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Tumores de cabeça e pescoço positivos para HPV são menos agressivos (1 notícias)

Publicado em 04 de julho de 2012

UOL Notícias

Uma pesquisa feita na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) sugere que tumores de cabeça e pescoço positivos para o papiloma vírus humano (HPV), que têm aumentado, são menos agressivos. A pesquisa considerou dados de 1.475 pacientes que participaram de dois grandes estudos multicêntricos.

Todos eram portadores de tumores do tipo carcinoma epidermoide. A localização variava entre cavidade oral, orofaringe (amígdala), hipofaringe (parte da garganta logo após a amígdala) ou laringe (parte final da garganta, perto do esôfago).

O estudo mais antigo, realizado entre 1998 e 2003, foi coordenado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês) em cinco cidades brasileiras, além de Buenos Aires e Havana, e avaliou a relação do câncer com hábitos de vida como alimentação, fumo, consumo de álcool e práticas sexuais. Para a pesquisa feita por Rossana Verónica Mendoza López foram usados apenas dados de Goiânia, Rio de Janeiro e São Paulo.

O segundo estudo, intitulado Genoma do Câncer de Cabeça e Pescoço (Gencapo), foi realizado entre 2003 e 2010 com o objetivo de identificar biomarcadores para a doença.

Segundo López, foram feitos dois tipos de testes para verificar a prevalência da infecção pelo HPV entre os 1.475 pacientes: sorologia e análise de DNA. Mas, para este último, foram conseguidas amostra do tecido tumoral em apenas 542 casos.

Nos testes sorológicos, os pesquisadores investigaram a presença de anticorpos (E1, E2, E4, E6, E7, L1) para 11 dos quase 200 tipos de HPV existentes. Considerando os resultados apenas para o HPV do tipo 16 - o mais relacionado ao desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço -, a prevalência de casos positivos entre os pacientes do estudo da IARC foi de 55%. Já no estudo mais recente o índice saltou para 72%.

Nas análises de DNA do tecido tumoral, a prevalência do HPV 16 cresceu de 1% entre os casos do estudo mais antigo para 6,7% no estudo Gencapo. Apesar de a distância entre os dois estudos não ser longa, afirmou a pesquisadora, pode-se afirmar que no período de uma década houve aumento da prevalência do HPV 16 entre pacientes com tumores de cabeça e pescoço.

Menos letal

Também foi avaliada nos testes sorológicos a presença de anticorpos para as oncoproteínas E6 e E7, relacionadas à invasão tumoral e à replicação do vírus. Ao analisar a sobrevida dos pacientes, os cientistas observaram que, entre aqueles que apresentaram resultado positivo para o HPV 16 e para a proteína E6, a mortalidade foi 38% menor.

Quando o resultado foi positivo para o HPV 16 e para as duas proteínas - E6 e E7 - a redução na mortalidade foi de 66%. Se considerados apenas os casos de câncer na orofaringe - os mais associados à infecção por HPV e à prática de sexo oral -, a mortalidade foi 83% menor.

Segundo Victor Wünsch Filho, professor da FSP/USP e orientador da pesquisa, o perfil demográfico e de hábitos de vida dos pacientes que apresentaram resultado positivo para as oncoproteínas E6 e E7 do HPV 16 é uma possível explicação para o melhor prognóstico.

De acordo com Filho, eles formam um grupo de pacientes mais jovens, com maior proporção de mulheres e menor proporção de fumantes.

A pesquisa revelou também que a presença das proteínas E6 e E7 do HPV 16 foi mais frequente entre os pacientes que afirmavam praticar sexo oral, principal forma de contágio do HPV.

Para Luisa Lina Villa, diretora do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, as evidências existentes até o momento sugerem que há mais mutações genéticas nos casos de câncer associados ao consumo de álcool e de cigarro, o que contribuiria para o desenvolvimento de tumores mais agressivos quando comparados àqueles causados pelo HPV.

Segundo López, embora as evidências apontem que o HPV esteja se tornando uma causa mais comum de câncer de cabeça e pescoço, o consumo de tabaco e de álcool ainda responde pela maioria dos casos.

(Com Agência Fapesp)