O Brasil quer intercambiar material genético com a Índia. O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) explicou a este jornal que essa será a primeira área na qual indianos e brasileiros trabalharão em conjunto.
No ano passado, a Embrapa assinou um memorando técnico com o Indian Council for Agricultural Research (ICAR, Conselho Indiano para a Pesquisa Agrícola). Alberto Portugal, que acompanha o presidente Fernando Henrique Cardoso em sua visita à Índia, começou a detalhar, com os indianos, as principais áreas de interesse comum. Está sendo criado, para isso, um comitê de gestão do programa.
Na área genética, o Brasil gostaria de conhecer novas espécies desenvolvidas pelo ICAR. "Os dois países estão numa mesma faixa de clima (tropical e subtropical) e as agriculturas são parecidas", explicou ele. Portugal citou o interesse em espécies melhoradas de algodão, frutas, hortaliças e especiarias, como o cravo-da-índia. Em contrapartida, a Embrapa repassaria aos indianos os resultados de suas próprias pesquisas, como uma variedade de milho (BR 453) mais rico em proteínas.
Outras duas áreas importantes, na opinião de Portugal, são a pecuária (em que também será assinado um acordo, permitindo a importação de sêmen e embriões bovinos) e a biotecnologia. Os indianos, entre os países em desenvolvimento, estão bastante adiantados nessa área. O Brasil tem interesse em espécies resistentes a pragas, obtidas por meio da engenharia genética.
Também será assinado um memorando de entendimento técnico para a cooperação em ciência e tecnologia. Conforme explicou o ministro Israel Vargas, da Ciência e Tecnologia, nele estarão contempladas as áreas de ciências do mar (na construção de equipamentos de pesquisa), biotecnologia e novos materiais para o desenvolvimento de super-condutores de energia.
EMPREGO
Em conversa com os jornalistas, já de volta a Nova Delhi, o presidente disse que, para diminuir o desemprego no Brasil, vai ser preciso reativar setores intensivos em mão-de-obra, como a construção civil. "Com o crescimento que teremos neste ano, de 5%, esse problema vai diminuir", completou ele. Cardoso explicou, também, que a Índia e o Brasil, como os Estados Unidos, estão mais protegidos do que a Europa dos efeitos que a globalização da economia produz sobre o emprego. "Na Europa, as sociedades são mais homogêneas e uma mudança tecnológica afeta a todo mundo, produzindo ondas de desemprego. No Brasil e na Índia, como nos Estados Unidos, as diferenças sociais fazem com que os impactos sejam localizados", como no caso da indústria automobilística, onde os ganhos de produtividade aconteceram à custa do emprego no setor. (R.M.)
Notícia
Gazeta Mercantil