Carlos Henrique Brito Cruz traça planos ambiciosos para a instituição
Laura Knapp escreve para O Estado de SP
Recém-empossado reitor da Unicamp, Carlos Henrique de Brito Cruz estabeleceu algumas metas principais de sua gestão.
Há seis anos presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp), cargo do qual deve abrir mão, já que assumiu a Unicamp em abril e 'o dia só tem 24 horas', Brito é a favor da interação entre a Universidade e as necessidades tecnológicas das empresas, mas defende a pesquisa básica, que jamais será feita pela iniciativa privada. 'Há uma tendência utilitária de se ver a pesquisa no Brasil.'
Quais são seus planos para a Unicamp?
Brito - Um de nossos desafios é desenvolvermos a idéia de multidisciplinariedade, fazendo cada vez mais com que a Unicamp funcione como Universidade e não federação de escolas profissionais. É um desafio grande. Ao longo das últimas décadas houve uma tendência muito forte, centrífuga, de dissociação entre as áreas do saber, de especialização dos currículos. No entanto, mudanças nos trouxeram a isso que se chama a sociedade do conhecimento, recuperando mais o valor da formação do que da informação. A velocidade do avanço do conhecimento se tornou rápida demais e a informação se torna obsoleta muito depressa. Portanto, os profissionais que têm maior chance de contribuir são aqueles que sabem aprender a aprender. Para, precisam ter boa formação fundamental.
Qual seria o outro desafio?
Brito - O desafio da formação fundamental se conecta a uma segunda constatação. A educação merece atenção tanto do ponto de vista curricular como do ponto de vista também de sermos capazes de educar mais estudantes, de aumentar o número de vagas no vestibular.
Não é uma contradição em termos, pretender dar uma formação mais completa e ao mesmo tempo aumentar o número de estudantes?
Brito - Num certo momento haverá uma contradição, porque a instituição está sempre sujeita a restrições de natureza material, salas de aula, número de professores, etc. Por outro lado, nos parece possível que uma melhor organização do funcionamento interno permita acomodar mais estudantes, ao mesmo tempo em que se oferece conteúdo curricular mais completo. Isso pode ser conseguido com um currículo mais ágil, que o estudante possa compor e desenvolver de maneira flexível.
Seria como o sistema americano?
Brito - Não sei se dá para fazer como ele. Talvez usar um pouco da experiência, com um núcleo curricular e outro de especialidades. Algumas faculdades e institutos da Unicamp já têm feito isso. A Faculdade de Engenharia Elétrica tem um núcleo curricular e o que eles chamam de certificados de estudos, que permitem que o estudante faça esse núcleo e depois escolha uma ou mais especializações. No Instituto de Física e de Matemática, o ingresso para os cursos é comum e nos primeiros três semestres o currículo é o mesmo. Fazem a opção da carreira depois de conhecer mais ciência, física, matemática.
Quantas vagas serão abertas?
Brito - Embora haja espaço para crescer, números do passado indicam que não vamos poder aumentar demais. De 1989 para cá, a Unicamp aumentou em 80% o número de vagas. Na época oferecia 1.400, e no vestibular para 2002, foram 2.500. Parte pode ser nos cursos que temos. Mas, dentro do conceito da multidisciplinariedade, queremos estimular os que envolvem mais de uma área do conhecimento.
Há exemplos?
Brito - Temos quase aprovado um curso de física médica. É uma parceria entre o Instituto de Física e a Faculdade de Medicina, para formar um profissional de um tipo bem diferenciado, para o qual há uma enorme demanda no mercado. O físico médico é uma pessoa que usa conhecimentos e princípios da física para aplicá-los em assuntos relativos à medicina. Hoje, muitos assuntos requerem esses conhecimentos. Tudo que tem a ver com medicina nuclear. Determinar doses, protocolos para tratamentos, procedimentos. Tudo que tem a ver com sistemas de imagem, ultrassom, raio X, tomografia.
Existe algum outro ponto relevante de seu programa como reitor?
Brito - Ao lado desses desafios de natureza mais acadêmica, há os de natureza administrativa. O principal deles seria equacionarmos a questão das aposentadorias nas Universidades públicas de SP, oneradas diretamente nos seus orçamentos. Na Unicamp esse é um problema especialmente grave, porque se trata de uma univesidade jovem. Em 1989, com o sistema de autonomia, apenas 3% da folha de pagamentos da Unicamp era destinada a aposentadorias. Hoje, 13 anos depois, 20% da folha de pagamento vai para aposentadorias. É uma pressão imensa.
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