A aplicação do índice de Desenvolvimento Humano da ONU, utilizado pela primeira vez no país para medir a qualidade de vida e o progresso humano, ao lado do tradicional conceito econômico de renda per capita, além de descobrir que há três brasis, serviu para desmistificar algumas simplificações estatísticas sobre o Brasil.
A principal qualidade da pesquisa que aproxima os números em relação ao Brasil real é que ela fornece subsídios mais exatos para definição de políticas de intervenção com o objetivo de corrigir as graves desigualdades sociais e unificar os três brasis num só país.
Num país carente de recursos para tantas demandas, a exatidão da radiografia permite escolher melhor as prioridades e dimensionar adequadamente os recursos. Caso flagrante de desencontro entre a versão estatística e a realidade é o mapa da fome feito pelo Ibase, que encontrou 32 milhões de brasileiros com renda insuficiente para comprar a cesta básica.
O Ibase ignorou os ganhos não declarados e o fato de que parte da população do Nordeste recebeu nos últimos dez anos meio salário mínimo, como complemento de renda nas regiões de seca. Com a chegada das chuvas, essas pessoas voltavam às suas roças, das quais tiravam seu sustento. Como essa renda não era monetária, a pesquisa só identificava o meio salário percebido. As tabulações indicaram que Pernambuco e Bahia tinham o maior índice de indigentes e serviram de motivação à Campanha contra a Fome e de roteiro para a caravana pré-eleitoral de Lula em 94. Lula só foi encontrar fome e miséria na periferia de São Paulo.
Os estudos do Ipea e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que o maior contingente de brasileiros na linha da pobreza estava nas regiões metropolitanas de São Paulo (5.1 milhões) e Rio de Janeiro, pólos de atração de migrantes de todo o país, seguido pela Bahia (4,9 milhões). Os dados mais impressionantes, porém, são os que comprovam a afirmação do presidente Fernando Henrique de que "o Brasil não é um país pobre, mas sim um país injusto".
O Brasil foi a única das nações economicamente emergentes a registrar forte concentração de renda desde os anos 60. Em 1960, a parcela dos 20% mais ricos da população concentrava 54% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres eram contemplados com 18% da renda. Apesar de toda a urbanização e o crescimento econômico (com exceção do período hiperinflacionário e de estagnação econômica da segunda metade dos anos 80) em 1990, os 20% mais ricos tinham ampliado sua participação na renda para 65%, enquanto os 50% mais pobres viam sua fatia encolher para 12%.
Não há prova mais eloqüente de que o modelo de desenvolvimento econômico liderado pelo Estado teve péssimo resultado social. O modelo precisa mudar, a partir da reforma do próprio Estado, com a transferência dos projetos empresariais e de infra-estrutura á iniciativa privada, concentrando-se o governo na área social, em especial nos programas de educação, saneamento, habitação e reforma agrária.
O destaque do Rio Grande do Sul como o estado com o melhor desenvolvimento humano confirma o alto retorno social dos investimentos em educação. Desde o fim dos anos 50, o orçamento gaúcho destina receita expressiva para esta área. A divisão das terras, a partir da colonização italiana e alemã no século passado, e a migração dos gaúchos para Santa Catarina, Paraná, Centro-Oeste, Espírito Santo e Amazônia, contribuíram para os altos índices sociais.
No extremo oposto, destaca-se a Paraíba, com o pior índice de desenvolvimento humano. E surpreendente que o senador Humberto Lucena não cuide do seu estado com a mesma exação e rigor com que cuida da sua família, muito bem distribuída por cargos públicos no Legislativo e no Executivo, nas esferas federal, estadual e nas prefeituras.
Notícia
Jornal do Brasil