Os impactos ambientais, mas também sociais, econômicos e em termos de capacitação tecnológica, de pesquisas desenvolvidas por instituições públicas ou privadas poderão ser mensurados de agora em diante, em razão de uma metodologia inovadora no Brasil, desenvolvida pelo Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi) do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Formulada como um instrumental a ser utilizado por gestores, pesquisadores e analistas de instituições publicas ou organizações privadas, na difícil tarefa de avaliação de projetos e tomada de decisões, a nova metodologia já foi testada em pesquisas científicas relacionadas às duas principais culturas agrícolas de São Paulo, a cana-de-açúcar e a laranja.
A nova metodologia, desenvolvida pelo IG-Unicamp é resultado do "Projeto Políticas Públicas para a Inovação Tecnológica na Agricultura do Estado de São Paulo: métodos para avaliação de impactos da pesquisa", financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) - agência de fomento do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Como explica o professor André Tosi Furtado, professor do DPCT-IG-Unicamp, as metodologias tradicionais existentes consideram apenas uma dimensão para avaliar o impacto de uma pesquisa científica, e essa dimensão é geralmente a econômica. Ou seja, é avaliado se uma pesquisa, financiada com dinheiro público ou privado, tem retorno econômico ou não. Com a nova metodologia, batizada de Esac (sigla das dimensões econômica, social, ambiental e de capacitação), é possível verificar também se essa pesquisa teve impactos ambientais, sociais e de capacitação das pessoas envolvidas.
Na prática, o DPCT-IG-Unicamp funcionou como coordenador de uma grande rede interinstitucional para o desenvolvimento da metodologia, e que foi fruto de uma parceria entre Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC-RJ) e Bureau d'Economie Théorique et Appliquée (Beta), ligado à Universidade de Estrasburgo (França).
As pesquisas em que a metodologia Esac foi testada são coordenadas pelo próprio IAC. Nessa fase de teste, segundo a professora Maria Beatriz Machado Bonacelli, também do DPCT-IG-Unicamp, os pesquisadores fizeram mais de 90 viagens aos municípios produtores de cana e laranja objeto da avaliação.
No segmento sucroalcooleiro, foi avaliado o Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar (Procana). Foram visitados municípios nas regiões de Ribeirão Preto e Piracicaba, as principais produtoras do Estado.
A metodologia Esac não identificou impactos ambientais relacionados ao uso da terra, decorrentes da introdução de novas variedades de cana-de-açúcar associadas ao Procana, coordenado pelo IAC. Um impacto positivo detectado é a tendência de possível utilização do bagaço da cana na co-geração de energia, um dos grandes desafios ambientais atuais vinculados à questão energética.
A tendência existe em razão da maior qualidade das novas variedades de cana, apresentando maior teor de fibras, o que reforça a possibilidade de uso do bagaço em co-geração, que é apontada como uma das possíveis contribuições do Brasil aos desafios impostos pelas mudanças climáticas globais.
Impactos ambientais positivos foram verificados no caso da outra pesquisa coordenada pelo IAC a avaliada pela metodologia Esac, no contexto do Programa de Produção de Borbulhas e Mudas Sadias de Citros. O programa vem sendo desenvolvido de forma vinculada à nova forma de produção de mudas de citrícolas, em viveiros telados, fechados e não mais abertos como anteriormente, inclusive em atendimento a uma nova legislação. O instrumental metodológico indicou que a estruturação dos viveiros telados reduz os efeitos erosivos e diminui a necessidade de utilização de insumos como os agrotóxicos na produção das mudas.
A professora Maria Beatriz Machado Bonacelli lembra que a metodologia foi desenvolvida para avaliar as pesquisas do IAC, mas o instrumental poderá ser utilizado pelas outras instituições parceiras do projeto. Como fruto do esforço que resultou na Esac, foi igualmente desenvolvido um software para uso dos parceiros, e que será muito importante na avaliação das pesquisas que eles realizam, agora com a dimensão ambiental totalmente incorporada no sistema de aferição de resultados.
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)