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Um passo à frente na transição digital

Publicado em 04 junho 2013

Ser colunista do PublishNews, ao contrário do que se pode pensar, nem sempre é fácil. Hoje, por exemplo, é domingo, dia de jogo da seleção, e cá estou eu escrevendo. Mas tem horas que compensa: no fim de maio, participei do congresso da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU), que este ano teve o tema "Desafios da disseminação da informação e do conhecimento na era digital e do acesso aberto".

O convite era para participar de uma mesa sobre a internacionalização da produção intelectual brasileira, tópico que já mobilizou editoras no congresso de 2012. Afinal, é comum encontrar traduções de autores brasileiros de ficção no exterior; na não ficção, a coisa muda de figura - e isso inclui, claro, a não ficção acadêmica. Meu papel seria basicamente falar do digital como um caminho para essa internacionalização.

Boas surpresas

Cheguei ao evento achando que a conversa sobre digital teria de sair do básico, mas fui surpreendida logo de cara pela "banquinha" da SciELO Livros - e pelo imponente campus da PUC-PR, bem melhor estruturado que o de São Paulo e que nada fica a dever ao do Rio de Janeiro.

A surpresa aumentou após a conversa com Adriana Luccisano, supervisora do programa de e-books da SciELO. Lançado há pouco mais de um ano e contando por enquanto com apenas seis editoras, o SciELO Livros já tem números expressivos: até agora, já foram quase 3 milhões de downloads de seus cerca de 250 títulos gratuitos (veja exemplo aqui). Há também em torno de 80 títulos comerciais, vendidos por meio de parcerias com livrarias e distribuidores digitais como Kobo/Cultura (veja exemplo aqui).

A intenção é que a rede cresça nos próximos meses. Segundo Adriana, eles estão em conversas com Amazon e Google para aumentar o alcance do catálogo digital, que agrega os títulos das diversas editoras no formato OPDS (Open Publication Distribution System), um padrão aberto que facilita distribuir, descobrir e adquirir publicações eletrônicas.

Os títulos podem ser acessados de várias formas: como PDFs ou ePubs, online ou offline, na forma integral ou por capítulos, via computador ou por dispositivos móveis, com licença aberta ou comercial. Quem escolhe como disponibilizar cada título é a própria editora da obra.

Metadados, indexação e produção

Mas a maior surpresa veio quando perguntei como eles recebiam os arquivos digitais. A SciELO Livros não só recebe e distribui e-books: ela também ajuda as editoras na produção e indexação digital.

Por R$ 1 mil por livro, eles partem do PDF e preparam os textos em formato digital segundo padrões internacionais que permitem a leitura multiplataforma e o controle de acesso e citações. Isso inclui um trabalho de indexação que gera os metadados do livro e de seus capítulos, além do registro de todas as citações feitas na obra. Caso o título seja vendido, a SciELO fica com 50% das receitas acima de R$ 1 mil geradas pelos e-books.

Esses dados vão para uma base organizada para atender a buscas via internet ou via índices, sistemas e serviços especializados - tudo de modo a aumentar a visibilidade, o acesso e o impacto das pesquisas científicas de países emergentes e em desenvolvimento (a rede SciELO é dedicada a artigos e periódicos e inclui países da América Latina e Caribe).

A produção é feita internamente e por fornecedores treinados na metodologia da entidade, que conta com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). E o melhor: editoras de vários perfis podem pedir inclusão na rede. Basta enviar um e-mail e se adequar às regras dos comitês SciELO, que buscam títulos de caráter científico em todas as áreas do conhecimento. A solicitação passa por aprovação.

Uma nova opção no panorama digital?

Não sei o que vocês acham, mas parece uma boa alternativa para editoras que publicam esse tipo de conteúdo e querem experimentar com o digital sem criar uma estrutura para isso. Talvez seja o caso de algumas associadas da LIBRE, cujo presidente, Haroldo Ceravolo, estava no evento.

Já no caso das editoras escolares, associadas da Abrelivros, a SciELO Livros não é solução por causa da incompatibilidade de linha editorial, mas com certeza funciona como exemplo do que poderia ser uma plataforma comum de leitura e distribuição de e-books - algo que a associação vinha tentando formatar em resposta às exigências do MEC, mas que abandonou porque as editoras não chegaram a um denominador comum.

Em todo caso, se os números da rede SciELO são alguma indicação do que pode se tornar a SciELO Livros, as perspectivas são animadoras: desde 1998, a entidade acumula mais de 400 mil artigos e 9 milhões de citações. Todos os dias, cerca de 1 milhão de artigos são baixados do site deles.

Um passo à frente

Após todos esses detalhes, ficou bem mais fácil meu trabalho na mesa sobre digital e internacionalização, ao lado de Gilberto Castro, da editora Champagnat (PUC-PR), e de Carlos Gazzera, da associação universitária argentina REUN. O encerramento foi um churrasco a cargo do pessoal da Champagnat, que organizou o evento inteiro de maneira impecável.

Resultado: voltei de Curitiba com a certeza de que a transição digital das editoras educacionais brasileiras pode sim ser mais tranquila e rápida. Pelo visto, para avançar basta unir esforços e se organizar - como mostra o bom exemplo da ABEU e da SciELO Livros.

Até a próxima,

@gabidias