As mudanças no mundo do trabalho estão alterando profundamente as habilidades necessárias para exercer uma profissão. A experiência da Secretaria do Emprego e Relações de Trabalho mostra que muitas vezes há, nos postos de atendimento do trabalhador, vagas não preenchidas porque os candidatos não têm os conhecimentos exigidos pelo empregador.
São relevantes, portanto, as declarações do novo ministro do Trabalho, Edward Amadeo, que mostra a necessidade de rever o sistema de formação profissional. Esse sistema engloba as universidades, as escolas técnicas, os chamados "S" (Senai, Senac, Senar, Senat) e progressivamente escolas mantidas por entidades sindicais de trabalhadores e empregados e por entidades não-governamentais, sem esquecer iniciativas importantes das empresas que mantêm centros de treinamento ou profissionalizantes. Também exercem funções de preparação para o mercado de trabalho os cursos de alfabetização e os supletivos, mantidos tanto por governos como por outras entidades.
Falamos em sistema, mas ainda não é um sistema articulado. Estruturalmente, ministérios diferentes cuidam de aspectos importantes da profissionalização: Educação, Trabalho, Ciência e Tecnologia. Desde o governo Itamar Franco, esses ministérios passaram a manter entendimentos, mas urge acelerar o passo.
Em São Paulo, a visão sistêmica sobre formação profissional vem sendo exercitada através dos centros públicos de formação profissional. Há dois em funcionamento: um na capital, outro no interior, na cidade de Tupã. Representam a continuidade de um esforço dos que integram o sistema de formação profissional de se reunirem, no espaço criado pela Secretaria do Emprego e Relações de Trabalho.
Todos os interessados em formação profissional foram desafiados a trabalhar conjuntamente nesses centros. A idéia é sair do isolamento. Dessa maneira, a criação que está sendo feita, primeiramente nas empresas, depois nas escolas profissionalizantes, quer as tradicionais, quer as que hoje se multiplicam entre igrejas, sindicatos e ONGs, passa a ter um "locus" onde todos podem buscar a sinergia necessária para mais rapidamente chegar a políticas públicas mais efetivas.
O Programa Estadual de Qualificação e Requalificação já tem mais de oitenta parceiros. Dessa maneira, em menos de dois anos, cerca de 500 mil trabalhadores, a maioria desempregados, passaram por algum tipo de qualificação ou requalificação em 339 municípios do Estado de São Paulo. Oito universidades têm avaliado esses cursos. Se mais recursos existirem, mais trabalhadores terão essa oportunidade de se preparar para as novas características do mercado de trabalho.
É preciso, no entanto, uma usina de idéias, onde o que está dando certo possa ser conhecido e aperfeiçoado por todos aqueles que constituem o sistema de formação profissional. O Centro Público de Formação Profissional quer cumprir esse papel. A começar pelo nome: público, pois não se trata de mais uma escola do governo. O modelo é multipartite. Todos os que se propõem a colocar em comum suas experiências constituem os conselhos diretivos. Lá estão Senai, Senac, Centro Paula Souza, sindicatos, empresas e associações comunitárias, além de organismos governamentais.
Vimos que o novo ministro do Trabalho pensa num modelo tripartite para a área de formação profissional. Bom seria que ele conhecesse essa iniciativa do governo Mário Covas, que está plantando as bases de um sistema articulado de formação profissional. Para que nossa população esteja preparada para um novo ciclo de desenvolvimento é preciso investir muito, em direção a um sistema articulado de formação profissional. Os centros públicos têm essa concepção.
Economista, ex-ministro do Trabalho (governo Itamar Franco), ex-secretário do Emprego e Relações de Trabalho (governo Mário Covas).
Notícia
Gazeta Mercantil