Calma, clareza, coerência. Estes são alguns dos adjetivos que podem ser atribuídos a este campineiro que chegou a Jundiaí na década de 1970 para estudar na Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ). Um campineiro que se formou na instituição e, anos mais tarde, faria dela seu local de trabalho. Esta é a história do otorrinolaringologista Edmir Américo Lourenço, que assume interinamente, aos 60 anos, a direção da FMJ; entidade que, mais do que o local de sua formação acadêmica e de atuação profissionai, se tornou sua grande paixão.
Doutor Edmir conta que chegou a Jundiaí apenas com a proposta de cumprir seus anos de estudo, mas foi se apaixonando pela cidade e pela entidade, galgando assim uma carreira médica e acadêmica dentro da instituição. Primeiro, como professor auxiliar; em seguida, como professor assistente; depois, adjunto; até que chegou a professor titular. Assumir o cargo de vice-diretor e depois o de diretor foi uma questão de tempo.
Edmir já havia concorrido anos atrás à eleição para ser diretor da FMJ, mas não obteve êxito. Alguns anos mais tarde, foi convidado pelo então diretor, o ortopedista Itibagi Rocha Machado, para ser seu vice-diretor. E, recentemente, por conta da nomeação de Itibaji à Secretaria de Saúde, Edmir assumiu a direção da FMJ, onde permanecerá até dezembro. Até lá, ele espera que todos os compromissos que a entidade tem, não só com a comunidade acadêmica mas também com os jundiaienses, continuem sendo cumpridos. Mas, entre uma atividade e outra, já que continua dando aulas e atendendo seus pacientes, o médico separou um tempo para atender à reportagem do Jornal de Jundiaí Regional e contar um pouco de sua trajetória acadêmica e dos projetos da entidade.
Jornal de Jundiaí: Até o final de sua gestão, em dezembro, o que fazer para ajudar a instituição?
Edmir - Tenho autonomia para fazer várias ações, mas claro que nada será feito sem que a Congregação saiba ou vote a favor ou contra alguma resolução tomada. Ela é importante porque é formada por membros natos (professores titulares e professores eméritos, que são aqueles que já se aposentaram, mas foram homenageados) e membros eleitos (representantes de cada graduação de docentes), e por isso é preciso ouvir as propostas junto com todos para tomar uma decisão formal.
JJ - Mesmo na direção, você ainda continua dando aulas e clinicando. Como harmonizar a rotina?
Edmir - Não deixei de fazer nada do que já fazia, inclusive foi uma das exigências que fiz ao aceitar o cargo. Adoro dar aulas e não quis deixar minhas turmas porque é isso que gosto de fazer. Na verdade, a parte administrativa foi consequência de todos estes anos de trabalho, apenas tenho que organizar meus horários para dar tempo de cumprir todos meus compromissos.
JJ - Quais seriam as obrigações mais pertinentes a um diretor?
Edmir - Tem toda uma rotina acadêmica que vai desde os despachos de documentos, autorizações para aluguel de equipamentos, solicitação de materiais por parte dos professores, além das autorizações para as reformas físicas do prédio, que mesmo que sejam pequenos serviços ainda precisam da autorização do diretor.
JJ - Por falar em reformas, vocês passaram recentemente por uma. Alguma proposta para outras?
Edmir - Na verdade estamos com dois terrenos em frente à faculdade que totalizam 500 metros quadrados. A ideia é construir um prédio de três andares, que poderá servir tanto para abrigar os cursos de pós-graduação ou de mestrado, ou quem sabe aumentar o serviço ambulatorial. Enfim, tudo será estudado para saber qual destino será dado a ele. Assim como as grandes universidades, a ideia é sempre ter os anexos muito próximos à sede principal, até para facilitar os serviços, tanto internos como os oferecidos à comunidade.
JJ - E quais serviços oferecidos atualmente?
Edmir - Nossos alunos atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), nos ambulatórios, com as áreas de infectologia, nefrologia, clínica médica, pneumologia, dermatologia e várias outras da saúde do município, além de irem aos hospitais. No final de semana, ainda temos os projetos pelos bairros, onde há atividades educativas e de saúde, além das campanhas e mutirões de saúde.
JJ - No seu modo de ver, qual a importância da faculdade para a cidade?
Edmir - A Faculdade de Medicina de Jundiaí é para o município como Ayrton Senna era para o Brasil, ou seja, um ícone. Presta serviços comunitários de grande importância, não só nos ambulatórios e hospitais, mas também em algumas entidades, como a Ateal.
JJ - E quanto às parceiras para as bolsas de estudo e de pesquisas da entidade?
Edmir - Recentemente a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) concedeu à faculdade duas bolsas de mestrado para o nosso Programa de Pós-Graduação que serão utilizadas no próximo ano. Essa concessão se deu ao fato de sermos avaliados como nota 3 e estarmos ligados à Demanda Social da Capes, que contempla os Programas ligados à Instituição Pública. As regras para distribuição das bolsas serão discutidas pela coordenação na próxima reunião da Comissão de Pós-Graduação (CPG) e serão apresentadas aos orientadores em tempo oportuno. O valor mensal da bolsa será de R$1.350. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) também nos concedeu duas bolsas de estudos.
JJ -Na sua visão e estando tantos anos na entidade, porque pessoas de vários Estados diferentes escolhem a Faculdade de Medicina de Jundiaí?
Edmir - Acredito que os alunos confiam nos serviços oferecidos pela faculdade. Por exemplo, mesmo não sendo uma universidade e sim uma faculdade, está sempre bem classificada pelas entidades educacionais. Recebemos a classificação ´B´ no último provão do MEC (Ministério da Educação) e a nota 4 no Enad, sendo que o máximo é 5. Além disso, são poucos alunos por turma em comparação, por exemplo, com algumas universidades. Na Unicamp são 240 alunos por turma. Isto representa bons números.
JJ - Aliás, qual o perfil dos alunos que estão apostando no curso de Medicina?
Edmir - Eu vejo alunos que querem seguir a profissão porque realmente gostam e têm vocação porque já descobriram que a Medicina não é mais uma profissão para enriquecer. É preciso gostar de servir, independentemente do campo de trabalho ou do local onde irá trabalhar. É um profissional que precisa ter paciência, saber ouvir para poder diagnosticar e saber tratar porque a profissão não tem nada de sacerdócio.
JJ - Então é um novo perfil de profissionais sendo formados?
Edmir - Sim, até porque quando o aluno entra na faculdade não tem noção do que o espera, então é preciso ir despertando nele uma sensibilidade para enfrentar as mais diversas situações. Ainda durante a faculdade ele lida com a morte, com a vida, com pontos positivos e negativos e estas situações só são bem trabalhadas quando o profissional está consciente do que realmente precisa fazer.
JJ - Bom, o que a comunidade pode esperar do novo diretor?
Edmir - Uma continuidade do que já vem sendo feito, tanto dos projetos como das reformas, mas sempre com o foco no aluno e na comunidade porque, ao mesmo tempo que temos que oferecer um bom serviço a eles, e isto significa ter sempre bons professores, proporcionar as parcerias para que eles possam fazer o internato (residência médica), também temos que continuar com os serviços oferecidos à comunidade. Só para se ter uma ideia, são pelo menos 32 mil atendimentos só no ambulatório de especialidades.