WASHINGTON - A comemoração do Dia da Terra, amanhã, tem tudo para ser sombria. Os ecossistemas no planeta continuam se deteriorando em quase todas as categorias, segundo um novo relatório publicado para a ocasião pelas Nações Unidas. O relatório aponta as condições ambientais "da água que bebemos, do ar que respiramos, e das florestas que sustentam toda a vida".
"Há muitos desafios pela frente", disse Elizabeth Dowdeswell, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep), ao JORNAL DO BRASIL. "Já não basta trabalharmos na esfera oficial. O governo pode apenas estabelecer uma base de ação. Nada suplantará o poder dos indivíduos, tomando as coisas em suas próprias mãos, mudando suas atitudes e modos de agir no dia-a-dia. De alguma forma, isto tem um impacto no mundo inteiro", disse Dowdeswell. Segundo ela, já existem hoje nos países em desenvolvimento cerca de 25 mil organizações não-governamentais trabalhando para proteger o meio ambiente.
Ainda assim, a situação não é boa. Pelas estimativas dos cientistas, entre 5% e 20% das espécies de plantas e animais estão ameaçados de extinção no futuro próximo. Cerca de 80 países, com 40% da população do mundo, sofrem com falta d'água, o que ameaça a indústria, a agricultura e a saúde dos habitantes.
De acordo com o relatório, a poluição diminui nos países industrializados, mas continua aumentando no Terceiro Mundo e em 54 cidades monitoradas pela Unep. Uma destas cidades é o Rio de Janeiro, que apresenta níveis de poluição "inaceitáveis". Finalmente, o documento ressalta que as florestas tropicais estão sendo destruídas 50 vezes mais rapidamente do que há 10 anos.
O buraco do ozônio sobre a Antártida atinge anualmente o tamanho dos Estados Unidos, aumentando o perigo de raios UV-B que atravessam, à estratosfera, e podem causar câncer da pele, além de ameaçar a existência de certas espécies. O problema da chuva ácida ameaça as florestas. A Unep calcula que a Europa já perdeu 20% de sua cobertura de florestas devido a chuva ácida, causada pela presença de poluentes na atmosfera.
Em termos de biodiversidade, calcula-se que de 150 a 200 espécies são extintas a cada 24 horas. De aproximadamente 100 milhões de espécies existentes no planeta, apenas cerca de 1,7 milhão foram identificadas até hoje. Para a indústria da biotecnologia, as espécies perdidas representam tesouros médicos em potencial que nunca serão descobertos. Estima-se que 60% dos remédios são derivados de plantas.
A importância do Brasil na questão ambiental está na água. O país tem 13% do fornecimento renovava de água potável do planeta (apenas 0,008% da água da Terra é potável). Segundo a Unep, 1,2 bilhão de moradores urbanos no planeta não tem acesso à água e 1,4 bilhão não tem esgoto. O relatório da Unep também nota a deterioração dos solos devido a erosão.
"Essa situação deve piorar antes de melhorar", avisou Dowdeswell. "A população do Terceiro Mundo deve crescer 50% nos próximos 25 anos. Mas é interessante notar que, se países como o Brasil têm megacidades problemáticas, como o Rio e São Paulo, também há casos como o de Curitiba, que é modelo urbano para o mundo inteiro", ressalva.
A chave para a mobilização da humanidade à favor do meio ambiente é a conscientização das conexões entre o bem estar do planeta e a prosperidade econômica. "Nós não seremos capazes de sustentar o crescimento econômico se destruirmos o meio ambiente e os recursos naturais", diz Dowdeswell. Este pensamento já chegou ao Banco Mundial. A instituição está promovendo um movimento para incorporar nas contas nacionais uma nova variável: o valor do estoque de recursos naturais de cada país.
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Jornal do Brasil