Tão pequenos quanto danosos, os carrapatos atrapalham a vida financeira de muitos pecuaristas. Parasitas e transmissores de doenças, esses animaizinhos causam perda na produção de carne, de leite e de couro. Para reverter esse quadro, o veterinário Gervásio Bechara, do Departamento de Parasitologia Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, campus de Jaboticabal, coordena uma pesquisa, ainda em andamento, que procura substâncias com potencial imunológico produzidas no organismo do carrapato, os chamados correlatos imunes. "Essas substâncias quando utilizadas na vacina agem no mecanismo de defesa do hospedeiro protegendo-o contra o ataque do parasita, que morre ao sugar o sangue", explica.
Entre as doenças transmitidas pelo ácaro, a babesiose é uma das mais comuns. Ela provoca perda de peso, anemia e pode levar à morte. Para a indústria de couro, grande parte dos prejuízos é causada pela incidência do parasita no rebanho. "Ao picar o animal, o carrapato causa uma lesão na pele, que compromete a qualidade do couro", explica Bechara. Segundo dados do Ministério da Agricultura, as perdas anuais com exportação no setor são de aproximadamente US$ 2 bilhões, sendo que 50% dos defeitos no couro devem-se ao manejo inadequado e à falta de controle de parasitoses.
Atualmente, para contornar o problema, os pecuaristas fazem uso de acaricida, substância química que contamina não só o meio ambiente, como também a carne e o leite. A utilização desse produto pode, ainda, gerar problemas futuros. "É bem provável que daqui a alguns anos a União Européia e outros países não aceitem mais importar carne e leite originados de animais infestados e o Brasil sofrerá uma barreira sanitária", prevê Bechara.
De acordo com o veterinário, embora já existam no mercado vacinas anticarrapatos cubanas e australianas, o tempo de vigência delas é curto e não dispensa o uso do acaricida. "A expectativa é de que a vacina que estamos desenvolvendo tenha um prazo de proteção maior e que não se necessite mais de acaricida."
A pesquisa é financiada pela fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo Programa de Apoio do Núcleo de Excelência de Ensino (Pronex), com o auxilio da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto.
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