Clube de homens com quociente de inteligência elevado está formando um banco de esperma para gerar bebês superdotados
LONDRES - Um clube de pessoas supostamente geniais, com quociente intelectual elevado, está criando um banco de esperma para oferecer a mulheres interessadas em gerar gênios de proveta. A revista do clube Mensa está procurando voluntários entre os seus 110 mil sócios para fazer doações e participar da geração de bebês superdotados intelectualmente. Sessenta candidatos já teriam se oferecido para participar do empreendimento.
O banco de esperma, situado na Califórnia, nos Estados Unidos, pediu doações a ganhadores do Prêmio Nobel. Devido ao sigilo que envolve a paternidade dos gênios de proveta, não se sabe se algum apresentou-se como voluntário. Quem quiser se candidatar deve preencher um formulário de 19 páginas com perguntas como "Com que freqüência você costuma perder a cabeça?" e "Você tem mania de grandeza ou sente-se onipotente?".
Entre os sócios do Mensa estão o ex-presidente do Partido Conservador Britânico Jeremy Hanley, cuja suposta superioridade intelectual passou despercebida pela maior parte de seus concidadãos.
Os sócios estão divididos quanto à viabilidade e os méritos do empreendimento. Alguns temem que a bizarra idéia de montar um banco de esperma ofusque as comemorações dos 50 anos da fundação, em Londres, deste clube de gênios nem sempre tão geniais.
Kevin Jacklin, porta-voz do grupo de solteiros do clube, não está convencido da validade da iniciativa: "Não sou a favor de doações de esperma. Sou a favor de deixar as coisas seguirem o seu caminho natural", disse Jacklin ao jornal The Sunday Times.
Já Clive Sinclair, inventor de um carro elétrico e do patinete elétrico Zike, defende a seleção genética: "Se as mulheres estiverem procurando um esperma especial, esta é uma maneira de obtê-lo. De qualquer forma, quando escolhem um marido, elas estão fazendo uma seleção."
Para o porta-voz oficial do clube, Richard Milton, "a função primordial do Mensa não é fazer seleção genética mas organizar socialmente pessoas de Ql (quociente de inteligência) elevado para que elas possam se encontrar".
Não se sabe quantos gênios de proveta foram gerados até agora na Grã-Bretanha. Funcionários do clube alegam que todos têm QI 20% acima da média. Mas todo cuidado é pouco. A bailarina Isadora Duncan propôs ao filósofo francês Jean-Paul Sartre que eles tivessem um filho tão bonito quanto ela e tão inteligente quanto ele. Sartre recusou de uma maneira não muito polida: "E se ele nascer com a minha cara e a sua inteligência?" Seria um desastre. Não se pode confiar nos acasos e incertezas da combinação genética.
EXÉRCITO DE BEBÊS BRILHANTES É POUCO ÉTICO E IMPROVÁVEL
As escalas de QI foram criadas em 1904 para ajudar as pessoas com dificuldades no aprendizado. "A medição do quociente de inteligência não pode ser um instrumento para acentuar as diferenças entre os homens", diz Marsyl.
Teste - Ela ressalta que, nos últimos 30 anos, o conceito de que o QI é diretamente proporcional à inteligência foi alterado. Segundo Marsyl, o teste evidencia que uma pessoa teve sucesso para realizar determinada tarefa. Mas deve-se observar a situação em que o teste foi feito, e até a história de vida da pessoa. "A inteligência não é uma situação analítica, mas a soma de diferentes capacidades, como aprendizagem, raciocínio, memória, motivação e esforço. E depende do meio social e do tipo de estímulos que a pessoa recebeu."
A presidente da Associação Brasileira para Superdotados explica que esses fatores têm tanta importância quanto a herança genética, que pode corresponder de 40 a 50% da inteligência de uma pessoa. "Quem vive em uma classe social mais favorável tem mais oportunidades de desenvolver seu potencial, que pode ser o mesmo de uma pessoa de uma classe menos favorável", diz. Isso acontece, em parte, porque, desde criança, a pessoa tem acesso a computadores, línguas estrangeiras, explicações e conceitos variados.
Ambiente - Um bebê de proveta, gerado a partir da doação do esperma de um gênio, pode até carregar sua herança genética e apresentar traços de superdotação. Mas se a criança for criada longe do ambiente em que vive seu pai biológico, dificilmente vai desenvolver a mesma inteligência de um filho criado sob o mesmo teto. Mais que isso: a criança pode ter um QI alto, mas não conseguir mostrá-lo.
Todas as pessoas que contribuíram para o crescimento mundial foram muito motivadas, assegura Marsyl. E brinca quando fala de um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento da inteligência: o esforço. "Um gênio não produz, nada sem suor."
"Uma coisa que está na moda agora é dizer que há várias formas de inteligência. Mas não é bem assim. A pessoa pode se expressar melhor numa área, mas tem potencial para todas", adverte. "A inteligência se ensina, se desenvolve até a morte", diz. Marsyl lembra também outro aspecto da discussão. Uma pessoa não é só ela: é seu pai, sua mãe, seus avós. "Há toda uma árvore genealógica por trás daquele bebê que vai nascer. De repente aparece um gene recessivo, e pronto."
Notícia
Jornal do Brasil