A Praça da República, no centro de São Paulo, o Parque da Independência, no Ipiranga, o, o Parque Trianon, na avenida Paulista, não são apenas mais três simples espaços verdes da cidade de São Paulo. Eles têm também virias outras características em comum do ponto de vista paisagístico.
Um estudo inédito sobre os quadros do paisagismo brasileiro - Projeto Quapá -, que paisagistas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) concluíram em sua primeira parte, teve como principal objetivo resgatar a história e as características históricas de milhares de espaços públicos brasileiros.
Ao todo, na fase inicial, 1.200 projetos paisagísticos, em 17 cidades, foram analisados pelos pesquisadores da FAU. Na cidade de São Paulo, que também estará na segunda fase do projeto por causa da grande quantidade de espaços públicos, o grupo estudou 100 parques e 200 praças. Além da capital, Santo André, na Grande São Paulo, é a outra cidade que também foi abordada por causa da sua consistente produção.
O Trianon, a República e o Independência apresentam características do ecletismo, explica o arquiteto Mauro Font, um dos pesquisadores do projeto. Pertencem ao período eclético todos os parques e jardins criados com inspiração nas obras francesas do século XIX.
São tradicionais nos projetos dessa época cenários bucólicos onde as águas cruzam caminhos orgânicos cercado de verde. O Jardim da Luz e os jardins da Quinta da Boa Vista, segundo Sílvio Soares de Macedo, professor da FAU, no documento Quadro do Paisagismo no Brasil, também são exemplos dessa escola francesa. As construções do período eclético - elas podem ainda ser dividas em românticas e clássicas - datam normalmente do início do século, época em que a influência francesa ainda era muito grande. . A maioria das obras estudadas pela primeira vez pelos integrantes do Projeto Quapá - muitas apresentavam registros imprecisos até nos órgãos públicos - mostra a influência de Roberto Burle Marx, o grande nome da história do paisagismo brasileiro. Apesar da fraude produção e da influência que ele teve nos projetos, a grande intenção do Quapá é mostrar também o trabalho de vários outros paisagistas brasileiros que existem em diversas cidades, explica Francine Salcata. Na Grande São Paulo, exemplos típicos da obra de Burle Marx são a praça IV Centenário, onde fica o Paço Municipal de Santo André, e a praça em frente ao metro Paraíso decorada como um mosaico português pelo próprio Burle Marx. Diferente do Rio de Janeiro, onde a tradição paisagística, desde a época que eles eram capital do império, é grande. São Paulo não tem muita tradição nesse segmento de projetos, diz Font.
Segundo o arquiteto, um dos problemas detectados também pelo grupo no Quapá é que parte da produção paisagística da cidade está hoje escondida pelo asfalto. Como exemplo, Font cita o caso do Parque D. Pedro II, região central de São Paulo. O projeto original era muito diferente. Existia até um pequeno lago, uma vez que o rio Tamanduateí não era ratificado. Hoje, explica, o Parque D. Pedro está escondido por causa de vários viadutos que passam por cima dele. Além disso, o terminal de ônibus que tomou conta do espaço público é um dos maiores do mundo.
Além das linhas ecléticas e modernas, o estudo também encontrou alguns projetos arquitetônicos classificados de contemporâneos. A principal característica dessas obras - como o novo Vale do Anhangabaú - é não ter uma linha projetual muito definida.
Os projetos mais recentes, que visam à conservação de grandes trechos de ecossistemas ainda íntegros, estão dentro da linha contemporâneo-ecologista. Nesta linha também são citados pelo arquiteto dois exemplos que ligam o espaço público de São Paulo a iniciativa privada. Tanto o Parque Burle Marx, no Morumbi, como o Centro Empresarial Conceição, no Jabaquara, mostram uma boa relação entre público e privado, salienta Font.
Apesar das ruas e avenidas de São Paulo passarem cada vez mais sobre os espaços públicos. Font salienta que o ícone de São Paulo em termos de praça, a da Sé, surgiu por causa do metro.
Os arquitetos aguardam patrocínio para divulgar o que seria o primeiro estudo de paisagismo nacional. Parte do resultado estará exposta na IV Bienal de Arquitetura, de 20 de novembro a 25 de janeiro de 2000.
Notícia
Gazeta Mercantil