No dia 13 de outubro, palestrei no evento da SAP Setor Público, no México. Olhar para outras realidades sempre nos ajuda a repensar nossas próprias estratégias e as decisões que viemos tomando. E quando falamos de o e-Gov aprender e "não reinventar a roda" (como diz sempre a OEA) é uma excelente opção porque economizamos recursos e tempo de nosso país.
Além disso, os gestores públicos têm uma carga de responsabilidade muito maior que a de um gestor privado: se as iniciativas pontogov tivessem fracassado no mesmo ritmo que as pontocom, o impacto na sociedade como um todo teria sido desastroso. O setor público é mais responsável que o setor privado pelo dinheiro que gasta e está limitado por leis e regulamentações muito mais rígidas que o setor privado, pelo que suas decisões tem de ser muito mais cuidadosas. Por tudo isso, olhar e comparar nosso e-Gov com outras experiências se torna cada dia mais imperioso.
Quando vemos a construção do governo eletrônico no México, vemos que a estratégia tem sido bastante diferente. O que eles vêm discutindo e fazendo?
Em primeiro lugar é de fato uma prioridade para eles a implementação de GRP - Governamental Resources Planning - o que vem sendo feito em várias esferas de governo. O atual presidente do México, Vicente Fox, quando governador de Guanajuato, implementou no Estado o R/3 da SAP e agora o levou para a presidência. Além de Guanajuato,
esse software de gestão está implementado em várias esferas públicas, desde Capufe - Administração de Caminhos e Pontes Federais - até empresas de energia elétrica, água e esgoto, tendo hoje 38% do mercado de software de governo no País.
Isso, além de demonstrar uma estratégia diferenciada e correta dessa empresa para o setor público do país, demonstra também uma demanda e um caminho escolhido pelos gestores do setor público para desenvolver uma estratégia de e-Gov diferente da brasileira. Não é melhor nem pior, somente diferente. Começar o longo caminho de um e-Gov totalmente transacional pela integração e reformulação de processos tem uma série de vantagens: quando se chega à ponta de prestação de serviços para o cidadão, boa parte dos problemas está resolvida, já que há uma profunda integração e reestruturação da base de dados.
Escolher um software proprietário e desenvolvido por uma empresa privada é também uma decisão diferente que precisa ser avaliada, mas que de fato vem se mostrando como muito satisfatória em outras realidades.
Sabemos que como todo país continental, temos uma grande tendência para olhar para dentro e tentar resolver em casa nossos próprios problemas. Mas acredito que abrir esse olhar e compararmos com outras realidades similares é uma boa garantia de sucesso.
Florencia Ferrer é doutora em sociologia econômica pela USP, pesquisadora da FAPESP e consultora em implementação social da tecnologia
www.florenciaferrer.com. br
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