Um amontoado de ferro retorcido e queimado. É o que restou da Torre Móvel de Integração e do Veículo Lançador de Satélite (VLS-1), no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). A torre e o foguete brasileiros foram destruídos pelo fogo ocasionado por uma ignição no motor do primeiro estágio do veiculo.
A área do acidente está cercada e apenas os peritos que investigam o acidente podem se aproximar dos destroços. Os primeiros procedimentos são de fotografar e observar os destroços da torre que está caída sobre o foguete, de difícil visualização. Em algum momento pode ter ocorrido uma explosão intermediária, pois o quarto estágio (a parte de cima) foi encontrada a menos de 30 metros da plataforma, de acordo com o brigadeiro Thiago Ribeiro, coordenador da operação.
Na ocasião do acidente, o foguete estava dentro da torre móvel. A torre tinha 32 metros de altura e o foguete 20 metros, instalado sobre uma base de quatro metros. Com o calor - de cerca de três mil graus - a torre envergou, encobrindo o foguete. Em virtude do vento, o fogo também se espalhou pela grama e mato próximos, num raio de 50 metros.
As imagens do CLA mostram que a queima foi iniciada no primeiro estágio. Em seguida todos os outros três estágios do foguete queimaram. O veiculo estava abastecido com combustível sólido. O fogo se propagou rapidamente de baixo para cima - tempo estimado de dois minutos. Dois técnicos conseguiram deixar a torre com vida porque estavam no andar térreo e correram.
"Houve uma iniciação no motor do primeiro estágio. Agora, temos que saber se foi só este motor, como que ele iniciou a ignição e o que aconteceu com os outros (estágios)", disse o brigadeiro.
"NÃO HÁ INDÍCIOS DE SABOTAGEM", DIZ MINISTRO
Gisele Teixeira - de Brasília
O ministro da Defesa, José Viegas Filho, afirmou ontem que não se pode vincular a escassez de recursos ao acidente ocorrido na Base de Lançamento de Satélites de Alcântara, no Maranhão, na última sexta-feira. Ele ressaltou que se fosse por falta de dinheiro, o projeto não teria evoluído a ponto de estar perto de ser lançado. O Veiculo Lançador de Satélites (VLS-1 V03) deveria ter partido ontem, mas o foguete explodiu na plataforma de lançamento, matando 21 pessoas. No final de semana, o ministro de Ciência Tecnologia, Roberto Amaral, chegou a afirmar que a falta de dinheiro seria um dos "componentes da tragédia".
O orçamento deste ano da Agência Espacial Brasileira (AEB) é de R$ 35 milhões e, segundo Viegas, ainda não há nenhuma decisão sobre reforço de verbas para 2004 e de quanto seria necessário para a retomada do Programa Espacial Brasileiro. Ele garantiu, no entanto, que o projeto vai prosseguir.
No momento, duas investigações estão sendo realizadas segundo Viegas: um inquérito policial-militar, com prazo de 40 dias para ser concluído, que investigará as responsabilidades no acidente, e uma investigação conduzida por uma comissão de técnicos do Centro Tecnológico da Aeronáutica, de São José dos Campos, e do Centro de Lançamento de Alcântara, que avaliará as causas técnicas.
Segundo Viegas, ainda não há previsão de um laudo conclusivo sobre as causas do acidente e todas as hipóteses estão sendo examinadas. Mas ele ressaltou que "não há indícios de sabotagem". A informação preliminar é de que houve uma ignição que levou à explosão do combustível sólido causada por uma onda eletromagnética, por uma descarga elétrica ou pelo toque involuntário de uma peça metálica no reservatório de combustível.
O ministro disse que a estratégia de retomada do PEB começa a ser gestada esta semana. "É natural que haja algum atraso no programa, o que será compensado na medida em que tenhamos recursos humanos e materiais para seu prosseguimento", disse. Mas destacou que não haverá atrasos na negociação com outros, países como, por exemplo, a Ucrânia para utilização comum da base. Viegas disse estar ainda sob o trauma da tragédia, mas lembrou que "não se faz um programa espacial sem acidentes."
O projeto VLS, apesar dos obstáculos, traz resultados. Na área de materiais, o VLS produziu as estruturas dos motores com um aço especial (300 M), duas vezes mais resistente e mais leve que os convencionais. Outra conquista foi a implantação de uma usina para a produção e o carregamento de propelentes sólidos.
Notícia
Gazeta Mercantil