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Uma Galeria para o Império (1 notícias)

Publicado em 07 de maio de 2013

Em 15 de março de 1879, começava mais uma exposição geral de belas-artes, com cerca de 2 mil pessoas que lotavam o edifício da Academia Imperial de Belas Artes. “A 25ª exposição geral seria um marco na história das artes do século 19 brasileiro. Além de suscitar um longo debate sobre os artistas Victor Meirelles e Pedro Américo, a Coleção de Quadros Nacionais Formando a Escola Brasileira, apresentada pela primeira vez no mesmo evento, também deu o que falar”, relata Leticia Squeff (mestre em História e doutora em Arquitetura pela USP) na introdução de Uma Galeria para o Império: A Coleção Escola Brasileira e as Origens do Museu Nacional de Belas Artes (Edusp/Fapesp, 200 págs., R$ 85,00).

“Como se sabe, a instituição surgiu no âmbito da difusão de novas academias pelo mundo. Com nítidos propósitos civilizatórios, programa e estilo baseados nas concepções neoclássicas, a Academia do Rio de Janeiro era orientada pelo conhecimento das manifestações artísticas do passado e privilegiava a transmissão de regras universais”, conta Ana Maria de Moraes Belluzzo no texto “Pré e Posfácio, a uma Só Vez”.

O livro parte estrategicamente da reconstrução do conjunto de obras apresentado na 25ª Exposição Geral da Academia, identificando e reunindo obras que revelam a consistência da Coleção Escola Brasileira de 1879. E mais do que uma leitura de cada trabalho, a autora destaca os critérios que a Academia adotava para compor sua coleção, bem como a importância do gosto do público, que desempenha importante papel na seleção.

“Uma Galeria para o Império revela o aprofundamento do pensamento de Letícia Squeff, após ter se debruçado sobre a vida política e cultural do século 19, conforme síntese apresentada em O Brasil nas Letras de um Pintor. Nesta obra publicada em 2004, a autora tratou da atuação crítica do pintor e poeta Araújo Porto-Alegre, que havia frequentado a Academia Imperial de Belas Artes como aluno de Jean Baptiste Debret”, afirma Ana Maria.

Não se trata porém de um estudo pontual sobre a coleção. Segundo Paulo Mugayar Kühl, na apresentação do livro, a autora consegue combinar documentos antes desconhecidos ou pouco considerados com reflexões importantes sobre temas de relevância para o estudo das artes do século 19, oferecendo também outros elementos para uma discussão mais ampla sobre o mundo das artes. Apenas para destacar alguns, diz ele, a autora mostra um subterrâneo artístico no Rio de Janeiro, através de algumas pistas sobre o mercado das artes na cidade; aponta para alguns dados que nunca foram suficientemente destacados pela historiografia: não só o papel de d. Pedro II e de Teresa Cristina no mecenato artístico, mas também a de outros compradores que se interessavam por objetos de luxo e obras de arte, além do papel das obras de arte em espaços públicos. “Mais um detalhe pouco mencionado, ainda que pareça secundário, diz respeito à inauguração das exposições gerais… Outro mérito do livro é o de redimensionar o papel de João Maximiniano Mafra dentro da Academia, em suas várias atividades”, completa, lembrando que o caderno de imagens, com um grande número de obras que teriam pertencido à coleção, é uma oportunidade privilegiada para vermos pinturas que já conhecemos bem (ou que pensamos conhecer bem) dentro de um contexto muito particular.