As doenças do coração são a maior causa de morte dos norte-americanos. Matam 750 mil deles a cada ano; o diagnóstico e tratamento dessas doenças custam, por ano. US$ 100 bilhões. Antigamente, os únicos instrumentos com que os médicos contavam para ajudá-los nesses diagnósticos eram seus estetoscópios e sua intuição. Depois, tiveram o eletrocardiógrafo. Agora contam com opções de sobra. Com a chegada dos "scanners de tálio" (que utilizam um isótopo radiativo para acompanhar a corrente sangüínea através do músculo), cateteres cardíacos (usados para injetar um corante que torna as artérias coronárias visíveis ao raio X) e ecocardiografia (que ricocheteia ondas sonoras nos contornos do músculo cardíaco), os médicos podem examinar seus pacientes até se cansar.
Essa variedade, no entanto, exige seu preço. Como nenhum método serve exatamente para a mesma finalidade do outro, muitos pacientes são examinados com vários deles - um processo que pode levar dias. E, pelo menos nos Estados Unidos, a série completa de exames pode custar mais de US$ 4 mil. Finalmente, há um preço em termos de segurança. O tálio é uma substância complicada, mesmo que seja usada em pequenas quantidades. O mesmo ocorre com o corante usado na cateterização cardíaca. Os examinados podem manifestar uma reação alérgica potencialmente fatal ou, ainda, sofrer um colapso renal ou um derrame cerebral.
Em um mundo melhor, essa variedade de técnicas arriscadas seria substituída por uma única técnica segura. Em um mundo ideal, essa técnica também seria mais veloz e mais barata. Uma das sessões da conferência deste ano da Associação Americana para o Progresso da Ciência ano sugere que esse mundo possa estar próximo.
EXAMES RÁPIDOS
A nova técnica é uma sofisticação de uma técnica antiga. A imagem de ressonância magnética (MRI) é um modo popular de ver dentro do organismo porque, ao contrário do raio X, pode revelar detalhes de tecidos moles. Funciona por meio de escaneamento dos prótons que formam o núcleo de átomos de hidrogênio. Como cada molécula de água tem dois átomos de hidrogênio e 70% do corpo é formado de água, existem muitos átomos para escanear. A medida que os prótons nucleares giram, eles geram um campo magnético. A MRI funciona mediante o uso de um enorme magneto para forçar a maioria dos prótons a girar no mesmo sentido. Depois provoca o desalinhamento dos prótons com impulsos de ondas de rádio. Isto leva os prótons a emitirem maior número de ondas de rádio, e mais diferentes umas das outras, à medida que o magneto da máquina MRI os força ao alinhamento novamente. Essas emissões podem ser captadas, processadas por um computador e mostradas como uma imagem nítida dos movimentos do coração, vistos de dentro.
Infelizmente, a MRI normal não é muito veloz - sem dúvida, não é suficientemente rápida para acompanhar os movimentos do coração enquanto este bate e move com cada respiração do paciente. Agora, entretanto, existe a MRI cardíaca (CMRI). É uma versão melhorada que usa impulsos de rádio mais velozes e maior capacidade de computação para produzir uma imagem de movimento acelerado do funcionamento interno do coração.
A CMRI, como muitas vitórias, tem uma centena de pais. Um importante componente dela, no entanto, foi inventado por Elias Zerhouni, agora na Universidade Johns Hopkins, de Baltimore. Zerhouni não falou na conferência da associação científica. Mas um colega, Elliot McVeigh, elogiou a técnica.
A manipulação do miocárdio é uma maneira de usar a CMRI para examinar o movimento das paredes do músculo. É especialmente eficiente para detectar alterações no batimento do ventrículo esquerdo, a câmara do coração que bombeia o sangue pelo corpo. A redução da potência nessa câmara é um forte indício de problemas coronário-arteriais. McVeigh já está usando a técnica rotineiramente para essa tarefa. Mas ele pode fazer mais. Sua equipe está desenvolvendo um complemento especial que tornará mais fácil descobrir se um estreitamento da artéria coronária se deve ao crescimento fibroso ou a um depósito de gordura - uma distinção faz uma grande diferença na escolha da forma como o bloqueio será tratado.
A CMRI ajudará de outras maneiras. A avaliação do tamanho e da importância de um bloqueio coronário geralmente é difícil, e uma artéria bloqueada pode ter sido contornada naturalmente pelo desenvolvimento de vasos sangüíneos colaterais, reduzindo a ameaça que o bloqueio oferece. Freqüentemente, esses vasos são pequenos demais para serem visualizados, com o uso de técnicas tradicionais, mas a CMRI consegue detectá-los com facilidade. Como conseqüência, a corrente sangüínea e o fornecimento de oxigênio ao músculo do coração podem ser medidos diretamente e não inferidos com base no tamanho de um bloqueio coronário. Portanto, fica mais fácil determinar com exatidão até que ponto o bloqueio é realmente crítico.
A CMRI, que requer apenas que um paciente fique deitado e quieto dentro de um cilindro metálico, deve reduzir o tempo exigido para examinar bloqueios coronários, de vários dias para cerca de uma hora.
De fato, McVeigh espera em breve reduzir o exame para alguns minutos, permitindo a muitos pacientes usar uma única máquina.
E, embora seu preço de US$ 250 mil não seja baixo, os acessórios exigidos para a CMRI podem ser instalados numa máquina MRI de hoje, sem grande dificuldade. Uma nova, em contraste, poderia custar até US$ 2 milhões. É uma boa notícia para os administradores hospitalares sem coração, de todos os países.
Notícia
Gazeta Mercantil