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UFABC

Uma Parceria Franco-Brasileira (1 notícias)

Publicado em 10 de fevereiro de 2012

Por Helio Waldman

No último dia 13 de janeiro, em solenidade ocorrida na Maison de l'Amérique Latine, em Paris, cinco Universidades brasileiras firmaram um acordo com a École Normale Supérieure (ENS) de Cachan, efetivamente inaugurando as atividades do recém-criado Colégio Universitário Franco-Brasileiro Santos Dumont naquela instituição francesa de primeira grandeza. São elas: a UFABC, a UFRJ, a UFSC, a Unicamp e a USP. Essas universidades têm em comum o fato de já desenvolverem atividades de parceria científica com a ENS Cachan, sob a égide de programas franco-brasileiros de colaboração em pesquisa, como o CNRS-CNPq, USP-COFECUB, CAPES-COFECUB, e CNRS-Fapesp. O Colégio terá a finalidade de estruturar, desenvolver e perenizar essas colaborações; assegurar mais visibilidade internacional a seus projetos científicos de alto nível; incentivar o lançamento de novos e inovadores projetos de pesquisa com essas e outras Universidades brasileiras que queiram se juntar ao Colégio; encorajar a multi e interdisciplinaridade; facilitar a cooperação com as indústrias de ambos os países; e favorecer a mobilidade de estudantes, professores e pesquisadores entre a França e o Brasil.

A ENS Cachan é uma das Grandes Écoles francesas, instituições tradicionais de grande prestígio, que formam um sistema de ensino superior separado das demais Universidades públicas. A admissão às Grandes Écoles é baseada em exames vestibulares altamente seletivos após um programa preparatório de dois anos, ao passo que as Universidades públicas são obrigadas por lei a admitir todos os egressos do ensino médio da sua região que estejam interessados em cursá-las. As ENS formam um sistema especial de Grandes Écoles com apenas três instituições (Paris, Lyon e Cachan, que é um subúrbio de Paris), voltadas para a formação de professores universitários, pesquisadores, e quadros de alto nível para a administração pública e as grandes corporações. A partir do seu ingresso na ENS Cachan, o aluno passa a ser uma espécie de "trainee" do Estado francês: recebe um salário (~1300 euros), uma sólida formação interdisciplinar, e um contrato de 10 anos com o Estado, que inclui os 4 anos de estudo na ENS. Mas apesar de serem "Grandes Écoles", as ENS não são realmente grandes: o sistema todo tem cerca de 3000 estudantes, contra 1,3 milhão nas Universidades estatais.

Na UFABC, as atividades de cooperação com a ENS Cachan são coordenadas pelo Prof. Luís Scott, do CMCC, a quem devemos essa oportunidade de inserção internacional. Além dele, a solenidade de inauguração do Colégio Santos Dumont contou com a presença de outros coordenadores; de Reitores de Universidades participantes, inclusive da UFABC; e de autoridades brasileiras e francesas ligadas a agências de financiamento ou à colaboração internacional. Na ocasião da inauguração, cada Reitor ou representante teve a oportunidade de falar sobre a sua instituição para uma audiência predominantemente francesa. Tivemos então o ensejo de explicar o projeto da UFABC, enfatizando o nosso triplo compromisso com a excelência acadêmica, a inovação pedagógica e a inclusão social.Após a inauguração do Colégio, seguiu-se uma Mesa-Redonda, moderada pelo Presidente (Reitor) da ENS Cachan, Prof. Jean-Yves Mérindol. Pelo lado brasileiro, participaram o Prof. Nelson Maculan, representando o Presidente da CAPES; o Reitor da UFRJ, Prof. Carlos Antonio Levi da Conceição; e o Reitor da UFABC. Pelo lado francês, a sra. Hélène Duchêne, Diretora de Políticas de Mobilidade e Atratividade do Ministério de Assuntos Estrangeiros; a Dra. Nakita Vojdjani, Chefe da Cooperação Européia e Internacional da Agência Nacional de Pesquisa (ANR); o Dr. Jean-Luc Clément, Conselheiro para a Pesquisa da Direção das Relações Européias e Internacionais e da Cooperação (DREIC) do Ministério da Educação; e o Prof. Jean-Pierre Gesson, Presidente (Reitor) da Universidade de Poitiers e Vice-Presidente para os Assuntos Internacionais da Conferência dos Presidentes de Universidades (CPU).

O debate foi bastante instigante, deixando claro o forte interesse francês na cooperação com o Brasil. Em parte, esse interesse é resultado de bons antecedentes, mas há também uma visão estratégica de futuro a motivá-lo. Essa visão enxerga os BRIC's como países portadores de futuro num mundo que patina numa crise cuja saída só pode ser vislumbrada hoje; e o Brasil como o BRIC com o qual a França apresenta maior afinidade histórica e cultural. O lado brasileiro, por sua vez, espera dessa e de outras parcerias internacionais a oportunidade de participar da condução de grandes projetos científicos e tecnológicos com impacto inovador; e vê na afinidade com a França um bom fator de alavancagem desse protagonismo. Percebe-se então que os dois parceiros apresentam expectativas comuns, posto que a partir de situações assimétricas. É com essas expectativas em mente que o novo Colégio deverá trabalhar.