Presidente do IIE vai ao G-8 nos dias 24 e 25 de março, denunciar a contaminação da água por anabolizantes, antibióticos e outros produtos farmacêuticos e químicos
O presidente do Instituto Internacional de Ecologia, professor José Galizia Tundisi, limnólogo que desenvolve pesquisas sobre mecanismos de funcionamento de lagos, rios, reservatórios e estuários no Brasil, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, está comemorando em 2011, um total de 40 anos de pesquisas na Represa do Lobo, mais conhecida como Broa, que fica entre os municípios de Itirapina e Brotas.
"A represa do Broa é hoje internacionalmente conhecida e tem um volume extraordinário de trabalho ecológico, biológico, climatológico e hidrológico. A presença de um sistema como este na nossa região tem um papel muito grande. A represa foi fundamental para o estudos de sistemas aquáticos, para estudar a interação entre sistemas aquáticos e bacias hidrográficos e, ao mesmo tempo, dar condições para recuperação de sistemas aquáticos. Faço questão nas minhas palestras de enfatizar o Broa".
Tundisi afirma que não é nada fácil se encontrar no Brasil um sistema aquático que agregue quatro décadas de estudos e que tenha um grande volume de informações. "Vivemos hoje o momento de uma aplicação maior para a recuperação e manutenção deste sistema. Então, este é um ponto importante para o qual queria chamar a atenção. Quero destacar, neste processo, os nomes do professor de Hidráulica e Saneamento da USP, Rui Carlos de Camargo Vieira, que idealizou uma parte do projeto Broa; o professor Macanho, dos Estados Unidos, que fez o chamado Relatório Macanho, que instrumentalizou a pesquisa na represa e o professor Heitor Gorgolino, que foi reitor da UFSCar e aprovou os trabalhos de pesquisa na represa logo que eu cheguei a São Carlos em 1971".
Ele ressalta que a atuação destes quatro professores pioneiros possibilitou uma grande efervescência de trabalhos junto a estudantes tanto da USP quanto da UFSCar, que atuaram em pesquisas ligadas ao Broa. "Muitos alunos e professores tiveram oportunidades. Então, estes quarenta anos representam um marco muito importantes para a área de recursos hídricos do Brasil , para a área de gestão e pesquisa de recursos hídricos e para a cidade de São Carlos e as universidades instaladas no municípios".
De acordo com Tundisi, a importância da Represa do Broa está no fato de ela estar numa região de cerrado. "É uma represa de porte bastante amigável do ponto de vista de acesso para se fazer pesquisa. Ela se encontra ainda numa situação de pouca contaminação. Ela é uma das poucas represas do Estado de São Paulo com baixo grau de contaminação. Já era assim há 40 anos, quando começamos as pesquisas e continua até hoje desta forma. Então, é importante para servir de referência para outras represas já degradas".
Tundisi revela que na Represa do Lobo é possível se realizar pesquisas de climatologia, hidrologia, bacias hidrográficas, toda a biota aquática, composição química dos sedimentoes, composição química da água, o cerrado no entorno da empresa, as plantas aquáticas. "Enfim, todos os campos da biologia aquática, ecologia, climatologia e hidrologia e gestão foram abordados nestes estudos de forma interdisciplinar e integrada, de forma que isso tem um papel bastante importante do ponto de vista de estudo interdisciplinar também".
O fato da represa ser um dos principais pontos de recreação também é ressaltado pelo professor Tundisi. "Tem muita gente que mora lá, [existem áreas e casas para recreação, praias para recreação. Ela é importante para toda a região. Por isso que este projeto de gestão integrada da bacia, intitulada "Viva o Broa" tem um papel relevante".
Novo Código Florestal é ameaçãdo - O professor José Galizia Tundisi é contra o novo Código Florestal que reduz as áreas de floresta para ampliar a área plantada do Brasil. Para Tundisi, a ampliação da oferta de alimentos deve se dar via tecnologia e produtividade e não sacrificando mais uma vez o meio ambiente. Segundo ele, da forma como está no Congresso Nacional, o projeto do novo Código Florestal tem características predatórias para a natureza.
"Já escrevi vários trabalhos e já dei palestra sobre isso. A agricultura brasileira não pode aumentar a produção reduzindo a área florestada. Ela tem que ampliar a eficiência no campo e não reduzindo as áreas de mata. O Código Florestal reduz as florestas ripárias a uma condição mínima, faz isso, reduz os mosaicos de vegetação às bacias hidrográficas , elimina as várzeas. Todos estes sistemas são importantes sistemas-tampão para manter o funcionamento do ciclo hidrológico, das bacias hidrográficas, e, portanto, o avanço da área plantada sobre estes sistemas irá alterar o ciclo de água diminuindo sua oferta. As florestas são muito importantes para a recarga dos aqüíferos. Alterar o Código Florestal é alterar uma série de ciclos no Brasil, que vai gerar conseqüências sérias mais tarde", explica o professor.
Tundisi disse que já levantou o problema na Academia Nacional de Ciências e na Fapesp e está aguardando o início do debate em Brasília para conversar com os deputados. "Vamos tentar impedir esta insanidade. Alterar o Código Florestal nos termos colocados é isso: uma insanidade! Deve ser tratado como uma ameaça".
Palestra para o G-8 - Nos dias 24 e 25 de março, o professor Tundisi estará em Paris, capital da França, na Academia de Ciências, para ministrar uma palestra para membros do G-8 (grupo dos oitos países mais ricos do mundo, formados por Estados Unidos, França, Canadá, Alemanha, Reino Unido, Japão, Itália e Rússia) sobre a questão da água. Tundisi vai apresentar um projeto para descontaminar a água em todo o planeta. Segundo o pesquisador hoje a água está contaminada em todos os países com antibióticos, anabolizantes e outros tipos de produtos. Ele vai propor a criação de núcleos de pesquisa em várias regiões do planeta para buscar soluções para este problema. O trabalho inicial será para identificar tudo o que existe hoje na água que a população está consumindo atualmente. Segundo ele, o orçamento é modesto e chega a US$ 20 milhões. " A água está com muitos hormônios, resíduos de remédios e outras substâncias que saindo na urina humana acabam na água, que são poluentes orgânicos persistentes".
O segundo tema é a questão de água e esgoto. "Vamos discutir também saneamento básico, pois há uma grande deficiência na América Latina, no Sudeste da Ásia e na África. Vamos debater a qualidade de vida da população. Iremos estimular os países ricos a apoiar ações de saneamento básico".