Crianças que sofreram um evento traumático na infância tendem a desenvolver transtornos psiquiátricos quando adolescentes, de acordo com uma pesquisa desenvolvida por uma equipe composta por cientistas do Reino Unido e do Brasil.
Publicado na revista científica The Lancet Global Health nesta quarta-feira (29), o estudo se baseou em informações da Coorte de Nascimentos de Pelotas, Brasil, de 2004, que acompanhou mais de 4.000 crianças nascidas em Pelotas (RS) do nascimento aos 18 anos.
A análise se baseia em como exposição ao trauma desde a infância altera o risco de transtornos de saúde mental durante a adolescência. Aos 18 anos, um terço de todos os transtornos mentais foram potencialmente explicados pela exposição ao trauma.
Os resultados mostraram que, ao atingir a maioridade, 8 1% dos adolescentes foram expostos a algum trauma , como testemunhar um crime violento, abuso ou negligência.
Quanto mais variados os tipos de traumas vivenciados, maiores as chances de os adolescentes desenvolverem problemas de saúde mental, particularmente ansiedade, transtornos de humor e conduta.
Em comunicado à imprensa, a autora brasileira do estudo, Alicia Matijasevich, da Universidade de São Paulo, disse que essa pesquisa "é criticamente importante devido às suas profundas implicações para a saúde mental e o desenvolvimento emocional".
Além disso, ela destacou que as evidências servirão para orientar estratégias preventivas e intervenções que podem mitigar as consequências de longo prazo das experiências negativas.
Iniciativa brasileira
Em 2017, em Pelotas, foi lançado o programa de intervenção chamado Pelotas Pact for Peace com o intuito de reduzir o crime e a violência urbana por meio de projetos de saúde, educação e justiça criminal.
Embora mais pesquisas sejam necessárias para estabelecer se ela também reduz a prevalência de problemas de saúde mental em jovens, as primeiras avaliações da iniciativa mostraram taxas mais baixas de crimes violentos após a implementação.
Por Júlia Putini
Fonte: The Lancet Global Health