Depois de vinte anos de pesquisa, o professor Artêmio Luiz Zanetti, do Departamento de Clínica de Prótese Parcial Removível da Faculdade de Odontologia da USP, desenvolveu uma nova geração de moldeiras de arcadas dentárias. "Essa técnica visa maior precisão e simplicidade para se obter modelos de boca do paciente em articuladores", observa Zanetti.
A partir de setembro, essas moldeiras estarão disponíveis para os cerca de 150 mil dentistas que trabalham no País e serão fabricadas em plástico, barateando o custo do produto, que atualmente é feito de aço inox. Há dois anos, o professor associou-se com a empresa Teccom, que produz instrumentos para a área médica, com o objetivo de levar em frente o projeto Desenvolvimento da Moldeira de Transferência - Técnica Zanetti, que faz parte do Programa Parceria para Inovação Tecnológica (Pite) da Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Zanetti conta que durante as aulas observava o quanto os alunos encontravam dificuldade para obter boas reproduções, ou seja, modelos de arcadas dentárias. "Foi daí que resolvi partir para o estudo das dimensões dos arcos dentários do biótipo brasileiro. Tomei por base 400 arcadas, sendo 200 superiores e 200 inferiores, obtidas a partir de cem alunos de Odontologia da USP e cem da Universidade São Francisco, de Bragança Paulista, onde costumava lecionar".
Única sessão
Segundo Zanetti, todo tratamento odontológico requer planejamento, por isso é importante obter com precisão o modelo da boca do paciente, que será colocado num articulador - aparelho que simula a boca. "A partir daí conseguimos determinar os possíveis problemas de arcada, mordedura, etc.", conta.
A coleta da estrutura da arcada se faz com a moldeira carregada com uma massa maleável, que serve para a gravação da base dentária quando da necessidade de manufaturar um dente ou uma dentadura. Em seguida, a massa se solidifica e serve como parâmetro para os trabalhos protéticos. A partir de 1980, Zanetti estudou sete tipos de moldeiras - cinco importadas e duas nacionais - comumente usadas na prática odontológica. Como resultado, pôde observar que o problema enfrentado pelos alunos estava na incompatibilidade das dimensões das moldeiras com os arcos dentários estudados.
O professor lembra que nenhuma das moldeiras servia corretamente na boca do paciente. "Foi então que constatei que nós, dentistas, não tínhamos à mão uma ferramenta adequada para fazer um bom trabalho."
Com o tempo, Zanetti conseguiu desenvolver uma técnica que permite que o dentista possa realizar, numa única sessão, todo o trabalho que normalmente levaria o paciente a se apresentar no consultório várias vezes. O segredo está no articulador, uma ferramenta indispensável para a captação das medidas dos pacientes. "É através dessa ferramenta que se consegue a precisão tão desejada, e o dentista, logo que sai da faculdade, deixa de usá-la por questão de praticidade."
Esse aparelho tem o objetivo de medir a posição dos maxilares do paciente e as características de sua oclusão, ou seja, a maneira como ele fecha a boca. "Através das novas moldeiras", observa Zanetti, "tanto o dentista como o paciente poderão obter um resultado eficiente e seguro".
Apaixonado pela profissão, Zanetti diz que hoje é inviável colocar um paciente na cadeira, fazê-lo abrir a boca e não obter informações exatas. "Antes de iniciar qualquer tratamento é preciso fazer uma tomada de radiografia expressiva e obter modelos da arcada dentária do paciente; inclusive faz-se um protótipo de reconstrução do modelo. A partir daí, traça-se um plano de tratamento. "Hoje não se trata apenas o dente. É preciso entender como a boca funciona, os ossos, músculos, nervos. Resumindo, deve-se fazer um estudo craniomandibular do paciente."
A Teccom, responsável pela manufatura das moldeiras de transferência, fez um levantamento entre 150 dentistas do País para detectar quantos usam o articulador. Constatou que apenas 16 mil ainda praticam a reabilitação oral usando articuladores.
Para o desenvolvimento do kit de moldeira de transferência estão sendo investidos através da Fapesp R$194 mil e a empresa se responsabiliza por R$ 96.250,00.
Zanetli é especialista em reabilitação oral. Embora recém-aposentado da Universidade de São Paulo, não deixou de atuar como professor. Atualmente é titular da graduação e pós-graduação da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) e da Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo). Atua ainda como diretor do Centro de Estudos de Implantes Ósseos Integrados. Esse centro foi recentemente homenageado com o 1° lugar nos pôsteres apresentados durante o First Dyna Internacional Congress, na Holanda.
Notícia
Jornal da USP