O relatório Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em SP - 2001, recentemente divulgado pela Fapesp, além de dar importante contribuição para a implantação de uma nova política de ciência e tecnologia, desenha uma espécie de 'mapa' da produção científica no país, apontando a disparidade entre as 'ilhas de excelência' - onde a ciência brasileira está no mesmo nível da internacional - e outros núcleos, também essenciais para a pesquisa científica, mas que se encontram defasados em relação aos padrões internacionais médios.
Estão concentrados na Região Sudeste os maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento e, de longe, as Universidades estaduais paulistas - especialmente a USP - apresentam os melhores resultados na produção de ciência no país.
Um critério para medir a qualidade do trabalho científico é o número de artigos publicados no exterior, classificados pelo Institute for Scientific Information (ISI).
O relatório da Fapesp aponta o grande crescimento das publicações brasileiras indexadas pelo ISI: passamos de 3.204 artigos relevantes publicados em 1985 para 12.168 em 1999, um salto significativo.
Naquele ano, porém, apenas 10 centros de pesquisa dominaram praticamente toda a produção de ciência relevante do Brasil. Juntas, as três Universidades paulistas produziram, segundo o relatório da Fapesp, mais de 40% das publicações brasileiras, 24,9% só a USP e 10,2% a Unicamp.
A Universidade Federal do RJ foi a que mais se aproximou dessa marca, com 8,4% dos artigos publicados.
As Universidades federais de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, seguidas pela de São Carlos, e pela de SP (a antiga Paulista de Medicina), completam um pequeno conjunto de centros com produção científica de alta qualidade, cada uma delas com porcentagens de artigos publicados de aproximadamente 5% do total.
As demais Universidades, mesmo aquelas tidas como de bom nível, têm cada uma delas menos de 2% do total dos artigos científicos de relevância.
Tal concentração salienta a regionalização da produção de ciência. O fato de o Brasil produzir 1,1% da literatura científica mundial, indexada pelo ISI, não significa, como mostra a Fapesp, distribuição razoável de P&D no país.
Essa concentração se repete quanto ao financiamento do esforço de pesquisa.
As empresas paulistas participam com 71% do total de gastos com P&D no Brasil. No Estado de SP, o financiamento de pesquisa por particulares aumentou em 31,1%, entre 1995 e 1999 - um caso isolado no país.
O estudo da Fapesp mostrou também que ocorre concentração no registro de patentes: 85% das patentes concedidas ao Brasil foram para 'não residentes', empresas multinacionais com atividades no país. As patentes requeridas por residentes brasileiros são, praticamente todas, de pessoas físicas. O relatório observa que a estratégia de negócios das empresas brasileiras parece estar prescindindo do investimento em inovação tecnológica.
Os investimentos que a Fapesp realizou nos últimos anos nos laboratórios paulistas - especialmente universitários - produziram excelentes resultados.
Mas, apesar de trabalhos de grande importância, como o do Projeto Genoma, o relatório demonstra que o desenvolvimento científico brasileiro ainda é uma obra em andamento.
(O Estado de SP, 25/2)
JC Email
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