O Estado de São Paulo é o terceiro maior produtor nacional de uvas, ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul e de Pernambuco. As tradicionais regiões produtoras de uvas são Jundiaí, São Miguel Arcanjo, Indaiatuba e Jales. “Nos últimos anos notou-se aumento expressivo no cultivo da videira em novas regiões, destacando-se pela produção e qualidade de uvas. Neste contexto, Botucatu e São Manuel apresentam condições edafoclimáticas aptas ao cultivo da videira, sendo, no entanto, necessário a realização de experimentos para avaliar o comportamento de cultivares copa e porta-enxertos nesta região, bem como trabalhos de manejo cultural”, explica o professor Tecchio.
Os primeiros vinhedos experimentais foram implantados na Fazenda São Manuel em agosto de 2013, com 660 videiras ocupando uma área de 1320m2. Nesta área experimental, foram conduzidos experimentos importantes voltados para a avaliação das cultivares de uva Bordô, BRS Violeta, BRS Cora e BRS Carmen, onde foram avaliados os componentes de produção e a qualidade de uva voltada para a elaboração de sucos. Dentre estas cultivares, destacou-se a BRS Violeta e BRS Cora pela maior produtividade e qualidade da uva e do suco.
Na mesma área foi implantado um experimento para a avaliação da cultivar Niagara Rosada enxertada em diferentes porta-enxertos e variedades de poda de formação da planta. “Registramos o melhor comportamento desta variedade de uva no porta-enxerto IAC 766, conduzidas com dois cordões principais. Obtivemos produtividade média de 18 a 20t/ha com cachos de 250 a 300g, em média, evidenciando a alta produtividade da uva na região. Trabalhando também com a cv. Niagara Rosada, avaliamos diferentes sistemas de condução, sendo: espaldeira, espaldeira alta, duplo cordão e sistema em Y”, conta o professor Tecchio. “O maior rendimento e qualidade da uva foi obtido com o duplo cordão e sistema em Y. Os estudos confirmaram as vantagens do sistema de condução de Y na videira, como a redução de mão de obra pela possibilidade de mecanizar as pulverizações; maior eficiência no controle fitossanitário, menor custo com mão de obra para condução das plantas e maior produtividade e qualidade dos cachos”.
Em 2019, foi implantada outra área experimental com 396 videiras conduzidas no sistema em Y com cobertura de tela de sombreamento. A área total desse vinhedo foi de 2.276m2. Este vinhedo experimental abrigou os seguintes projetos: avaliação da cultivares de uva sem semente BRS Vitória e BRS Isis em diferentes porta-enxertos e número de cachos por ramos produtivo; avaliação da cultivar de uva BRS Núbia em diferentes porta-enxertos; comportamento da cultivar de uva para processamento BRS Magna e avaliação da cultivar de uva BRS Melodia em diferentes porta-enxertos.
O último vinhedo experimental implantado foi em junho de 2023, com a cultivar de uva Syrah em diferentes sistemas de condução. O professor Tecchio ressalta o ineditismo deste projeto. “Estamos avaliando sistemas de condução de lira modulável em diferentes graus, comparando como sistema convencional de espaldeira. Neste projeto contamos com a parceria da Embrapa Uva e Vinho, do pesquisador Dr. Giuliano Elias Pereira”.
O desenvolvimento desses experimentos ao longo dos anos evidenciou o potencial do cultivo da uva na região, com a obtenção de boas produtividades e qualidades da uva para mesa ou para processamento. “O cultivo da videira é uma boa oportunidade para o agricultor, tendo em vista o alto valor agregado da produção. Em pequenas áreas, com o cultivo racional da videira é possível a obtenção de altos rendimentos. Outro aspecto importante é a possibilidade de promover maior diversificação de cultura na região. Sabe-se que, grandes extensões de áreas são ocupadas pelas culturas da cana de açúcar, citros e eucalipto, sendo lavouras altamente mecanizadas, com pouca demanda de mão de obra. Assim, a possibilidade do cultivo da videira na região tem como vantagem a geração de emprego e a fixação do agricultor no campo”, destaca o professor Tecchio, lembrando que existe ainda a possibilidade de associar o cultivo da videira com o turismo rural.
“Várias regiões paulistas, a exemplo de Jundiaí, São Roque, Espírito Santo do Pinhal, entre outras, vêm se destacando nos últimos anos com vinhedos e vinícolas voltadas ao turismo rural, recebendo milhares de visitantes procurando conhecer mais sobre o setor”, salientou.
Os projetos na Fazenda São Manuel contam com auxílio de Fapesp e CNPq e tiveram participação efetiva dos funcionários das Fazendas de Ensino, Pesquisa e Extensão (FEPE) da FCA, dos alunos de graduação, com 22 trabalhos de iniciação científica e dos pós-graduandos, com 10 trabalhos de dissertação de Mestrado e 6 teses de Doutorado.