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Unesp e Ciesp unem-se em plano para desenvolver indústria regional

Publicado em 10 novembro 2003

O conceito de clusters - arranjos produtivos locais - que começou na Itália, há cerca de quarenta anos, através de uma forma de pensar a organização solidária de pequenas empresas e tornou-se um caso de sucesso internacional, em países do primeiro mundo, poderá ser aplicado em Sorocaba, a partir da proposta de formação de distritos industriais, encabeçada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Centro das Indústrias do Estado do São Paulo (Ciesp). Denominado Plano de Desenvolvimento Regional (PDR), o projeto será adequado às necessidades econômicas e sociais da região de Sorocaba, priorizando as pequenas e médias empresas, e terá como foco as indústrias de manufatura. O alvo serão as cadeias produtivas e um dos pontos principais do processo de implantação dos clusters será a definição e identificação, na área metal-mecânica, dessas cadeias produtivas, para que possa ser criada unia estrutura articulada entre os agentes operacionais, informa o coordenador do PDR, professor Luiz S. Prigenzi, assessor da reitoria da Unesp. A consolidação do PDR inclui a participação da Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae). Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), Financiadora de Estudos e Pesquisas (Finep - que tem programa próprio para os arranjos produtivos locais), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento, Câmaras de Indústria e Comércio e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Estarão incluídas ainda as empresas de maior porte, de um lado, e as pequenas e médias empresas, de outro, considerados os dois eixos mais fundamentais e relevantes do plano, porque a união entre as maiores e menores é parte intrínseca da cadeia produtiva, enfatiza Prigenzi. WORKSHOP DE FINANCIAMENTOS A implantação do PDR tem sido discutida em reuniões na regional do Ciesp/Sorocaba, entre representantes da entidade, da Unesp e outras universidades. Mais uma reunião acontecerá hoje, às 9h30, na Universidade de Sorocaba (Uniso), no quilômetro 92,5 da rodovia Raposo Tavares. Na pauta, o planejamento do workshop de financiamentos para tecnologia e cadeias produtivas. No dia 18, será a vez do presidente da Finep, Sérgio Rezende, visitar a Unesp/Sorocaba, para uma palestra sobre a entidade. Um dos aspectos do PDR evidenciado pelo coordenador Prigenzi está na obtenção do recursos financeiros por parte das pequenas e médias empresas, através de organismos governamentais. Ele enfatiza que não se refere ã facilidade de acesso ao credito, porque considera que o Brasil é um dos países de maior dificuldade de acesso ao crédito corrente bancário. "Refiro-me à possibilidade de acesso a créditos de fundos públicos e até privados, através de agências financiadoras, que operam numa outra base, que não é a base bancária", explica. Avalia que atualmente, se um empresário quiser operar com crédito bancário "está perdido", porque as taxas de financiamento são as mais elevadas do mundo. Os países lá fora, que são competidores das empresas aqui operam com taxas bancárias irrisórias, comenta Prigenzi. Para ele, essa é uma competição completamente desigual e que coloca as empresas brasileiras numa condição de inferioridade e, mesmo que queiram, têm incapacidade de competir, por falta de financiamento, argumenta o coordenador do PDR. Informa Prigenzi que nos países estrangeiros, como o Canadá, o governo injeta dinheiro nas empresas e banca o risco das organizações. Um paradigma dessa ordem é que deverá ser usado no PDR em Sorocaba. Cita que existe dinheiro disponível na Fapesp, destinado a projetos das pequenas e médias empresas. A Fapesp é a financiadora de projetos com recursos públicos federais e que podem ser obtidos pelos empresários. GANHO TECNOLÓGICO O diretor da Unesp/Sorocaba, professor Galdenoro Boturo, salienta que o PDR visa dar ganho tecnológico para as pequenas empresas, a Unesp terá uma postura neutra no processo, mas tem a proposta de retribuir para a comunidade os benefícios auferidos pela universidade. Cita que o PDR terá dois conselhos consultivos e trabalhará de acordo com a realidade regional e de maneira evolutiva, prevendo a expansão das empresas ao longo do tempo. O empresário Roberto Carreo, que na Ciesp integra o Comitê de Capacitação Tecnológica e no PDR faz a interface Ciesp/Unesp e universidades em geral, apresentou um projeto de cadeia produtiva ao coordenador, a partir da linha de trabalho de sua empresa, a Ampeg, que faz tratamento térmico de metais. Ele explica a iniciativa afirmando que a importância do PDR poderá ser melhor assimilada pelos empresários com apresentações de casos de arranjos produtivos locais bem sucedidos. "As empresas têm que estar preparadas para competir com o mundo, ter metas macros, mas a partir de pequenos projetos e crescer gradativamente", afirma. O PDR, segundo Prigenzi, será construído paulatinamente, através de mudanças comportamentais, culturais, de formas de gestão, de apropriação das informações ou tratamento das informações, de uma maneira estratégica, de forma a agregar valor àquilo que é tornado operacional nas empresas, no dia a dia, seja em processo ou produto. GESTÃO ESTRATÉGICA Um dos pontos principais para a efetivação do PDR, segundo Prigenzi, deve ser a mudança de postura por parte dos empresários, que devem estar mais atentos aos efeitos da globalização e do seu nível de competitividade, não apenas no mercado regional, mas mundial, aplicando as regras da Inteligência Competitiva (maneira como as empresas se colocam no mercado). Para o coordenador do PDR, as empresas devem aliar gestão operacional, gestão estratégica e gestão de conhecimentos, além da Inteligência de Negócios, que permite trabalhar com dados analíticos, mesclando visão operacional e visão estratégica. Isto possibilitará à empresa analisar os riscos e oportunidades e vislumbrar o futuro da organização, por meio de planos e metas para os próximos anos, acentua. Com a aplicação do PDR, as empresas participantes vão trabalhar com um volume grande de informações e, para Prigenzi, o que falta para as empresas ê um tipo de suporte de informações na medida certa. "Nem sempre o pequeno e médio empresário tem uma visão clara do que precisa ou de onde pode encontrar. E temos que trabalhar os dados de acordo com a realidade das empresas de Sorocaba", completa.