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Unesp se destaca em rede internacional de pesquisa com jornais

Publicado em 20 maio 2013

Por Marcos Jorge

Desde outubro de 2012, Unesp e a Universidade de Versailles cooperam no desenvolvimento do projeto Transfopress, uma rede transnacional cujo objetivo é catalogar e analisar a imprensa publicada em língua estrangeira pelo mundo. Apesar de recente, a rede está presente em mais de 15 países, reunindo cerca de 120 pesquisadores, 30 deles do Brasil, local onde o projeto está mais adiantado.

Sede do Transfopress no país, a Unesp também articula a digitalização de acervos de jornais estrangeiros na Biblioteca Digital, usando como fonte o acervo de suas próprias bibliotecas, de acervos nacionais e de institutos ligados à comunidades de imigrantes.

Segundo a idealizadora do projeto, professora Diana Cooper-Richet, este material pode render pesquisas interessantes sobre seu conteúdo, o que pensavam os grupos que publicavam estes periódicos, quais eram seus modelos editorias, ou fazer comparações com jornais de outros países, por exemplo.

A professora da Universidade de Versailles, na França, ressalta que o projeto é um excelente facilitador para cooperações internacionais em pesquisa. "É possível, por exemplo, convidar professores japoneses para estudarem jornais japoneses no Brasil. Ninguém no Japão jamais estudou esses documentos porque eles não existem em nenhum outro lugar do mundo", afirma.

"Se você pensa em internacionalizar sua universidade, este projeto é excelente. Você pode ter pesquisadores de qualidade vindos da Alemanha, do Japão, da França para estudar este material e isso é magnífico", ressalta a professora francesa. "Você cria realmente um ambiente de cooperação internacional. Não é apenas assinar um acordo no escritório, mas realmente trabalhar em conjunto com pesquisadores de outro país".

Apesar do potencial de elaborar estudos com diferentes vieses e de abrir portas para a internacionalização, a pesquisadora acredita que este grupo de periódicos nunca recebeu a devida atenção da comunidade acadêmica. "Comecei a trabalhar com este material há alguns anos e não tinha com que comparar, nenhuma referência", afirma Diana. Diante desta dificuldade, a professora da Universidade de Versailles abriu uma chamada internacional para colaboração com o projeto, que foi então chamado de Transfopress.

A aproximação da Unesp com o Transfopress aconteceu por meio da professora Valeria Guimarães, que coordena pesquisas sobre trocas culturais entre a imprensa brasileira e francesa em Franca e envolveu Diana nos programas Jovem Pesquisador, da Fapesp, e Cátedras Francesas. O envolvimento permitiu a estadia da professora no Brasil entre abril e junho de 2013.

Em abril, a Unesp sediou o primeiro encontro Transfopress Brasil, que promoveu cursos de curta duração e seminários em diversas unidades da universidade, bem como a publicação de uma coletânea de artigos sobre o tema. "Eu acredito que um dos grandes méritos desse projeto é estudar a imprensa nacional juntamente com a internacional e a partir dessa composição entender nossa identidade pela visão do outro, pela alteridade", analisa a Valéria, que integra o comitê científico do projeto e leciona Teoria da História e História da Cultura, em Franca.

O encontro realizado em abril também rendeu uma cooperação importante com a Biblioteca Digital. A idéia é não apenas digitalizar o acervo de periódicos internacionais disponíveis nas bibliotecas da Unesp, mas também buscar outras fontes que possam fornecer este tipo de material para digitalização.

"Nós conseguimos que o Arquivo do Estado fornecesse uma lista de jornais que eles têm publicado em língua estrangeira e partir dela estamos organizando o material. Além disso, nós queremos envolver outros grandes acervos, como institutos judaicos ou institutos japoneses", explica a professora Tânia Regina de Luca, professora de história em Assis que colabora com o projeto e também desenvolve pesquisas na área de História da Imprensa. "No fundo, o que estamos tentando fazer é cruzar a disponibilidade deste material na Biblioteca Digital com os objetivos da Transfopress".

O primeiro pacote de documentos que será disponibilizado em formato digital pertence ao acervo da biblioteca do Instituto Martius-Staden. A entidade, criada em 1916, detém em sua biblioteca a maior coleção de jornais em língua alemã publicada no Brasil (o Germânia , publicado de 1878 a 1923, o Deutscher Morgen, jornal nazista de 1932 até 1940, e oDeutsche Zeitung, de 1897 a 1922 e que ainda está em circulação).

"Os jornais têm um valor específico para nossos historiadores e estudantes de alemão. Eles mostram como era a vida destes imigrantes aqui em São Paulo. Além de sociólogos e antropólogos, muitos escritores brasileiros também se interessam pelo resgate destas histórias antigas", afirma o diretor do instituto, Eckhard E. Kupfer.

"Os alemães estão numa fase de analisar o nazismo, mas nós não tínhamos muitas informações sobre nazismo no Brasil, por exemplo. Os jornais são uma possibilidade para saber como eles atuavam aqui. Isso é uma novidade mesmo na Alemanha", explica.