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"Uma cidade não se desenvolve se não houver educação", afirma Márcio Cardim

Publicado em 15 julho 2014

A educação é a palavra chave para haver desenvolvimento regional. A afirmação é do diretor da FAI (Faculdades Adamantinenses Integradas) Márcio Cardim, que explica, em entrevista ao IMPACTO, como a instituição pode e contribui para o crescimento da Alta Paulista.

“Não adianta pensar em fazer um projeto para desenvolver na região apenas no papel. Mas qual o projeto? O que você tem de experiência nisso? Todos os projetos da FAI que nós encaminhamos, conseguimos consolidar e buscar recursos, é devido temos experiência em cima dele.”.

Segundo Cardim, dois pontos para consolidar a FAI neste trabalho é a transformação em Centro Universitário, quando professores poderão desenvolver pesquisas de acordo com as necessidades regionais e a vinda do curso de Medicina. “Enquanto se questiona que as condições de saúde não são propícias, observamos que realmente esse quadro será revertido com a ascensão da área da saúde”.

Confira:

Qual o papel da FAI no desenvolvimento regional?

Não somente no Brasil, as universidades têm papel fundamental para o desenvolvimento do país. A maioria destas instituições de ensino superior tem apoio em pesquisas e empresas envolvidas, o que começou a ocorrer no Brasil mais intensamente apenas na década de 1990, algo recente em que as universidades começaram a ter uma visão não só teórica, mas associada a aplicabilidade.

Na questão do desenvolvimento, a participação das universidades ainda é restrita e deve acontecer em parceria com empresas principalmente pela questão de aplicação de recursos e patentes envolvidas, para que o resultado seja utilizado em benefício da sociedade. Mesmo grandes universidades, como a USP [Universidade de São Paulo], Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] e Unesp [Universidade do Estado de São Paulo], destaques em publicações científicas no país, ainda podem ampliar suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil.

A FAI, por ser uma Instituição de Ensino Superior, tem ao longo de sua existência canalizado seus esforços no ensino e na extensão. Quando assumimos a direção da FAI, planejamos investir esforços no sentido de buscar recursos financeiros para motivar a criação de grupos de pesquisa dentro da Instituição. Neste sentido começamos a participar de vários editais estaduais e federais. E para nossa surpresa os resultados começaram a aparecer rapidamente, onde vários projetos escritos por professores foram e estão sendo aprovados, com isso conseguimos aumentar o número de bolsas para alunos, professores da rede, professores da FAI e consequentemente aumento da receita. Isso é desenvolvimento regional.

Desde então, buscamos parcerias para o desenvolvimento de pesquisas que contribuam para o crescimento da região. Posso citar alguns projetos recentes:

A parceria com o INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], que tem como objetivo implantar uma estação experimental com acesso aos dados do satélite sino-brasileiro de recursos terrestres CBERS, bem como acesso aos dados do satélite Eurosat (satélite europeu), com programas que permitirá realizar georreferenciamento, previsão de catástrofes e informações das principais variáveis climáticas. A idéia é instalar pequenas estações em municípios vizinhos, pelo menos 50 deles, para que possamos montar nosso próprio banco de dados além dos dados enviados pelos satélites citados. Isso aumentará o potencial da FAI em buscar recursos financeiros para o desenvolvimento de mais pesquisa, visto que a parceria com o INPE possibilitará o envio de projetos de pesquisa em conjunto, professores/pesquisadores da FAI e pesquisadores do INPE. Isso é desenvolvimento regional.

Outro projeto interessante que a FAI esta participando é o Inova Sustentabilidade da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) ligada ao governo federal, onde a FAI buscou parceria com uma usina de açucar e álcool da região com a possibilidade de participação de alunos e professores para o desenvolvimento do projeto no valor de R$ 10 milhões não reembolsável. Isso trará desenvolvimento regional.

Atualmente, a instituição tem quase 80% dos seus professores mestres e doutores e sem incentivos para ingressarem na pesquisa. A instituição esta buscando formas para que estes professores tenham condições de trabalho para fomentar projetos que visem buscar soluções para problemas da nossa população, seja na área de saúde, meio ambiente, segurança, educação, entre outras. Há três anos, começamos a motivar esses professores a investirem em pesquisa, já que é um desperdício termos um professor doutor apenas em sala de aula, este profissional tem que ser aproveitado para buscar recurso, seja estadual ou federal, através da Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], Finep [Financiadora de Estudos e Projetos], órgãos que fomentam e possuem dinheiro para este objetivo. E faltam bons projetos.

Temos outros projetos aprovados: o Pibid [Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Pesquisa] em que conseguimos R$ 14,5 milhões para os próximos quatro anos, possibilitando bolsas a todos os alunos dos cursos de licenciatura (420 bolsas), bolsas para professores da rede municipal e estadual (66 bolsas) e bolsas para professores da FAI (24 bolsas). O programa escola da Família foi ampliado nos dois últimos anos de 60 bolsas para 600 bolsas. O FIES (financiamento estudantil) reativado em 2014 conta com aproximadamente 400 alunos beneficiados. Essas ações possibilitaram um aumento expressivo no número de alunos da FAI passando de 3250 para 4500 alunos. Isso estimula o desenvolvimento regional.

O que falta para que aconteça na prática? Vontade política?

Se houver um planejamento político mais amplo nesse sentido, as coisas podem caminhar em uma escala maior.

Onde a FAI pode estar apoiando? Se o município tiver um problema ambiental, podemos ceder material humano para desenvolver os projetos, ir até o local com os professores e pensar em uma solução, escrever esse projeto e encaminhar para algum dos órgãos solicitando recursos, mas é necessário ter fundamentação científica. Não podemos ver a FAI como patrocinadora dos projetos, mas sim com peça que pode impulsionar os projetos para a captação de recursos financeiros.

O projeto de transformação da FAI em Centro Universitário será protocolado junto ao Conselho Estadual de Educação no mês de Agosto de 2014, essa transformação irá possibilitar a atuação da nossa instituição mais efetivamente na busca de recursos para o desenvolvimento dos projetos de pesquisa e consequentemente estimular o desenvolvimento regional na prática, visto que teremos um grupo maior de profissionais capacitados, com titulação, e conhecimento para transformar problemas do cotidiano em soluções práticas.

É possível união das faculdades da região para trabalharem por este desenvolvimento?

Sim é possível e necessário, precisamos formar recursos humanos para isso, a FAI vem trabalhando nesta direção, mas é preciso que as outras instituições de ensino superior façam o mesmo. Temos instituições públicas na região, como a Unesp e Fatec, que somadas com a FAI poderão realizar grandes parcerias para estimular o desenvolvimento. Volto a repetir a FAI vem se preparando para isso, o processo tem sido até veloz, mas exige planejamento, estamos trabalhando neste sentido.

Qual sua visão sobre a Nova Alta Paulista e desenvolvimento regional?

Como cidadão adamantinense observo novas formatações para o desenvolvimento regional nos últimos anos. O histórico de nossa região sempre foi muito castigado pela falta de incentivo público e pela sua própria localização.

Com a chegada de novas tecnologias e implantação de novos seguimentos esses problemas não repercutirão mais no futuro. É possível uma movimentação que reúna os esforços de quem sempre contribuiu para a região às inovações científicas e tecnológicas em prol da comunidade.

Exemplo disso é a tentativa de trazer para Adamantina o curso de Medicina. Enquanto se questiona que as condições de saúde não são propícias, observamos que realmente esse quadro será revertido com a ascensão da área da saúde.

Assim é em todos os projetos, não adianta pensar em fazer um projeto para desenvolver na região apenas no papel. Mas qual o projeto? O que você tem de experiência nisso? Todos os projetos da FAI que nós encaminhamos, conseguimos consolidar e buscar recursos, é devido temos experiência em cima dele.

A FAI já contribui para consolidação da região?

Sim. Posso citar como exemplo o curso de Odontologia. No início, quando abrimos a graduação, foi difícil encontrar profissional desta área para atuar e hoje, abrimos recentemente um concurso para professores quando tivemos a participação de diversos doutores, inclusive alguns formados pela FAI. Isso prova o quanto à instituição contribui para fixar as pessoas na nossa região.

É notável a contribuição da Instituição a comunidade de Adamantina e toda a região no oferecimento de serviços de saúde por meio de suas clínicas, além dos projetos e programas que favorecem o cidadão nas esferas educacional, jurídica, nos setores públicos e privados.

Os egressos dos diversos cursos da FAI tem se estabelecido profissionalmente na região fortalecendo a qualidade dos serviços prestados em todas as áreas.

Falta representatividade política?

Nossos esforços estão voltados para a vida acadêmica, para que a instituição tenha uma vida saudável tanto no administrativo quanto no financeiro. Somos 30 instituições no Estado de São Paulo, com as mesmas características da FAI, que vem desempenhando um excelente trabalho no estado de São Paulo para a formação superior, contribuindo desta forma para o progresso do Estado e Brasil.

Assim, a partir do momento que assumimos a direção da FAI, fizemos uma união com todas as instituições públicas municipais de ensino superior - IMES/SP. Em agosto de 2011, realizamos o I fórum das IMES, em maio de 2014 o VI fórum das IMES, onde foi criado a AIMESP (Associação das Instituições Municipais do Estado de São Paulo) que trará mais força para as reivindicações dessas instituições.

Percebo que seja na esfera política ou acadêmica o caminho a ser percorrido seja bem semelhante, tem que haver união entre as entidades, prova disto é a união entre as IMES/SP, tivemos várias conquistas nos últimos três anos, o que não aconteceu em toda a existência dessas instituições, algumas com mais de 50 anos de existência. Por exemplo, é a primeira vez que essas instituições tem um representante dentro do Conselho Estadual de Educação - CEE, conseguimos interferir em editais do governo federal que passaram a contemplar as instituições municipais, o programa escola da família foi ampliado, a nossa ação dentro do CEE tem contribuído para o ensino superior no estado.

É otimista com a Nova Alta Paulista?

Se não fosse otimista, não teria voltado para região. Trabalhei durante cinco anos em Nova Friburgo (RJ), em um instituto de pesquisa, tinha convicção de que poderia passar o restante da minha vida, mas optei por voltar. Tenho paixão pelo interior, nunca almejei ficar em grandes centros e tenho certeza que podemos contribuir mais em um local que precisa do que em locais que já possuem seu desenvolvimento.

Sou muito otimista com a nossa região. Não é fácil e é necessário canalizar os esforços para colocar em prática esses projetos. Pela experiência na FAI, se percebe que em dois anos conseguimos alcançar um objetivo, e volto a dizer que com a vinda do curso de Medicina, o desenvolvimento regional na área da saúde mudará, pois o curso trará um dinamismo para todos os municípios, com participação ativa de professores da FAI e preceptores que estarão contribuindo para o curso.

Tenho a certeza que Adamantina está se preparando para o futuro, pois a educação é o futuro, temos a FAI.

Assim temos todos os requisitos para se desenvolver rapidamente, basta planejar e termos pessoas com competência para desenvolver os projetos. Temos vários exemplos de cidades em que o desenvolvimento veio em conjunto com educação superior. Uma cidade não se desenvolve se não houver educação, e nesta questão Adamantina está bem encaminhada.

Fonte: João Vinicius - Do Grupo IMPACTO