Notícia

Jornal da USP

"Um passo muito importante"

Publicado em 16 agosto 2004

Em entrevista à Rádio USP FM (93,7 MHz), a professora Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano do Instituto de Biociências da USP, comentou a aprovação, no dia 10, do parecer da Comissão de Educação do Senado, que altera o Projeto de Lei da Biossegurança e permite o uso de células-tronco embrionárias humanas em pesquisas científicas. A seguir, a íntegra da entrevista, levada ao ar no dia 12. Rádio USP - Como os cientistas receberam a aprovação do texto? Mayana Zatz - Estamos felizes. Ainda não ganhamos a guerra. Essa foi só a primeira batalha, porque o projeto ainda precisa passar por outras comissões. Mas, sem dúvida, é um passo muito importante, porque sabemos que as células-tronco embrionárias são células que têm o potencial de se diferenciar em todos os tecidos do corpo humano. E temos uma esperança enorme em que as pesquisas possam demonstrar que elas vão substituir tecidos, e mais tarde órgãos, em pessoas portadoras de doenças degenerativas ou que perderam órgãos por acidentes ou câncer, por exemplo. Achamos que isso pode representar o futuro da medicina regenerativa e um avanço muito grande nas técnicas que existem hoje de transplante de órgãos. Rádio USP - A senhora acredita que o Congresso pode voltar atrás nessa decisão e proibiras pesquisas com essas células? Mayana - Eu tenho esperança que não, mas, enquanto a lei não for aprovada em todas as instâncias, não podemos ter certeza. O que houve de avanço e de novidade a partir da votação na Câmara dos Deputados até esse parecer da Comissão de Educação do Senado, na minha opinião, foi uma campanha muito importante de esclarecimento. A imprensa teve um papel fundamental, porque tem dado muito apoio para essa causa e tem buscado, sempre que possível, explicar que o que nós queremos não é fabricar "fetinhos" para tirar órgãos, mas sim usar células-tronco de embriões que estão congelados em clínicas de fertilização assistida e vão ser descartados. Que não estamos querendo matar vidas, mas, muito pelo contrário, salvar vidas, se essas pesquisas derem certo. Outro ponto muito importante é que tivemos a chance de participar de uma audiência pública no Senado, em que nós explicamos exatamente o que seriam essas pesquisas e a extrema importância delas. Tentamos falar de uma maneira mais didática e isso teve uma importância fundamental, porque os senadores que estavam presentes foram unânimes em afirmar que, depois da nossa apresentação, eles mudaram de opinião. O que gostaríamos de fazer agora é ter a possibilidade de fazer essa mesma apresentação na Câmara dos Deputados, porque o projeto vai voltar para lá. Estou confiante em que, se tivermos essa chance, vamos mudar a cabeça de muitos deputados que votaram contra. Rádio USP - Se as pesquisas vierem a ser permitidas, de que forma isso mudará o seu trabalho? Mayana - Vai mudar imediatamente, porque atualmente nós trabalhamos com células-tronco adultas, mas temos toda a tecnologia para trabalhar com células-tronco embrionárias. No momento em que for aprovado, eu começo a trabalhar com elas. É muito importante deixar claro que isso não significa tratamento. Já tem pessoas que acham que vamos injetar essas células nelas. Não é isso. O que vamos fazer é começar as pesquisas no laboratório para verificar o potencial dessas células em se diferenciar em diferentes tecidos. Ainda teremos um tempo até poder usar isso no tratamento. Mas precisamos começar, com urgência.