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Agência Estado

Unicamp avalia desempenho ambiental de usinas de álcool

Publicado em 26 janeiro 2000

O álcool polui menos do que a gasolina, contribui menos para o efeito estufa e é um recurso energético renovável. Isso todo mundo sabe. Mas até que ponto a produção do álcool - da plantação da cana-de-açúcar até a saída da destilaria - tem um bom desempenho ambiental? Esta foi a base da tese do economista cubano Manoel Antonio Valdés Borrero, que concluiu há uma semana sua tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, no Departamento de Planejamento de Sistemas Energéticos. Borrero analisou os dados econômicos e parâmetros de gestão ambiental de três usinas paulistas, localizadas em Paulínia, Piracicaba e Sertãozinho. Os dados analisados correspondem a 10 anos de operação destas usinas, na produção de álcool. "Um dos resultados obtidos é uma metodologia de avaliação do desempenho ambiental na cadeia produtiva do setor alcooleiro, agrupando parâmetros anteriormente tratados de forma dispersa", observa Manoel Borrero. A pesquisa levou 3 anos para ser concluída e abrange 10 anos de operação das usinas, de 1987 a 1997. Contou com financiamento total de cerca de 50 mil reais, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Fapesp, e colaboração da Embrapa Monitoramento por Satélite e da Companhia de Tecnologia de Saneamento de São Paulo, Cetesb. As conclusões de Borrero reforçam algumas teses bem conhecidas, mas também trazem novos dados sobre os quais o setor deve refletir. Entre as teses conhecidas, as queimadas pré-colheita ainda constituem o maior impacto ambiental na produção do álcool, devido à emissão de gases, emissão de material particulado e perda de fertilidade orgânica do solo. A colheita mecanizada sem queima ainda é incipiente, mas coincide com as usinas que apresentam produtividade crescente. Nas usinas onde só se colhe cana queimada, a produtividade é estável ou decrescente. Uma surpresa, para Borrero, foi verificar que a relação do número de empregados por hectare de cana colhida tem caído nas usinas onde ainda se colhe cana queimada e aumentado onde se faz colheita mecanizada de cana crua, jogando por terra o falso antagonismo dos benefícios ambientais e sociais. As usinas que adotaram rotação ou intercalação de culturas (amendoim, feijão ou soja) também tem produtividade crescente. A conservação do solo, de modo geral, foi considerada boa. Não há grandes sinais de erosão nas culturas de cana. E a expansão da área cultivada já não se faz mais sobre áreas de vegetação natural. Ao contrário, o estudo do economista cubano registrou áreas de cana substituídas por reflorestamentos com essências nativas. Por outro lado, o uso de resíduos sólidos e líquidos como fertilizantes, não corresponde a uma queda no uso de insumos químicos. Quer dizer, embora tenha o grande mérito de livrar os rios da poluição por vinhoto, seu reaproveitamento (e dos resíduos sólidos, como torta de filtro, cinzas e fuligem das caldeiras) no solo não elimina o risco de contaminação ambiental por agrotóxicos e excesso de fertilizantes químicos. E mais: o uso destes é crescente e não corresponde a um aumento de produtividade. Além disso, o uso do vinhoto como fertilizante está efetivamente restrito a poucas áreas - por questões econômicas e físicas. Cresce a cada ano a quantidade de vinhoto produzida, mas as áreas que o recebem são as mesmas, tendendo à saturação, com risco de contaminação do lençol freático. Segundo Borrero, a distribuição do vinhoto no campo é restrita a áreas próximas à usina - dado o alto custo de transporte - e de relevo favorável, limitando-se a 5% do total de vinhoto produzido, em média. Os outros 95%, juntam-se às águas servidas para usos internos na produção industrial (sobretudo resfriamento), contribuindo para a positiva redução no consumo de água externa à usina. As usinas são praticamente auto-sustentáveis em termos energéticos, com o uso do bagaço de cana nas caldeiras. A fuligem produzida pela queima do bagaço é bem resolvida com o uso obrigatório de lavadores de gases nas chaminés.