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Correio do Estado (Campo Grande, MS)

Unicamp desenvolve biomateriais para aplicação médica (1 notícias)

Publicado em 04 de novembro de 2003

O desenvolvimento de biomateriais para liberação controlada de óxido nítrico em tratamentos e aparelhos médicos já gerou sete requerimentos de patentes, protocolados pelo Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ-Unicamp), junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O óxido nítrico (NO) é uma pequena molécula - composta por um átomo de nitrogênio e outro de oxigênio - de grandes efeitos fisiológicos, conforme define Marcelo Ganzarolli de Oliveira, coordenador do grupo de pesquisa com os biomateriais, no IQ-Unicamp. Trata-se de uma molécula produzida pelo organismo dos mamíferos, mas que também pode ser obtida através dos chamados compostos doadores de óxido nítrico, de origens e composições diversas. Entre suas propriedades está a de controlar a pressão arterial, contribuindo para aumentar a eficácia de tratamentos contra arterosclerose e em caso de crises de hipertensão e angina, por exemplo. Também é uma molécula utilizada pelo sistema imunológico, nos processos de defesa do organismo contra agentes patológicos - e, entre eles, o protozoário causador da leishmaniose - e no sistema cardiovascular, como um neurotransmissor. Iniciada em 1995, a pesquisa da Unicamp visa obter compostos atóxicos, que possam ser combinados a materiais poliméricos (como filmes ou adesivos farmacológicos) ou alguns tipos de gel, permitindo sua liberação controlada. Tais produtos substituem, com vantagens, os medicamentos atuais, à base de nitroglicerina (a mesma dos explosivos) e nitroprussiato de sódio (que contém o veneno cianeto). Além de eliminar o risco de intoxicação, as novas substâncias produzem os efeitos desejados mais rápido e por períodos mais prolongados, permitindo a redução das doses e dos riscos dos tratamentos cardiovasculares. Três compostos de uma mesma classe química já foram testados e aprovados em laboratório e, em alguns casos, avaliados em modelos vivos (ratos e camundongos). Através de uma parceria com o Instituto do Coração (Incor), ligado à Universidade de São Paulo, agora terão início os testes em voluntários humanos, que devem durar alguns anos. "Também desenvolvemos um biomaterial para recobrimento de aparelhos médicos, como os utilizados em angioplastias ou cateterismo", conta Ganzarolli de Oliveira. A função dos compostos doadores de óxido nítrico, nestes casos, é evitar a trombose da artéria e/ou provocar o relaxamento muscular, com a conseqüente diminuição da pressão arterial. A equipe testou, com sucesso, o recobrimento de stents, uma pequena malha metálica usada para a dilatação de artérias em processo de arterosclerose. Outro desenvolvimento, este realizado em parceria com o médico dermatologista escocês Richard Weller, da Universidade de Edinburgo, resultou na produção de um gel de aplicação externa capaz de acelerar a cicatrização de queimaduras e feridas de leishmaniose cutânea, além de tratar psoríase. Os recursos para os equipamentos utilizados nas pesquisas com os novos biomateriais, nestes 8 anos, vieram da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no valor total aproximado de R$ 87 mil. O custeio é proveniente de bolsas de mestrado e doutorado da Fapesp e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de auxílios individuais à pesquisa. Já foram concluídos 3 mestrados e um doutorado, neste área, e mais 2 doutorados e 2 mestrados estão em andamento. A equipe ainda conta com a colaboração de mais dois pesquisadores do Instituto de Química, um do Instituto de Biologia e outro da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, além das equipes do Incor e Universidade de Edinburgo. Um novo financiamento a equipamentos de avaliação dos biomateriais deverá permitir, em breve, o desenvolvimento de filmes e géis para outras finalidades médicas, sempre explorando as propriedades fisiológicas do óxido nítrico.