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Jornal da Unesp

UNESP participa de novo programa da Fapesp - Empurrão bem-vindo (1 notícias)

Publicado em 01 de novembro de 2000

Por Oscar D'Ambrosio
Desde setembro último, o Estado de São Paulo conta com dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), que receberão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) R$ 16,87 milhões anuais nos próximos cinco anos. Eles se beneficiam de uma nova modalidade de financiamento, dirigida a instituições interessadas em desenvolver projetos multidisciplinares com efetiva transferência de conhecimento à sociedade. Entre os dez Centros escolhidos, dois contam com a participação da UNESP: o Centro Multidisciplinar de Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) e o Centro de Toxinologia Aplicada (CTA). "Eles passaram por um rigoroso processo de seleção e colocam nossa Universidade num elevado patamar de prestígio científico", avalia o reitor da UNESP, Antonio Manoel Santos Silva. Semelhante ao Sciences and Technology Center, um programa da National Science Foundation (NSF) dos EUA, atualmente com 35 projetos em andamento, cada Cepid incentiva a formação de núcleos de trabalho científico. Estes núcleos devem integrar um programa multidisciplinar de pesquisa básica ou aplicada, a realização de projetos de inovação tecnológica e a interação com o sistema educacional, por meio de cursos ou recursos pedagógicos - museus de ciência, vídeos e softwares. "Os Cepids escolhidos consolidam uma visão de co-responsabilidade do sistema de pesquisa nas questões sociais", afirmou, na cerimônia de lançamento oficial do programa, o presidente em exercício da Fapesp. Paulo Eduardo de Abreu Machado, também diretor da Faculdade de Medicina (FM) da UNESP, câmpus de Botucatu. MULTIDISCIPLINAR Com a principal proposta de tratar a cerâmica sob um enfoque interdisciplinar, a Universidade Federal de São Carlos (UFS-Car) e o Instituto de Química (IQ) da UNESP, câmpus de Araraquara, são responsáveis pelo CMDMC, que receberá R$ 1,8 milhão anualmente. "Promoveremos o trabalho conjunto e a troca de conhecimentos entre matemáticos, físicos, químicos e engenheiros, na pesquisa básica e tecnológica da área de cerâmica", diz o engenheiro de materiais José Arana Varela, do Departamento de Química Analítica do IQ, que participa do Centro junto com Mano Cilense, Maria Aparecida Zaghete e Leining Perazolli, seus colegas no Instituto. "Buscamos a otimização de propriedades ópticas, elétricas, refratárias e supercondutoras que possam nos conduzir a novas tecnologias de cerâmica", conta. O CMDMC, cujo núcleo aglutinador é o Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (LIEC), reúne pesquisadores do IQ, da UFSCar, do Instituto de Física da USP/São Carlos, do Departamento de Química da USP/Ribeirão Preto e do Instituto de Pesquisas Energéticas (Ipen). "Estudamos os processos da síntese, a morfologia e as propriedades físico-químicas de novos materiais", explica Varela. Outro Cepid com participação da UNESP é o Centro de Toxinologia Aplicada (CAT). Destinado a explorar toxinas de animais, como venenos de cobras, escorpiões e aranhas, e microorganismos de grande interesse médico, social, econômico e ecológico, leva em conta a rica biodiversidade brasileira. "Nossas pesquisas incluem o desenvolvimento de uma nova geração de drogas anti-hipertensivas, a partir de venenos de serpentes, e de anti-depressivos,a com componentes de venenos de aranhas", conta o bioquímico Mário Sérgio Palma, do Centro de Estudos de Insetos Sociais (CEISi, unidade auxiliar do Instituto de Biociências (IB) da UNESP, campus de Rio Claro, que integra o CAT, sendo responsável pelas análises de elucidação da estrutura molecular das toxinas orgânicas de baixo peso molecular. INTERESSE SOCIAL O CAT, que receberá R$ 1,3 milhão/ano, terá como sede o Instituto Butantan, em São Paulo. Além da parceria com o CEIS, tem a participação do Instituto de Biociências e Letras (Ibilce) da LNESP, campus de São José do Rio Preto, do Centro de Biologia Marinha da USP, dos Departamentos de Fisiologia e de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da USPe do Laboratório de Peptídeos do Departamento de Biofísica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além dos laboratórios farmacêuticos brasileiros Sintofarma, Biosintética e Biolab/Sanus. "Essa rede permitirá a obtenção de produtos de interesse farmacêutico e social", aponta Palma. A coordenação do estudo cristalografia) das toxinas animais pertence ao físico Wal-ter Filgueira de Azevedo Jr., do Departamento de Física do Ibilce, que trabalhará ao lado dos colegas João Ruggiero Neto e Joh-nny Ri/zieri Olivcri. "Muitas toxinas animais já mostraram que podem ser utilizadas para a elaboração de novas drogas. O CTA irá concentrar atenção naquelas que apresentam potencial farmacológico", conta A/evedo. Os Cepids receberão financiamento da Fapesp por cinco anos, mas, de acordo com o desempenho, esse prazo pode se estender a 11 anos. Ao final desse período, eles devem se tornar autônomos e independentes dos recursos do Estado. Para Paulo Machado, presidente em exercício da Fapesp, dependendo da finalidade e do perfil de cada Centro, eles logo criarão parcerias com grandes empresas ou gerarão pequenos negócios. "A idéia é que esses projetos decolem o quanto antes", conclui. A escolha dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) foi objeto de uma longa seleção. O projeto foi lançado em outubro de 1998, com 112 inscrições. Após a primeira triagem, realizada por 12 especialistas de outros Estados, permaneceram 29 instituições, que enviaram o plano gerencial e as propostas de trabalho detalhadas. Houve então uma nova avaliação, conduzida com o apoio de 120 assessores internacionais. "Chegou-se à relação de dez centros pré-qualificados, anunciados em fevereiro último", conta o diretor científico da Fapesp, José Fernando Perez. Na última etapa, realizada em maio, uma comissão internacional examinou in loco a infra-estrutura, a qualificação dos profissionais e as propostas de trabalho das instituições pré-qualificadas. Essas visitas embasaram o anúncio oficial dos dez Cepids. "Eles terão autonomia para utilizar os recursos financeiros, mas serão avaliados continuamente", comenta Perez. "O acompanhamento por especialistas internacionais assegura a qualidade dos projetos e contribui para uma visibilidade maior da ciência brasileira", afirma.