigantesco que nos permitirá ampliar nossas parcerias não só com unidades de pesquisa da Unicamp como de outras instituições do Brasil e do exterior. Nossa expectativa é que daqui para frente pesquisadores possam, com as dados que teremos disponíveis, contribuir para o desenvolvimento cientifico”.

A Unicamp passa a ser a primeira universidade brasileira a receber imagens do GOES-16. A primeira antena foi instalada uma semana antes na defesa civil do estado de Santa Catarina. Renata explica que “a antena possibilita receber diretamente os dados brutos enviados pelo satélite, e não os já previamente selecionados e disponibilizados pela NASA, sem quaisquer custos adicionais além do valor do equipamento e de sua manutenção”.

O armazenamento desse grande volume de informação constitui um desafio. Para enfrenta-lo houve necessidade da aquisição de um storage, no valor de 500 mil reais, financiado pela Fapesp, que é um computador de alto desempenho destinado ao armazenamento de informações recebidas pelo Centro e que depois serão disponibilizadas aos interessados, esclarece Bruno.