A Agência Unesp de Inovação está negociando parcerias com a Universidade de Harvard e com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) para prospectar na Unesp, pesquisas em biotecnologia e recursos naturais passíveis de serem desenvolvidos e transformados em produtos e processos inovadores, informou o diretor-executivo da agência, José Arana Varela, em entrevista à Revista Sustentabilidade.
"Já começamos com um acordo com a Universidade de Harvard [nos Estados Unidos] e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) para criar ferramentas de prospecção de possíveis tecnologias e buscar meios de acelerar o processo de desenvolvimento das tecnologias identificadas pela prospecção", explicou o químico.
Criada no dia 30 de março de 2009, a Agência Unesp de Inovação tem como missão estimular o desenvolvimento de conhecimentos que possam ser revertidos em benefícios à sociedade, para influenciar as políticas públicas e contribuir para a solução de problemas locais, além de possibilitar a troca de informações entre alunos e centros de tecnologias paulistanos.
De uma certa maneira, a nova agência é uma ideia do próprio Varela que, quando pró-reitor de pesquisa da Unesp em 2007, ajudou a fundar o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), destinado especificamente a atuar na proteção intelectual dos pesquisadores da universidade. Por causa desta experiência e de sua participação como membro do conselho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Varela foi nomeado diretor-executivo da Agência Unesp de Inovação.
"A criação do NIT foi uma forma de institucionalizarmos o programa de proteção intelectual, o que já era uma certa tradição na universidade, porém, desde a sua criação, já tínhamos em mente a sua evolução para uma agência de inovação", disse Varela à Revista Sustentabilidade.
Leia os principais trechos da entrevista.
Revista Sustentabilidade: O que mudou com a alteração de Núcleo de Inovação Tecnológica para Agência de Inovação?
Varela: O Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) foi criado quando eu era pró-reitor de pesquisa da universidade em 2007. Porque nós tínhamos uma certa tradição de proteção intelectual e foi uma maneira de institucionalizarmos esse programa de proteção intelectual, visando também a indução da proteção, quer dizer, não somente avaliar se vale a pena ou não proteger, mas também induzir esse processo.
Evidentemente esse núcleo foi criado pensando numa evolução para agência mesmo, porque ele não tinha uma perspectiva de induzir, para atender a demanda da própria universidade, de analisar pedidos de patentes e em alguns casos fazer a transferência desse conhecimento para empresas, em contratos de royalties. Tivemos alguns nesse período de dois anos.
Então nós pensamos o seguinte: faltava alguma coisa no NIT. Na época, o núcleo era comandado por uma gerente, que fazia seu papel muito bem, mas a interação com outras agências e com outras universidades, governo e agências de fomento ficava um pouco prejudicada, porque ela não era uma docente, uma formadora de opinião. Então, nós resolvemos mudar para agência, mantendo a mesma filosofia do NIT e acrescentando novas filosofias, outras demandas.
Propussémos isso ao conselho universitário: que o núcleo passasse a ser agência e que tivesse uma diretoria formada por docentes da universidade, formadores de opinião. Isso aconteceu no final do meu mandato de pró-reitor e administração [na época] resolveu apostar na agência de inovação.
O grande foco e a grande necessidade é que a nossa sociedade possa receber esse conhecimento em forma de benefícios, de caráter industrial ou social, e, portanto, que o conhecimento não fique simplesmente em publicações [especializadas], às quais a sociedade em geral não tem acesso.
O importante é que tenhamos uma política antes de publicar um trabalho, de forma que o pesquisador avalie se aquele conhecimento tem um valor comercial ou não. Conhecimento que possa gerar riquezas para a sociedade. Você tem que proteger este tipo de inovação.
A agência tem um conselho de gestão que vai definir políticas, decidir o que proteger, de que forma, o quanto proteger e, da mesma maneira, definir como transferir isso para sociedade. O modus operandis da agência será esta diretoria, que está ligada à fundação da Unesp (Fundunesp) para ser mais ágil e tornar a agência capaz de focar na transferência do conhecimento.
RS: Qual é a importância da transferência do conhecimento para a sociedade em geral?
Varela: Quando o NIT foi criado, inicialmente, as pessoas pensavam inovação tecnológica, hoje passamos a pensar simplesmente em inovação, de uma maneira genérica. Inovação que envolve mudanças sociais, renovações - especialmente nas áreas sociais, que possam influir na criação de certos procedimentos para políticas públicas, em governos locais, já que a Unesp esta distribuída em todo o estado de São Paulo e conta com uma participação muito efetiva nas administrações locais e na definição de ATLs. Em suma, além de fazer inovação, transferir o conhecimento para gerar produtos e processos, transferir conhecimentos para gerar políticas públicas, renovar em politicas publicas e também inovar em serviços.
Esse foi o nosso foco global. A agência não tem só como finalidade atender a demanda [por produtos e processos inovadores], mas também de induzir uma demanda, mudar culturalmente a universidade, para que a sociedade também possa receber, possa mudar esse processo. É importante que a sociedade possa entender que o que se faz na universidade é útil para ela. Este é o foco principal, a universidade não pode estar distante da sociedade.
RS: Qual é a estrutura da agência com as mudanças?
Varela: A diretoria é a responsável pela agência, para tocar o programa definido pelo conselho. Mas a agência é enxuta. Ela tem basicamente uma diretoria, uma gerência que vai tratar das estratégias e da comercialização de tecnologia e da realização de parcerias. Essa gerência terá um estagiário, aprendendo a fazer isso.Nós vamos aprender, vamos trabalhar com o estagiário para aprender e para ensinar.
A assessoria jurídica vai ter um advogado e um estagiário, vai trabalhar na proteção intelectual, depositar patentes, depositar direitos autorais.Vamos ter um setor administrativo e um de comunicação e imprensa, com um jornalista e um estagiário, para a divulgação das iniciativas da agência, pois ela tem a finalidade de ser uma formadora de opinião junto a comunidade, então, é necessário que essa agência divulgue para a sociedade os benefícios da transferência de conhecimento.
Serão nove pessoas, sendo três estagiários, além destes, vamos ter bolsistas financiados pela Finep em um projeto de relacionamento com as outras agências para fazermos um portfólio de pesquisas dentro da Unesp. Em suma, nos vamos ter um corpo ainda não muito grande, e ele vai crescendo de acordo com a demanda, de acordo com o que nós pudermos induzir.
Vamos atuar incentivando muito o empreendedorismo, com a criação de empresas spin-offs. Para isso nós vamos induzir a criação de novas incubadoras junto com o Sebrae e com as prefeituras locais. De preferência, esperamos que essas incubadoras sejam de base tecnológica.
Além disso, vamos participar de praticamente todos os parques tecnológicos do Estado de São Paulo, com um laboratório ou um escritório dentro desses parques, porque muitos dos nossos pesquisadores da Unesp vão atuar dentro desses parques tecnológicos.
A Unesp tem 14 ou 15 empresas juniores, que são formadas por alunos com uma certa visão de empreendedorismo e o que nos vamos fazer na agência será articular essas empresas no sentido de proporcionar uma troca de experiências dentro de uma rede virtual, inclusive com um sistema de respostas técnicas entre elas.
RS: Como a agência atuará no sentido de incentivar as empresas juniores a darem respostas sustentáveis a sociedade?
Varela: É uma questão de indução, as empresas juniores têm as mais variadas formas, porque hoje se sabe que dentro de uma escola de odontologia, por exemplo, os futuros dentistas serão micro-empresários e as empresas juniores de saúde têm que trabalhar nesse relacionamento com as empresas correlatas. Outro exemplo são as empresas juniores do Instituto de Química. Elas estão ajudando a solucionar alguns problemas que as empresas locais têm, buscando respostas com alunos e professores para tentar resolver. Então, a ideia é que isso venha comungar com aquilo que nós queremos com a função da agência, só que a participação desses empreendedores no processo vai ser incentivado.
Evidentemente a agência vai dar todo o suporte para que eles evoluam nesse processo de transferência de conhecimento para as empresas, no relacionamento com elas. Muitas dessas empresas juniores estão resolvendo problemas para agricultores, para pequenas empresas de química e na área de saúde também.
Como essas empresas já existem e nós já sabemos exatamente onde elas estão e onde aturam, nós queremos fazer um portal para trocarmos experiências. O que queremos é que elas troquem informações, para que sejam criadas outras empresas e que a universidade incentive essas empresas com uma ajuda financeira e que elas participem também do processo de cursinhos dentro da Unesp.
RS: O que a agência fez de concreto no seu primeiro mês de existência ?
Varela: As patentes já vinham sendo depositadas, as informações já vinham sendo solicitadas ao longo do tempo, isso não parou. O NIT não parou para a criação da agência, o que está mudando é a forma como nós vamos atuar dentro desse processo de transferência para a sociedade.
Já tem muita coisa acontecendo por demanda espontânea, porque a Unesp está crescendo e essa demanda também. Ainda estamos nos organizando e nisso nós temos uma agenda para esse ano, que será submetida ao conselho. Já começamos com um acordo com a Universidade de Harvard [nos Estados Unidos] e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) para criar ferramentas de prospecção de possíveis tecnologias e buscar meios de acelerar o processo de desenvolvimento de novas tecnologias de possibilidades identificadas pela prospecção. Esse projeto foi submetido à Fapesp com a participação de pesquisadores com larga experiência nos EUA e com pesquisadores aqui do Brasil, e será focado em biotecnologia e produtos naturais.
Outra iniciativa deste primeiro mês foi o lançamento do concurso que escolherá o nome fantasia e o logotipo da agência. O concurso é aberto à qualquer aluno da Unesp, independente da graduação que ele curse.
RS: Como será a divulgação da agência para os alunos e professores?
Varela: Primeiramente, as empresas juniores serão visitadas, para que façam parte do nosso portal. Depois pretendemos visitar todas as unidades da Unesp, fazendo plantões para a solução de dúvidas de professores e alunos, explicando os propósitos da agência.
RS: Como a comunidade unespiana tem encarado a criação da agência? Já perceberam o potencial que ela representa?
Varela: A agência ainda não está em evidência, porque é muito recente. Mas ao mesmo tempo, ela representa o desejo que as pessoas de que o NIT fosse ampliado, no sentido de que suas ações fossem mais indutoras ao desenvolvimento e transferência de tecnologias para a sociedade, pois somente assim você muda a cultura de uma universidade.
Revista Sustentabilidade